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A edição de 2017 do Festival Terras sem Sombra realiza o seu concerto de encerramento em Beja, amanhã, sábado, 17 de Junho, com um programa que apresenta música de Bach, interpretada por Michel Corboz, figura mítica da música europeia, e pelo Coro Gulbenkian e solistas da Orquestra.

Durante esta temporada, com a duração de sete meses, que apresentou um muito intenso e concorrido ciclo de música, a par do património e da biodiversidade em sete concelhos alentejanos, escolhidos a dedo, o festival apresentou solistas e agrupamentos de referência internacional num programa, estratégico para a afirmação do Alentejo como destino de arte e natureza, em que Espanha foi o país convidado.

A iniciativa abriu as portas, pela primeira vez, de palácios, igrejas, conventos, mosteiros e outros locais raramente acessíveis ao público e pôs em evidência aspetos fundamentais do património natural da região do Baixo Alentejo, mobilizando artistas, opinion makers e voluntários para a sua salvaguarda.

 

Catedral de Beja

No maior edifício de Beja: o Colégio dos Jesuítas, hoje Comando Territorial da GNR

A visita da tarde de sábado inicia-se às 14h30 e tem a catedral como ponto de encontro. O alvo da visita, sob a orientação do historiador da arte José António Falcão, é uma obra-prima da arquitetura jesuítica, o antigo colégio de S. Francisco Xavier ou “Seminário Velho”.

Este edifício, que continua a ser o mais vasto de Beja, está intimamente ligado à história da cidade, a começar pelas circunstâncias que rodearam a sua fundação.

Irradiando de Évora, onde estavam à frente da Universidade, os padres da Companhia de Jesus exerceram grande influência no Alentejo. Em 1670, foram dados os primeiros passos para se criar, em Beja, um colégio que, além ministrar o ensino, apoiasse a missionação na região. Mas D. Pedro, primeiro como regente, depois como rei, duvidou da sustentabilidade do ambicioso projeto, que ficou suspenso.

Os jesuítas não desistiriam do seu intento e, ao redor de 1690, conseguiram o apoio da rainha D. Maria Sofia de Neuburgo. Devota de S. Francisco Xavier, atribuía a uma relíquia do santo inaciano – um barrete – o ter conseguido dar à luz, após muitas dificuldades, o príncipe D. João V, futuro rei.

D. Pedro II, grato pelo filho varão, cedeu ao pedido da esposa e autorizou finalmente em 1693 a construção do colégio, tão vasto que nunca seria terminado.

Com a extinção da Companhia de Jesus, em 1759, este ficou devoluto. O marquês de Pombal entregou-o, em 1770, ao bispo D. Fr. Manuel do Cenáculo, para sede da renascida Diocese de Beja.

No séc. XIX, acumulou serviços: governo civil, finanças, celeiro comum, biblioteca pública… Após a proclamação da República, foi ocupado pelo Estado, que instalou nele a Guarda Nacional Republicana e outras dependências (mais tarde, também a Escola do Magistério Primário).

Hoje, o monumento, ainda pertença da Diocese e em ruína nas alas que não são utilizadas pelos militares, aguarda por melhores dias. Das coberturas, sobranceiras ao casario da mouraria, goza-se um dos mais belos panoramas do Baixo Alentejo.

Na cerca, restam vestígios da vocação científica dos jesuítas, entre eles um magnífico relógio solar. Após mais de um século de presença contínua em Beja, a GNR reuniu também aqui um património digno de atenção e que faz parte da sua história.

 

Bach, interpretado por Michel Corboz, figura mítica da música europeia

O Coro Gulbenkian e solistas da Orquestra Gulbankian (Fernando Miguel Jalôto, Sofia Diniz, Marta Vicente), sob a direção de Michel Corboz, apresentam na catedral, às 21h30 do dia 17, um programa consagrado aos motetos e prelúdios corais de J. S. Bach.

Estas peças, fulcrais para o conhecimento da obra do grande compositor alemão, granjearam-lhe lugar destacado na história da música.

Ao mesmo tempo, permitem acompanhar o seu percurso profissional, desde os primeiros anos como organista em Weimar, Arnstadt e Mühlhausen (1703-08) e Konzertmeister da corte de Weimar (1708-17), até ao apogeu, como Kappellmeister dos príncipes de Köthen (1717-23) e Kantor da cidade de Leipzig (1723-50).

Hino congregacional da Igreja Luterana, o coral caracteriza-se pela linguagem simples e pela melodia fácil. No início da Reforma Protestante, Lutero chamava-lhe “canção espiritual”; porém, já em finais do séc. XVI, o termo coral começou a ser aplicado aos hinos em alemão, tornando-se habitual os cânticos congregacionais estarem entregues ao coro coral (monofónico), em oposição ao coro musical (polifónico).

O maestro suíço Michel Corboz (Marsens, 1934) é uma referência no campo da direção musical. A sua entrada no universo da música está profundamente ligada, desde os primórdios, ao fascínio pela voz.

Após fundar o Ensemble Vocal de Lausanne, em 1961, desenvolveu uma longa carreira, como maestro titular da Orquestra Gulbenkian, que o tornaria um “mito” na interpretação da música antiga.

Assinando uma discografia com mais de cem títulos, sobressai pelo discernimento da espiritualidade de grandes mestres do Barroco, entre eles Bach, que já apresentou nas grandes salas de espectáculo do mundo.

 

Através das águas do Guadiana, o grande rio do Sul

Esta etapa do Festival culmina, no domingo, com uma ação prática, orientada para a compreensão das relações entre o homem e o Guadiana, enquanto elementos que estruturam a paisagem. A partida faz-se das Piscinas Cobertas de Beja, às 9h30.

O grande rio do Sul impõe-se, à escala regional, em vários aspetos. Tendo uma das maiores bacias hidrográficas da Península Ibérica, os seus humores moldaram, ao longo de milhões de anos, a peneplanície. Por outro lado, o seu vale antigo e erodido preserva uma biodiversidade muito rica, funcionando como corredor privilegiado para inúmeras espécies de aves, mamíferos, peixes e plantas.

Mas a dinâmica hidrológica do Guadiana está também presente nos elementos culturais que o pontuam, como as peculiares azenhas de submersão e os fortins. Apesar da intensificação da agro-indústria que decorre nas áreas envolventes a jusante de Alqueva, este rio mantém estruturas patrimoniais relevantes, como as que se podem observar na zona de Quintos, fortificada na época da Guerra da Restauração, para defender Beja dos exércitos castelhanos.

O desafio lançado pelo Terras sem Sombra para esta iniciativa visa um percurso de notável valor paisagístico, o PR1, Azenhas e Fortins do Guadiana, do município de Beja, que finaliza no rio. Aqui, far-se-á a avaliação do elemento água, recorrendo a equipamentos de análise, e ponderar-se-á, no seio do Parque Natural do Vale do Guadiana, o futuro de um dos grandes recursos do Alentejo.

De entrada livre, o Festival é organizado pela Pedra Angular e termina a edição de 2017 em Sines, no dia 1 de Julho, com a cerimónia de entrega do Prémio Internacional Terras sem Sombra.

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