O Portimonense está perto de garantir o regresso à Primeira Liga que Vítor Oliveira, treinador dos alvinegros, definiu como objetivo desde que assumiu o cargo. A equipa de Portimão segue tranquilamente no primeiro lugar, mas, com apenas nove jogos por disputar, o “rei das subidas”, em entrevista ao Sul Informação, diz que nada está ganho e assume mesmo uma quebra de forma na segunda volta.
Vítor Oliveira, que começou a carreira de treinador no Portimonense, estabeleceu ainda comparações entre a realidade do futebol algarvio de agora e a que conheceu quando “pendurou as chuteiras”, e falou sobre o seu futuro, que pode passar pelo regresso à Primeira Liga aos comandos do Portimonense.
Sul Informação (SI)- Que balanço faz deste regresso a Portimão, para treinar o clube onde começou a sua carreira?
Vítor Oliveira (VO)– Faço um balanço muito positivo até este momento e pensamos que se vai manter até ao fim da temporada. Tem sido um bom regresso, a adaptação foi fácil.
O facto de conhecer a cidade e muita gente daqui, de conhecer o clube, facilitou esta entrada, passados tantos anos.
Por isso, faço um balanço muito postivo a todos os níveis, principalmente, e o mais importante, a nível desportivo.
SI – A subida de divisão do Portimonense está garantida? Tem tido um discurso muito cauteloso, mas a verdade é que a equipa está no primeiro lugar com nove pontos de vantagem para o segundo classificado e 16 para o terceiro, quando faltam nove jogos…
VO – [Interrompe] Eu percebo que estamos muito próximos do objetivo, mas não é de bom tom, nem sensato dizer que já está, porque não está!
O [Desportivo das] Aves também já estava, há seis jornadas. Era praticamente um dado adquirido por toda a gente que seriam Portimonense e Aves a subir. Mas, em seis jogos, fizeram um ponto ou dois. Se as outras equipas tivessem ganho, podiam ter posto em causa o posicionamento do Aves.
Sabemos que o futebol é imprevisível. Ainda há pouco tempo, o Barcelona, que é uma equipa “top”, perdeu três jogos seguidos. Isso provoca sempre algum desequilíbrio nas equipas menos experientes e há que prevenir essa situação.
Agora, não somos pessimistas ao ponto de dizer que ainda está muito difícil. Não está muito difícil, está difícil. Enquanto não estiver concretizado, entendemos que está difícil, mas sabemos que estamos no bom caminho e que, mais jogo, menos jogo, iremos conseguir o nosso objetivo.
No entanto, seria presunção em demasia dizer que já está, porque não está. Enquanto for possível matematicamente que alguma das outras equipas chegue ao primeiro, ou segundo lugar, não podemos “embandeirar em arco”.
Todas as subidas têm um sabor muito especial e esta não vai fugir à regra.
SI – Se conquistar esta subida de divisão, será a décima no seu currículo. Esta tem um sabor especial por ser no clube onde iniciou a sua carreira de treinador?
VO – As subidas têm sempre um significado especial. É evidente que este é um clube que me diz muito: foi aqui que comecei como treinador, que acabei como jogador, numa época brilhante do Portimonense que levou o clube à Europa, na altura orientado pelo Manuel José.
Conheci aqui muita gente, tenho um relacionamento muito bom e isso, no aspeto afetivo, dá-nos sempre algum conforto. Mas as subidas são sempre muito especiais, independentemente do clube onde estamos.
Subir de divisão é muito difícil, muito difícil mesmo, e todas as subidas têm um sabor muito especial e esta não vai fugir à regra.
Não estou interessado na Primeira Liga a qualquer preço.
SI – A cada subida de divisão, fala-se no regresso do Vítor Oliveira à Primeira Liga. O Portimonense é o clube ideal para isso acontecer?
VO – Não sei se será o clube ideal, porque sinceramente ainda não me preocupei com isso. Vou conversando com as pessoas, vão-me falando sobre isso, não só aqui como noutros clubes, e a minha resposta é sempre a mesma: quando estiver decidida a subida do Portimonense, sentamo-nos, conversamos e vemos quais as condições de um lado e outro. Se houver um bom entendimento, não tenho problema nenhum em continuar.
Se isso não acontecer, também não tenho problema nenhum em sair. Por isso é que, ao longo da minha carreira, sempre fiz contratos de um ano. Isso permite chegar ao fim do ano, discutir e saber o que é melhor para o treinador e para o clube. O que é melhor só para um, não chega.
É como um casamento e tem que haver o consentimento de ambas as partes. Ainda é muito cedo para discutir essa situação. Quando tivermos que discutir, discutiremos rapidamente e também rapidamente iremos decidir pela continuidade, ou não.
Nunca estive preocupado com o que se vai passar no ano a seguir, estou preocupado com o que se está a passar este ano. Quero fazer o máximo de pontos, conquistar rapidamente a subida de divisão, conquistar posteriormente o título nacional e, a seu tempo, iremos ver isso.
SI – Portanto, pode vir a treinar o Portimonense na Primeira Liga?
VO – Estou há alguns anos na Segunda Liga e a possibilidade de eu continuar, quando subo, discutiu-se sempre.
Só que não foram criadas condições que eu entendo como necessárias para entrar na Primeira Liga.
Não estou interessado na Primeira Liga a qualquer preço. Vamos discutir, vamos ver as propostas que existem, as condições que existem e depois resolvemos isso facilmente.
SI – O que pode influenciar essa decisão?
VO – É o que influencia todas as decisões relativamente a renovações, dispensas, essas coisas todas: a qualidade do plantel, se oferece garantias de êxito, o acerto do contrato com o treinador, o entendimento entre treinador e administração… se esse entendimento, que tem sido este ano excelente, se mantiver, é um fator importante para a continuidade.
As pretensões do clube também são importantes. Há todos aqueles fatores que se discutem em todas as situações, divisões, todos os clubes, entre clube e treinador.
SI – O Portimonense esteve, no ano passado, também muito perto da subida de divisão e o Vítor Oliveira estava do outro lado da “barricada”, tendo conseguido a promoção com o Chaves naquele jogo que deu empate aqui, em Portimão. Qual foi a reação do plantel à sua chegada? No balneário fala-se sobre isso?
VO – A receção foi normalíssima. No futebol, habituamo-nos que cada ano é um novo ano. Não podemos viver no passado.
É evidente que, quem não tiver um bom passado, provavelmente não vai ter um bom futuro. No entanto, sabemos que quando campeonatos terminam, termina um ciclo e, a cada novo ano, iniciamos um novo ciclo. Foi o que aconteceu aqui. Fui muito bem recebido por toda a gente.
O que se passou na época passada praticamente nem foi discutido. Podemos, pontualmente, lembrar-nos disso, mas, no futebol, habituamo-nos a pôr uma pedra sobre o que passou. Cada ano é um ano de novas situações, novos jogadores, novos desafios, novas apostas.
A equipa não está tão forte quanto esteve na primeira volta.
SI – Há razões para o momento de forma menos exuberante do Portimonense nos últimos jogos? A equipa tem vindo a perder mais pontos do que na primeira volta…
VO – Há razões. A equipa não está tão forte quanto esteve na primeira volta. Tivemos uma série de guns desequilíbrios, que se foram sentido. As outras equipas também foram melhorando, apresentam-se mais fortes, e o Portimonense, contrariamente, apresenta-se mais fraco, porque perdeu durante muito tempo o Jádson, o Lucas, o Ewerton, o Stanley, o Marcel e acabou por vender o Lumor e o Amilton.
Estamos a falar de sete ou oito jogadores titulares na primeira volta. Só uma equipa com o plantel de qualidade que nós temos é que consegue equilibrar essa situação e é o que temos feito.
Quando pensávamos que, se estivéssemos completos, podíamos desequilibrar ainda mais este campeonato, neste momento, limitamo-nos a equilibrar. Ainda assim, já fizemos boas exibições.
Temos perdido jogos que normalmente não perderíamos, mas há que dar mérito aos jogadores que entraram, porque têm conseguido equilibrar a equipa e temos conseguido manter mais ou menos a distância que nos separa do segundo e terceiro classificados.
SI – No mercado de inverno houve entradas, mas também houve saídas. A equipa ficou a perder?
VO – As saídas têm pouco a ver com a menor produção da equipa na segunda volta. As lesões têm sido muito mais importantes.
Se não tivessemos tido as lesões que tivemos, muito complicadas, de grande gravidade, penso que conseguiríamos manter a bitola elevadíssima, talvez não tão boa como na primeira volta, que foi execional, mas uma bitola mais alta do que aquela que conseguimos. Penso que as lesões são a razão principal e não a saída dos jogadores.
SI – Como avalia o atual estado do futebol algarvio?
VO – Lembro-me que, quando cá estava, tínhamos o Portimonense e o Farense na Primeira Liga e chegámos a ter o Olhanense e havia mais algumas equipas do Algarve que andavam pela Segunda Divisão. Parecia-me que, na altura, o futebol no Algarve era bem mais forte do que é agora.
O Algarve está em risco de perder uma equipa na Segunda Liga, que é o Olhanense, que está numa posição difícil, mas tem a possibilidade de poder subir alguma das equipas que está na disputa do Campeonato de Portugal.
Penso que, neste momento, o Algarve, em termos de futebol, está substancialmente mais fraco do que na altura em que comecei como treinador em Portimão.
Pessoalmente, entendo que devia haver sempre uma equipa na Primeira Liga, outra na Segunda Liga, depois duas ou três no Campeonato de Portugal.
A região tem todas as condições para isso, porque as pessoas gostam de futebol. Era muito importante que o Portimonense subisse e que o Olhanense se mantivesse, ou que uma das equipas que anda no Campeonato de Portugal pudesse aspirar à Segunda Liga.
O futebol profissional devia estar representado todas as semanas no Algarve.
O futebol no Algarve era bem mais forte do que é agora.
SI – Que razões encontra para que o futebol algarvio não tenha a representatividade nos campeonatos profissionais de outros tempos? A periferia dos clubes algarvios costuma ser apontada como um dos problemas.
VO – Acho que a periferia tem pouco a ver com isso, tem mais a ver com a crise que assolou o país e fez-se notar no Algarve. Os clubes perderam a capacidade de aquisição, perderam a capacidade de crescimento e isso fez com que acabassem por ter equipas mais fracas, o que corresponde a classificações piores, descidas de divisão e isso leva a que menos gente apoie o clube.
Entrou-se num ciclo vicioso que atirou as equipas do Algarve para lugares pouco condizentes com os que ocupavam há uns anos. Penso que tem a ver com a crise, com alguma desmotivação das pessoas que gostavam de futebol, os “carolas” do futebol, que estão em vias de extinção, como toda a gente sabe.
Um clube no Algarve, ou ilhas, terá que ter orçamento superior do que as equipas que estão nas grandes zonas do país, à volta do Porto, Lisboa, Braga, Setúbal ou Coimbra que, normalmente, têm mais possibilidades, potencial e poder económico para se manterem durante mais anos na Primeira e Segunda ligas.
SI – Com a fase decisiva da temporada a chegar, que mensagem deixa aos sócios e adeptos do Portimonense?
VO – Quero dizer fundamentalmente aos sócios que o nosso empenho vai ser total. Vamos tentar resolver a situação o mais depressa possível, para darmos essa alegria o mais depressa possível, para que os sócios possam ver um ou dois jogos aqui, em Portimão, tranquilamente, e sem a pressão do resultado.
Depois de uma época tão desgastante como esta, todos nós precisávamos de dois ou três jogos tranquilos em que pudéssemos desfrutar do futebol que vai ser jogado dentro das quatro linhas.
Queremos agradecer todo o apoio, que tem sido incondicional até esta fase, e pedir que o mantenham, porque é muito importante para conseguirmos as vitórias necessárias.