Ruben Faria não partiu para o rally Dakar’13 com objetivos pessoais, apenas com o objetivo bem definido de ajudar o seu chefe-de-equipa a vencer a competição, mesmo se isso significasse prejuízos para si próprio. Tal não impediu o piloto algarvio de garantir a 2ª posição na prova, logo atrás do “patrão” Cyril Despres.
2013 começou da melhor forma para Ruben Faria que, na prática, não poderia ter feito melhor na edição deste ano da principal prova de todo-o-terreno internacional.
A boa prova do mochileiro do chefe-de-equipa da Red Bull/KTM surpreendeu o mundo e levou muitos fãs a acreditar que podia mesmo ser o vencedor da competição de motos.
O motard algarvio é o convidado desta semana do programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. O programa vai para o ar hoje, quarta-feira, às 19 horas, e pode ser seguida em 102,7 FM ou no site da rádio.
«Neste momento, estou naquela que é provavelmente a melhor estrutura no rally Dakar. Tinha uma função, que era ajudar o Cyril Despres a conseguir o melhor lugar possível, neste caso, a sua quinta vitória no Dakar. Não tinha objetivos pessoais, nem a equipa me propôs atingir esta ou aquela posição», contou, referindo-se ao papel de um mochileiro.
«Para quem não sabe, esse não é o objetivo. Estás lá, perdes o tempo que perderes, não arriscas. O objetivo é o Cyril ganhar, trabalhar para ele. É como o atleta que vai à água no ciclismo», exemplificou.
Ainda assim, as incidências do Dakar’13 chegaram a abrir uma possibilidade, que se revelou breve, de poder assumir a liderança da equipa, por eventual desistência de Cyril Despres.
Na sétima etapa, o chefe-de-fila da Red Bull/KTM teve problemas na caixa de velocidades numa fase preliminar do trajeto. «Esse foi o pior dia. Se calhar foi aquele em que andei mais rápido, mas foi o pior em termos de assimilar tudo o que se passou», confessou.
Ruben Faria partiu antes, por ter ficado um lugar à frente do companheiro de equipa no dia antes, e esperou por ele, como era habitual. Depois de ter sido ultrapassado, seguiu no seu encalço «fora do pó», mas sempre a uma distância relativamente curta.
«Andámos 20 ou 30 quilómetros no máximo e comecei de novo a ver o pó e pensei: isto é o Cyril». O piloto algarvio acabou por se juntar ao chefe-de-equipa, que o chamou para lhe dizer que estava com problemas, Cyril Despres mandou-o ir sem ele.
Uma situação que, admitiu Ruben Faria, o deixou um pouco atrapalhado, pois a sua função é «trabalhar para a equipa». «Ainda fiquei ao lado dele, ele mandou-me seguir outra vez e baixou a cabeça. Mesmo assim, fiquei e quando ele levantou de novo a cabeça fez aquele gesto, mesmo zangado, para ir embora. Eu fui e, no momento em que me vi sozinho, passou-me tudo pela cabeça», contou.
«Pensei que o Cyril poderia desistir ali. Que tinha de me concentrar muita na navegação porque, se calhar, a equipa agora dependia de mim», exemplificou.
A esperança em poder lutar pela vitória durou pouco
Cyril Despres acabou a etapa, que, por azar, foi aquela em que os pilotos não são acompanhadas pelos mecânicos e pelo material suplente. «Quando ele chegou ao fim, sem perder muito tempo, veio ter comigo e disse-me que tínhamos de trocar o motor da mota dele. Eu disse: então traz a tua mota para o pé da minha», recordou.
Este é o tipo de sacrifício que um mochileiro habitualmente faz, numa prova desta natureza, mas Ruben Faria acabou por não ter de comprometer a sua prova. «Ele disse-me que não era necessário, pois um amigo dele polaco ia dar-lhe o dele», disse.
A partir daqui, e depois de uma noite bem trabalhosa, tudo voltou ao normal. «A três dias do fim, o Cyril disse-me que, se calhar, seria interessante para a equipa e para mim, a quem ele tem ensinado muitas coisas nestes últimos anos, ficarem duas motas da Red Bull/KTM no pódio. E eu disse: embora lá tentar!», contou.
Ruben começou em África, mas brilhou mais na América do Sul
Nesta conversa bem animada aos microfones da RUA, Ruben Faria também falou da sua primeira experiência no Dakar, uma autêntica aventura em que embarcou com os também algarvios Ricardo Pina e Nuno Mateus, que juntos formavam a equipa SpeDakar, com um orçamento «de 60 mil euros pedidos ao banco» e com condições mínimas.
«O primeiro não posso dizer que foi igual aos outros. O primeiro Dakar é cem por cento aventura e zero competição», disse. Ainda assim, Ruben Faria distinguiu-se logo à primeira, vencendo uma etapa e acabando outra em 2º, feito que só este ano foi superado.
Uma realidade muito diferente da que vive de há alguns anos a esta parte, desde que alinha numa equipa de topo. «Este foi o meu sexto Dakar. Fiz dois em África e quatro na América do Sul», recordou o piloto algarvio. E, frisou, não é a mesma coisa.
Ruben Faria não tem dúvidas sobre qual dos dois modelos prefere e até mostra que teria futuro na rádio, a relatar provas de todo-o-terreno. A ouvir na entrevista que irá passar na RUA ou a ver aqui no Sul Informação, depois do «Impressões» ir para o ar.