As propostas das duas listas candidatas aos órgãos sociais do Ginásio Clube Naval de Faro até vão, no essencial, no mesmo sentido: recuperar financeiramente o clube, garantir uma gestão rigorosa, promover uma aproximação aos sócios e incentivar a parte desportiva.
No fundo, as eleições desta quase centenária instituição de utilidade pública desportiva farense, marcadas para sábado próximo, dia 7 de Janeiro, são um confronto entre duas gerações de associados.
A Lista A apostou numa equipa composta por sócios mais antigos, alguns dos quais ligados a anteriores direções. Já a Lista B assume-se como sangue novo, que quer mudar o rumo de um clube que tem um passivo de perto de 350 mil euros e tem vindo a perder o seu espaço na vida da capital algarvia.
O Sul Informação falou com os líderes de ambas as listas e deixa-lhe aqui as ideias que cada um defende para o futuro do Naval de Faro:
Lista A – «Navegando com Paixão, Inovaremos» – João Nuno Mendes
A Lista A candidata à direção do Ginásio Clube Naval (GCN), encabeçada por João Nuno Mendes, que, à semelhança de outros membros da sua equipa, já passou por direções do clube, assume como principal prioridade a reaproximação aos associados, mas também a recuperação económica da instituição. Para isso, assume que terá de haver uma alteração em relação ao passado recente, no que toca à gestão.
«O nosso principal objetivo é devolver o clube aos sócios e à cidade. Porque este é um clube que fará 100 anos dentro de pouco tempo, é talvez o segundo maior clube de Faro e tem grande responsabilidade. Devia ser uma referência na cidade pelas melhores razões», disse, em entrevista ao Sul Informação.
Isso passa por «melhorar e otimizar o clube e as suas áreas sociais, todo o espaço envolvente». «Se formos lá agora, o principal está lá, que é a vista, mas tem de ser tornado mais convidativo. Por outro lado, os sócios têm de gostar de o ser, que é algo que o clube, até agora, não se tem preocupado em garantir. Temos de cativar os sócios a viver o clube. Com isso, o clube irá crescer», acredita.
«Faz parte do nosso programa fazer campanhas de angariação de sócios. Mas, neste momento, nós temos uma massa associativa bastante respeitável. Por isso, mais importante do que fazer novos sócios, será trazer os que já o são de volta ao clube».
Para conseguir este desígnio, João Nuno Mendes não esconde que é preciso inverter a situação financeira do clube. E, apesar de já ter assumido cargos diretivos no Naval, rejeita que esteja à frente de uma lista de continuidade.
«Essa questão da continuidade tem sido muito badalada, uns são da continuidade, outros vêm romper. Os tempos são diferentes, os desafios são outros e o clube está numa situação financeira complicada. Logo, não pode haver continuidade. A política de gestão tem de ser completamente diferente. Tem de haver rigor na gestão e uma procura constante da sustentabilidade do clube», disse.
«O Naval não pode ficar refém de uma única fonte de receita, que é a Doca de Recreio. Tem de criar novas fontes de receita e nós temos ideias muito concretas para conseguir essa tal emancipação que o clube tem de ter. Não sei se será possível a 100 por cento, mas tem de ser mais possível do que até agora. O clube tem estado adormecido à conta de uma almofada de rendimentos que vêm da concessão da Doca [de Recreio de Faro] e também houve muito investimento mal direcionado», acrescentou.
«Quando avançámos para esta candidatura, estivemos a estudar os números, que são públicos, já que o Naval é uma instituição de utilidade pública desportiva. Nós temos sempre de contar com o rendimento da Doca, ela é essencial para o clube ser o que é. Mas há formas de rentibilizar melhor a concessão, que é maior do que a Doca em si. Há possibilidade de aumentar as áreas que arrendamos, criar novas áreas e tirar mais rendimento dos recursos que temos, nomeadamente dos nossos barcos».
João Nuno dá o exemplo da escola de vela para adultos, «que tem sido negligenciada, esquecida», e que pode ser uma fonte de rendimento, nomeadamente no Verão. «Faro tem crescido imenso a nível turístico e o clube está completamente alheio a este crescimento e isso não pode ser», considerou.
«Não é preciso ser nenhum santo milagreiro. O clube é sustentável, é viável, mas tem de ser gerido com muito rigor. Há necessidade de haver uma mudança, que passa por outra mentalidade, por uma nova forma de ver as coisas, que foi o que nos levou a entrar neste desafio», resumiu.
Segundo explicou João Nuno Mendes, esta lista é composta por «um grupo de sócios já bastante antigos, que se juntam ali no clube com alguma regularidade, diariamente mesmo». «A candidatura surgiu naturalmente, numa lógica de sucessão, uma vez que havia eleições. Nós conhecemos o clube, somos sócios há muitos anos e alguns de nós estiveram ligados a outras direções», contou.
Desta forma, juntou-se «um grupo com múltiplas valências, cujo denominador comum é o gosto pela náutica e o conhecimento do clube e da sua especificidade».
«A nossa preocupação é a vela, é o desporto. É preciso não esquecer que o Naval, antes de tudo, é desporto. Mas para ter atividade desportiva, o clube tem de ser bem gerido. É uma pescadinha de rabo na boca. Ambas as dimensões têm de estar em diálogo, em equilíbrio», defendeu.
E é também com diálogo que João Nuno e a sua equipa pretendem resolver a questão da dívida do Farense ao Naval, no seguimento de um empréstimo concedido pelo GCN de Faro ao seu congénere. Um processo no qual João Nuno teve um papel ativo, que não enjeita.
«Eu pertenci à direção que concedeu o empréstimo ao Farense. Se me perguntar se voltava a fazer, se calhar voltava. Porque se fala muito desta dívida do Farense ao Naval, mas há poucos que saibam realmente os contornos todos da situação. Foi algo que se passou numa conjuntura muito específica e houve uma série de coisas que infelizmente não aconteceram e que levam a que o Farense, ainda hoje, não tenha pago um cêntimo ao Naval», justificou.
«O empréstimo foi feito numa altura em que, no fundo, nós tínhamos dois botões à frente: um salva o Farense, o outro fecha-o. Nós, como farenses, mantivemo-lo. O Farense já tinha recorrido a toda a gente e todos lhe fecharam a porta. E nós decidimos que podíamos salvá-lo», contou.
«É preciso encarar esta dívida como um ativo do Naval. Nós não vamos, nem nunca iremos, acabar com o Farense. Não faria qualquer sentido eu ter feito parte de uma direção que salvou o clube e agora fazer parte de uma que vai acabar com ele. O que queremos é negociar com o Farense, chamar a atenção para o gesto nobre que o Naval teve para com outra associação do concelho e que acreditamos que o dinheiro será restituído», resumiu.
Até porque, defendeu, «o Naval não pode sair lesado desta situação e, como de um lado e de outro estão pessoas de bem, terá de se encontrar uma solução», que deverá passar «por um plano de pagamentos». «Se não podem pagar cem, pagam dez, se não podem pagar dez, pagam cinco. Mas vão ter de começar a pagar», considerou.
João Nuno aproveitou para defender que a comparação que tem sido feita entre o valor do empréstimo ao Farense e o atual passivo do Naval, de cerca de 350 mil euros, é «errada». Isto porque «na altura, o Ginásio Clube Naval estava e ficou muito bem financeiramente, não se arruinou» e os membros da direção de que fazia parte não podiam «fazer futurologia».
Elementos da Lista A:
Presidente – João Nuno Mendes; Vice-presidente administrativo – Humberto Bandeira; Vice-presidente desportivo – José Dutra; Secretário – Vítor Rodrigues; Tesoureiro – Custódio Sancho; Comodora – Conceição Pinto; Comodoro – Fernando Perna; Suplentes – Gabriel Bexiga e Eurico Alves.
Presidente da Assembleia Geral – Carlos de Deus Pinheiro.
Presidente do Conselho Fiscal – Rosalba Coco Ferro
Lista B – «Novo Leme, Novo Rumo» – João Godinho Marques
A Lista B, liderada por João Marques, assume-se como um projeto de mudança e que quer trazer sangue novo à direção do Ginásio Clube Naval de Faro. No topo das suas prioridades, está a recuperação das finanças do clube, mas também são objetivos uma maior dinâmica das atividades desportivas, bem como fomentar uma maior participação dos sócios na vida da instituição.
«O nosso primeiro objetivo é promover a mudança. Nós estamos a falar de uma instituição fundada em 1928, uma das principais associações do concelho de Faro e achamos que deve haver aqui uma mudança no espaço do Naval dentro da própria vida da cidade. Deve haver mais dinâmica das diferentes atividades, a vela, a natação e o remo, junto das entidades escolares. Tudo isso deve ser mais explorado», disse João Marques, em entrevista ao Sul Informação.
Para isso, há que tratar das contas do clube, daí que o principal objetivo da Lista B seja o de «conseguir a recuperação económica do clube».
João Marques lembra que o Naval «tem garantida, à partida, uma receita anual de meio milhão de euros, algo que há poucos clubes do mundo da náutica, no país, que tenham».
«O que há a fazer é geri-la bem, é fundamental ter boa gestão. E isso é necessário porque o clube tem um passivo de 348 mil euros com a Docapesca e tem um contrato de concessão a um ano, que não dá garantia de continuar a ter essa receita», lembrou.
«O que temos de garantir, desde logo, é dinheiro para pagar os recursos humanos. Porque o maior sofrimento das pessoas que ali estão é tentar perceber, todos os meses, se vão receber ou não o seu ordenado. A estabilidade dos funcionários é importante para podermos ter qualidade de serviço».
«Para isso, temos de pegar em tudo o que é o Naval, reestruturar, e por isso é que dizemos que somos uma candidatura de mudança. Eu acredito que, muitas vezes, as pessoas que já passaram por outras direções, com o tempo, vão criando rotinas. E quem está um pouco afastado, quando pega nas coisas, não tem qualquer problema em alterá-las, desde que isso resulte num melhor trabalho para o Naval. É isso que eu entendo que a nossa equipa pode trazer», resume.
O Naval tem, ainda, «vários espaços que são explorados, que são rendas e receita para o ginásio», o que, na visão de João Marques lhe permite ter «uma atividade muito mais intensa, naquilo que são as atividades desportivas».
Até porque «criar mais atividade desportiva no clube, com a participação do próprio concelho», é outra prioridade. «Há quem defenda que este clube a única coisa que pode e deve fazer é a vela. Eu não acho que a vida do Naval se deva resumir a isso. Este clube tem duas medalhas olímpicas, onde quer que vá é reconhecido. Se nós pudermos potenciar mais a vela, a natação e o remo – o que não é difícil, desde que se abra as portas do clube a parcerias com entidades escolas e até outros clubes desportivos – acho que se pode dar uma nova dinâmica ao Naval», considera.
João Marques também defende que se deve «melhorar as condições da Doca, pois são os seus utentes que dão receita ao clube», algo que, admite, terá de passar pela Docapesca e pelo município de Faro. «O que é importante é começar a haver diálogo. Até porque, se nós estamos a explorar um espaço que é da Docapesca e somos devedores, também não conseguimos ser ouvidos. Se, durante estes anos todos, não se conseguiu cumprir, tem de se passar a cumprir a partir de agora. Temos de chegar a um acordo com a Docapesca, o que facilmente se consegue face à receita que o clube tem», acredita.
Até porque, com as condições atuais, a Doca de Recreio «está a tornar-se inviável», pois não só não se pode sair com a maré cheia, devido à linha de comboio, como «se está a deixar de conseguir sair com a maré vazia, por causa do assoreamento».
De caminho, há que «haver mais diálogo com os sócios, algo fundamental, que não tem existido». «Vamos passar a convocar todos os sócios para as Assembleias Gerais e em todas as decisões importantes será sempre pedido um parecer aos sócios. Vamos chamar os sócios a participar na vida do Naval e pô-los a viver o clube», garante.
Foi, de resto, na sequência de uma AG do Naval que a Lista B nasceu. «A nossa candidatura partiu de uma Assembleia Geral a que fomos e em que percebemos que havia vontade de alteração na direção, que parte dos corpos dirigentes estavam demissionários. Lançaram-nos o desafio de nos candidatarmos e eu estendi o convite a outros associados, mas de uma geração mais recente, com o objetivo, precisamente, de conseguir mudar. Isto com a certeza de que as pessoas que lá estão há mais tempo fazem parte do clube e são sempre necessárias. A nossa ideia é dar um novo ar, uma nova dinâmica ao Naval e tentar ajudar a resolver os problemas que o Naval tem», contou.
Apesar de João Marques não ser sócio de longa data do clube, «há elementos da nossa lista que praticamente cresceram ali». «Temos atletas do clube e pessoas que praticaram remo e vela desde muito cedo. Tenho pessoas que ajudaram a fundar o Centro Náutico e pessoas que já foram colaboradoras do Naval. Por vezes, tenta-se passar a ideia que somos inexperientes por sermos mais novos, mas a idade não justifica tudo», disse.
Neste campo, o cabeça de lista lembra as responsabilidades de direções anteriores no empréstimo ao Farense, que leva a que este último ainda mantenha uma dívida de 300 mil euros ao GCN.
«Esses 300 mil euros foram retirados dos sócios do Naval, para dar ao Farense. Não está aqui em causa a instituição Farense, que, como o Naval, é uma instituição de utilidade pública com a maior importância para Faro. O que está em causa é o que foi feito e o facto da atual direção ter decidido colocar a Farense SAD em tribunal, processo que ganhou».
«Não acho que se deva chegar a um ponto de execução direta da sentença, mas que se deve fazer um diálogo e chegar a um acordo. Isto junta dois clubes de utilidade pública e também junta o município. Se trabalharmos todos para o mesmo fim, podemos encontrar aqui uma solução, que passa pela restituição desse dinheiro ao Naval, mas com diálogo», considera.
«Só saberei ao certo o que já foi conversado, caso seja eleito presidente do Naval no dia 7. Mas sei que, neste momento, as direções dos dois clubes estão em diálogo para chegar a um acordo», acrescentou, dizendo, ainda, que acha «que a dívida deve ser paga por inteiro». «Mas não deixa de ser curioso que, se recebêssemos esse valor por inteiro agora, isso cobriria a dívida que temos à Docapesca», conclui.
Elementos da Lista B:
Presidente – João Godinho Marques; Vice-presidente – Manuel Martins; Vice-presidente – Jorge Veríssimo; Secretário – Miguel Caetano; Tesoureiro – Rui Martins; Comodoro – Albano Lopes; Comodoro – João Soeiro; Suplentes – Pedro Guerreiro e Paulo Piteira.
Presidente da Assembleia Geral – Marta Sancho
Presidente do Conselho Fiscal – João Pinto Galvão