O Festival Terras sem Sombra continua, no fim de semana de 4 e 5 de Março, com a estreia, em Odemira, do ensemble Polyphōnos, uma visita cultural à Igreja da Misericórdia e outros monumentos e sítios de referência, e culmina com um passeio fluvial, à descoberta dos segredos do rio Mira.
Este festival tem a particularidade de associar, a cada concerto, uma ação de voluntariado para a salvaguarda da biodiversidade dos diversos concelhos que o Terras percorre, juntando, aos domingos de manhã, músicos, espectadores, membros das comunidades locais, autarcas e técnicos .
Mas este ano, a essa iniciativa na área da Conservação da Natureza e Biodiversidade, junta-se também uma visita guiada, na tarde de sábado, desta vez à vila de Odemira, o que representa uma oportunidade para conhecer o património edificado mais representativo do Baixo Alentejo.
Assim, este segundo fim-de-semana da 13ª edição do Terras sem Sombra começa às 14h30 do dia 4, com uma visita guiada ao património do centro histórico de Odemira, onde é dada a oportunidade de se conhecer, entre outros valores patrimoniais ainda pouco conhecidos do público, a surpreendente igreja da Misericórdia, que possui extraordinárias pinturas murais. A orientação é dos historiadores António Martins Quaresma e José António Falcão.
Às 21h30 deste mesmo dia 4, Polyphōnos, o ensemble recentemente fundado pela soprano Raquel Alão e cuja direção artística se encontra a cargo do barítono e musicólogo José Bruto da Costa, tem a estreia em Odemira.
Polyphōnos é um termo grego que designa a coexistência de muitos sons ou vozes, o que se revela muito apropriado a um agrupamento vocal e instrumental de excelência no campo da música antiga, que se propõe resgatar da sombra reportórios nacionais que são escassamente ouvidos entre nós.
Para o concerto na igreja de São Salvador, o ensemble inclinou-se para a música portuguesa de invocação mariana dos séculos XVI, XVII e XVIII, com autores da craveira de Estêvão de Brito, Duarte Lobo, D. Pedro da Esperança, Diogo Dias Melgás, João Rodrigues Esteves ou Francisco António de Almeida.
Alguns são naturais do Baixo Alentejo: por exemplo, Brito nasceu em Serpa, por volta de 1570, e Diogo Dias Melgás em Cuba, em 1638. Trata-se, pois, de uma espécie de “regresso” às origens, fazendo justiça ao grande destaque alcançado pela música no Alentejo durante esses períodos.
De barco, pelos meandros do rio Mira
Na manhã de domingo, o percurso dedicado à biodiversidade explorará, numa viagem a bordo de barcos, os meandros do Mira, propondo um olhar renovado sobre os gradientes do grande rio do Sudoeste.
Este tem a particularidade de, tal como o Sado, empreender um curso de sul para norte. Nascendo na serra do Mú, percorre cerca de 150 quilómetros, ao longo dos quais se podem encontrar habitats muito distintos.
É precisamente no troço inferior do rio, já próximo do estuário, que se localizam algumas das características únicas deste curso de água: as pradarias marinhas, que são um dos habitats mais ameaçados a nível mundial, e uma população de lontra muito peculiar.
Ao longo de um percurso de barco, serão reconhecidos os pontos mais relevantes deste rio, que se caracterizam pela sua espetacular cenografia, e analisadas as principais ameaças que se fazem sentir sobre eles.
A iniciativa, organizada com a colaboração do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e da Câmara Municipal de Odemira, conta com a presença de investigadores das universidades de Lisboa e Algarve.
De entrada livre, o Festival Terras sem Sombra é organizado pela Pedra Angular (Associação dos Amigos do Património da Diocese de Beja) e pelo Departamento do Património desta Diocese e prolonga-se até 2 de Julho, seguindo para Ferreira do Alentejo, Santiago do Cacém, Castro Verde, Serpa, Sines e Beja, sob o título Do Espiritual na Arte Identidades e Práticas Musicais na Europa dos Séculos XVI-XX.
Programa Odemira
4 de Março
Património
14h30 – 17h30 – Visita ao Centro Histórico
Ponto de encontro: Igreja de São Salvador
Local em destaque – Igreja da Misericórdia
Música
21h30 – Polyphōnos
De Beata Virgine Maria: Música Portuguesa de Invocação Mariana
Local: Igreja de São Salvador
Soprano Raquel Alão
Alto Carolina Figueiredo
Tenor Marco Alves dos Santos
Baixo Tiago Mota
Violoncelo barroco Ana Raquel Pinheiro
Órgão Sérgio Silva
Mónica Antunes, Rosa Caldeira, Manon Marques, Patrícia Mendes, Rui Miranda
Direção musical José Bruto da Costa
5 de Março
Salvaguarda da Biodiversidade
Pelos meandros do Mira – um olhar sobre os gradientes do grande rio do Sudoeste
10h00 – Saída – Cais de Vila Nova de Milfontes