O Campo Arqueológico de Mértola recebeu ontem o prémio das Academias Pontifícias do Vaticano, este ano dedicado aos primeiros séculos do Cristianismo, pelo trabalho realizado nesta área.
O arqueólogo Cláudio Torres, fundador e diretor do Campo Arqueológico de Mértola, disse à Agência ECCLESIA que este reconhecimento “é fundamental” e “uma motivação extra” para os estudiosos do setor.
Numa mensagem enviada aos participantes no encontro, o Papa quis “encorajar e apoiar” os que se comprometem na “pesquisa histórico-arqueológica e relativa aos mártires”, objeto desta edição do prémio.
“Apraz-me entregar o prémio das Academias Pontifícias, ex aequo, à associação portuguesa Campo Arqueológico de Mértola pelas campanhas arqueológicas conduzidas nos últimos anos e pelos extraordinários resultados obtidos”, escreve Francisco.
O Campo Arqueológico de Mértola (CAM) nasceu há cerca de 40 anos e os investigadores “procuram achados de um período escuro” da história de Portugal, realçou Cláudio Torres.
Naquele local, existem “muitos dados da civilização islâmica” e, essencialmente, aquilo que a provocou, mas o lado “curioso” é que, em vez de encontrarem elementos “árabes”, encontram componentes “cristãos”.
Em vez de descobrirem “cavalos e camelos que invadiram a Península Ibérica”, os investigadores encontraram “comunidades cristãs bem enraizadas” que, a determinado momento, “se convertem ao islão”, sublinhou à Agência ECCLESIA o arqueólogo.
“Algo completamente diferente do que se diz” na historiografia portuguesa, mas “a arqueologia fala mais verdade” do que os escritos.
Neste campo, já foi encontrada “uma enorme quantidade e variedade de batistérios e estruturas arquitetónicas” que marcam a história do século V ao VIII, salientou o diretor do CAM.
Estes dados arqueológicos “foram inovadores” para a história deste período e, atualmente, os investigadores estão a descobrir “uma igrejinha do século VI que estava debaixo da mesquita e por cima de um templo romano”, anunciou Cláudio Torres.
Além de “uma grande comunidade católica”, existia em Mértola (atual território da Diocese de Beja) uma “grande comunidade de culto monofisita que estava em guerra com Bizâncio e com Roma”.
É este mundo que os arqueólogos deste Campo estão “a encontrar e a divulgar” e que os estudiosos de universidades de vários pontos do planeta “estão a reconhecer no trabalho do CAM”.
O diretor agradeceu aos “institutos de investigação arqueológica de Roma, o reconhecimento”, dado ao trabalho realizado e a realizar nesta área.
Com este galardão atribuído pelas academias pontifícias, Cláudio Torres acredita que o CAM vai “receber mais estagiários e estudiosos da matéria” para se fazer estudos conjuntos.
A cerimónia foi organizada, na terça-feira, pelo Conselho Pontifício da Cultura e pelas Academias Pontifícias coordenadas pelo mesmo organismo da Cúria Romana, presidido pelo cardeal Gianfranco Ravasi.
O outro vencedor do prémio deste ano foi o investigador italiano Matteo Braconi, pela “excelente tese de doutoramento” sobre o mosaico da abside da Basílica de Santa Pudenciana, em Roma.
O Papa atribuiu ainda uma medalha à professora Almudena Alba López, da Universidade de Salamanca, pela sua publicação sobre “Teologia política e polémica antiariana”.