Falar sobre a sociedade civil num museu que nasceu, ele próprio, de anos e anos de trabalho e luta dessa mesma sociedade civil. É este o resumo da nova exposição «Todos Somos Portimão», que, no sábado passado, abriu no Museu de Portimão, para assinalar o 9º aniversário da casa desta estrutura que, muitos antes de ser, já o era.
A exposição conta a história das organizações que os portimonenses foram criando, ao longo dos séculos, para tratar dos seus problemas e necessidades, desde a Santa Casa da Misericórdia (e está lá uma fotografia inédita da primeira sede da Misericórdia, edifício já desaparecido), passando pelos muitos clubes a coletividades, como o Glória ou Morte Portimonense, clube de pescadores e estivadores do cais, cujo emblema, adequado ao nome, ostenta uma caveira, e chegando às organizações criadas pelos imigrantes de várias origens.
Isto, claro, sem esquecer o clube do momento, o Portimonense, acabado de regressar à I Liga de futebol e que, no dia seguinte à abertura desta mostra, haveria de sagrar-se campeão nacional da II Liga e ser recebido em apoteose na cidade.
«Portimão é uma cidade e um concelho feitos de todas estas pessoas, de todas estas camadas, que ao longo dos séculos têm criado a nossa identidade», haveria de dizer José Gameiro, diretor científico do Museu.
E Isilda Gomes, presidente da Câmara, acrescentaria: «o nosso município é marcado pela interculturalidade e esta exposição é uma forma de homenagear estes homens e estas mulheres que deitaram mãos à obra para fazer de Portimão o que hoje é».
A interculturalidade é, aliás, o mote da mostra, construída pela equipa do museu. À entrada, uma parede diz, nas várias línguas presentes no concelho e representadas na mostra, que «Todos Somos Portimão». Mais à frente, outra parede reúne os emblemas das 130 coletividades (130!) existentes no município, em áreas desde o desporto à cultura, passando pelo apoio social.
Numa das alas da exposição, destaca-se o colorido dos objetos cedidos por algumas das comunidades estrangeiras residentes e muito atuantes: as capulanas de Moçambique, da Associação AllMozambi, as vestes festivas da CAPELA – Centro de Apoio à População Imigrante de Leste e Amigos, as tradições do ano novo do Irão, peças de artesanato de Cabo Verde, Marrocos, da China ou até uma curiosa Buda mulher, da Índia.
Mas a peça principal desta mostra é a mesa chamada «Portimão», que ocupa o centro da exposição e ostenta, em jeito de festa, as bandeiras de todos os países presentes no município. «A bandeira de Moçambique é esta», dizia a advogada moçambicana Sofia Froi, apontando com orgulho para o estandarte do seu país.
E porque a casa do Museu Municipal de Portimão comemorava 9 anos de idade – o museu em si, enquanto estrutura atuante, já tem mais de 30 anos –, até o artístico bolo de aniversário, feito por Vera Santos, funcionária e dona do Ateliê Amor às Fatias, foi oferecido por uma associação, com uma ligação umbilical à casa: o Grupo dos Amigos do Museu de Portimão.
Como José Gameiro já tinha explicado, «queremos mostrar como a sociedade civil reage, se expressa e se organiza, e como junta e acolhe todas estas diversas nacionalidades nesta nossa convivialidade mediterrânica». «Inclusão, cidadania e sentido cívico são alguns dos conceitos que perpassam por estas atividades e que ajudam a formar a identidade plural de Portimão».
«O objetivo é combater a indiferença e a injustiça em relação a estas questões de multiculturalidade, para que deixemos de falar do “nós e os outros”, como se não fossemos todos os mesmos», disse ainda o diretor científico do Museu de Portimão.
A exposição, sublinhou, integra-se «perfeitamente» no tema do Dia Internacional dos Museus, assinalado a 18 de Maio pelo ICOM, e que este ano é “Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus”. E muito desse «indizível» e dessas «histórias controversas», salientou, pode ser contado pelas associações locais, de pessoas nascidas em Portimão ou que escolheram esta cidade para viver.
Continuando no mote da interculturalidade, a festa de aniversário até contou com as 9 musas gregas, filhas de Zeus e Mnemósine (deusa da Memória), protetoras das artes, ciências e das letras. E foi assim que as alunas e alunos dos cursos profissionais de Artes de Espetáculo e de Cordas e Teclas da Escola da Bemposta dançaram, cantaram, declamaram, tocaram, surpreendendo os visitantes nos vários espaços do museu.
E porque, à boa maneira portuguesa e mediterrânica, festa que é festa tem que ter comes e bebes, o chef Aníbal Guerreiro, professor da Escola Hoteleira de Portimão, numa iniciativa da Docapesca para promover o pescado nacional, preparou uns petiscos deliciosos e imaginativos, à base de cavala e carapau de conserva, que desapareceram num ápice. Regados com vinho branco de Portimão e sangria feita com vinho algarvio, no final houve até brindes, pela saúde e longa vida ao Museu de Portimão.
A exposição «Todos Somos Portimão» fica patente durante seis meses, nos horários normais do museu.
Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação