João Saraiva, biólogo e investigador do Centro de Ciências do Mar do Algarve, já partiu para os Alpes austríacos (o Tirol), onde pretende passar «Um Inverno Perfeito» a conhecer a montanha e a praticar desportos de inverno.
O aventureiro algarvio continua a partilhar as suas deambulações com os leitores do Sul Informação. Depois de um semana de interregno, João Saraiva volta à carga. Este é o sexto episódio desta história, depois das crónicas «Agosto», «O Jantar Alpino», «Ar e Estilo», «A Passagem» e «Snowboard na primeira pessoa».
O pó branco
Movimenta milhões pelo mundo fora. Dizem que cria dependência. Dá origem a sensações de euforia extrema. Há um pó branco que é inigualável: a neve fresca.
A indústria do turismo de neve dinamiza grandes comunidades em todos os continentes e é a principal fonte de rendimento de regiões inteiras. Só no Tirol, por exemplo, existem 118 estâncias, um terço do total de toda a Áustria. Estas estâncias de desportos de neve não só empregam diretamente milhares de pessoas, entre operadores de meios mecânicos, vigilantes, patrulhas, gestores, marketeers, e muitos outros, como também geram empregos indiretos no comércio de equipamento, hotelaria, restauração e outros serviços – uma realidade que no Algarve conhecemos bem, sendo que na nossa região a galinha dos ovos de ouro é a praia.
Aparte toda a movimentação turística que envolve, a neve na sua forma mais pura é muito mais apelativa do que o turista ocasional saboreia: ao contrário das pistas de ski, que são pisadas e arranjadas diariamente para facilitar o deslize de praticantes de todos os níveis, nas encostas virgens, a neve pó – o chamado powder – mantém o seu estado natural.
Percorrer estas efémeras maravilhas é, na realidade, a melhor das sensações que se pode ter na montanha, sem o incómodo das multidões, sem qualquer outro ruído que não o rumor abafado das curvas que o veículo que trazemos nos pés faz à medida que se desenham curvas na brancura da montanha.
No entanto, esta prática de ski ou snowboard no powder implica um conhecimento que não está ao alcance do frequentador ocasional: há que saber quando ir, como se comportar, compreender a montanha, conhecer o terreno, o tipo e a quantidade de neve que caiu, manter-se atualizado acerca do risco de avalanche, levar sempre equipamento de segurança OBRIGATÓRIO (sinalizador de avalanche, pá e sonda) e, acima de tudo, ir munido de bom senso e conhecimento das suas próprias capacidades.
Não é por acaso que as estâncias avisam sempre para os praticantes de manterem nas pistas, a menos que saibam realmente o que estão a fazer. Infelizmente os acidentes acontecem – e este Inverno tem sido particularmente letal, graças às altas temperaturas. Perto de 50 pessoas terão perdido a vida em avalanches neste Inverno tardio e quente nos Alpes. Portanto nunca é demais enfatizar que andar fora de pista é perigoso e requer conhecimento, experiência e, de preferência, um guia.
Dizendo isto, não há sensação que se compare. É possível, cumprindo as regras de segurança, ter as emoções fortes na verdadeira montanha, aquela que fica fora da vista e das pistas balizadas: na neve fresca.
Esta semana deixo-vos então com um pequeno vídeo dos melhores momentos de powder deste Inverno Perfeito. Nota: em todas as descidas havia o apoio de um grupo experiente em que todos os membros tinham equipamento de sinalização, procura e resgate.
João Saraiva tem 38 anos, é biólogo de formação e trabalha há anos como investigador, no CCMar.
É, igualmente, um apaixonado por desportos radicais, sendo praticante de surf e snowboard.
É radialista e colaborador de longa data da Rádio Universitária do Algarve RUA FM, onde dinamiza programas de divulgação científica e de música.
E não é só na rádio que João Saraiva dá a ouvir música, mas também na “pele” de DJ Sir Aiva, em bares, discotecas e eventos.
Veja as fotos:
(Fotos: Joe Mann / Got It Freestyle shootings)