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VV - Foto IO desafio, o refúgio, a loucura, o paraíso são parte de Vitorino Voador, projeto do músico João Gil, que lançou a 19 de Janeiro o álbum “O Dia Em Que Todos Acreditaram”.

Este que é o primeiro longa-duração sucede ao “Vitorioso Voo”, o EP de estreia (2012) e marca o fechar de um ciclo e o início de outro. Em entrevista à RUA FM e ao Sul Informação, João Gil explicou que este disco é a continuação do anterior, acrescentando que vê “o EP e este disco como um só”. “É uma fase que quero fechar que começou com o EP e que encerra agora com este álbum. Há uma lógica musical e as músicas estão todas ligadas”, disse ainda.

Vitorino Voador é o cúmplice de João Gil, músico de bandas como Diabo na Cruz, You Can’t Win, Charlie Brown, Hombres com Hambre ou Feromona. Senhor de guitarras, teclas, sintetizadores, bateria ou até senhor de um trompete que parece soar a “uma gravação de 1940”.

E é com base nesta história de projetos que surge a necessidade de João Gil criar o seu próprio espaço. Aquele onde pode usar e abusar da sua criatividade. Ou no fundo, o espaço onde pode explorar aquilo que o próprio é.

João Gil contou que “todos os dias tinha uma ideia nova, que não fazia sentido nas bandas onde estava a tocar, mas sentia que não a poderia desperdiçar. Eram músicas que eu gostava, eram coisas que eu achava que podiam chegar a uma sítio bom e, de repente, cheguei à conclusão que se calhar era a altura certa para fazer uma coisa minha”.

Apesar de este ser o projeto do João Gil, o músico sempre defendeu que não queria que parecesse um projeto a solo, “daí também não usar o meu nome e optar por este Vitorino Voador. Na verdade, o que eu queria era que as pessoas sentissem que aquilo que estão a ouvir é o produto de uma banda e não de um músico a solo”.

Factor determinante que levou João Gil a chamar os bons amigos do mundo da música para este Vitorino Voador. Recorda que estes amigos estão “sempre do meu lado e o que faço é rodeado de amigos”.

Explica ainda que “este disco foi muito mais pensado do que o EP e então, desta vez, quis trazer mais gente para o disco, ouvir as ideias deles, sentir as influências na minha música”. É o caso do single “Venha ele”, com a participação de David Santos (Noiserv, YCWCB), que para João Gil, “não seria como é, se o David não tivesse feito parte da música. Dei-lhe carta branca para fazer o que quisesse e o que ele fez levou a música para uma coisa que eu nunca teria conseguido sozinho”.

 

Vitorino voador

Há também os bons amigos que, apesar de não transformarem as músicas, transformam o álbum, que apresenta uma sequência absolutamente lógica. João Gil conta que “felizmente tive duas pessoas muito presentes nesse processo: o Pedro Valente (companheiro na Azáfama) e o João Correia Mendes (Capitão Capitão). Cada um teve a sua opinião na questão do alinhamento e depois de diversas experiências, “este é o alinhamento que faz mesmo sentido”, conclui.

Apesar de estar rodeado de amigos, Vitorino Voador não deixa de ser um projeto solitário. Este é o espaço onde o seu mentor (João Gil) se isola para experimentar na estranheza entranhada tantas vezes associada ao projeto. É aqui que João Gil se refugia e ao mesmo tempo arrisca.

“Se me colocar no lugar do ouvinte, acho que às vezes arrisco-me a fazer coisas fora do comum, acho que há coisas que faço que podem parece um bocadinho estranhas. Mas, na verdade, eu acho que isso é o resultado de quem tem a liberdade de fazer as coisas sem se preocupar com apenas uma parte do resultado final”, desabafa.

Vitorino Voador é também uma zona de “conforto e desconforto”. João Gil desconstrói e explicita que é uma zona de conforto “porque posso fazer aquilo que me apetece e não devo satisfações a ninguém e também porque gravo no meu próprio estúdio, onde tenho todo o tempo que quero”.

Desconfortante é depararmo-nos com o dar a cara e assumir a liderança de um projeto, uma vez que “este é um lado da música que eu não domino, o lado de frontman, de quem tem de dar a cara, de quem tem de falar num concerto, de quem não se pode esquecer de uma letra”.

Vitorino Voador é também um desafio, mas, para João Gil, “se não houver desafio, não faz sentido. Espero que continue a ser assim e que assim seja a vida inteira. Tenho esperança que haja sempre qualquer coisa que apareça de novo para manter as coisas interessantes”. João Gil acaba por admitir que o próprio é “um desafio, um chato e que tenho de me bater a mim próprio para voltar ao sítio, se não, isto não pára!”

No espaço em que o eu é um desafio, encontramos João Gil, o Vitorino Voador.

 

Oiça aqui a entrevista na íntegra:

sulinformacao

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