«Nós também fazemos cem anos em 2017, como as aparições de Nossa Senhora de Fátima. Esperemos que haja um milagre», disse José Lezinho, da Associação de Moradores dos Hangares.
Hoje, quinta-feira, a tomada de posse administrativa de casas neste núcleo da Ilha da Culatra, em Faro, foi envolvida por um ambiente de grande tensão, mas também pela manifestação pública de fé de alguns habitantes, que receberam os técnicos da Polis a rezar o terço.
À semelhança do que aconteceu na passada semana, no núcleo do Farol, a população juntou-se para protestar contra a tomada de posse das habitações marcadas para demolir. E, apesar de, nos Hangares, haver menos casas para ir abaixo do que no Farol, a contestação até foi mais forte neste núcleo e mais numerosos os manifestantes – cerca de duas centenas.
Também foi notório que muitos dos que fizeram questão de marcar presença nos protestos no Farol, há uma semana, voltaram a estar hoje nos Hangares. Talvez por já saberem com o que contar, a contestação foi mais organizada, o que tornou a progressão dos técnicos da Polis e dos elementos da Polícia Marítima que os escoltaram mais lenta e, por vezes, mais difícil.
«Estávamos com receio que isso acontecesse, que isto descambasse um pouco. Os ânimos exaltaram-se um bocado e nós, em conjunto com a Polícia Marítima, tentámos serená-los. Mas as pessoas, velhos e jovens, foram criadas aqui e têm apego às coisas», ilustrou José Lezinho, que acompanhou a operação e serviu de ligação entre a população e as autoridades.
Apesar disso, o comandante Pedro Palma, oficial da Marinha responsável pela comunicação nesta operação, considerou que as pessoas «acataram as indicações da Polícia Marítima», mesmo tendo em conta a resistência que foi movida pela população à tomada de posse das casas.
«Havia mais emoção no ar. Houve quatro pessoas assistidas, por causa da tensão alta e de ansiedade. Mas nunca chegou à violência física», disse Pedro Palma, justificando as situações em que houve contacto direto entre a Polícia Marítima e a população com «a necessidade de retirar pessoas de cima dos muros», situação que «as colocava em risco».
Se, do lado da população, houve tempo para afinar a estratégia, também os elementos da Polis estudaram a lição e arranjaram formas mais expeditas de pintar as casas com um número a azul e afixar os editais de tomada de posse, ainda que, pelo meio, tivessem havido alguns enganos.
«Para nós, houve um mau começo e este está a ser um mau fim. A Sociedade Polis está a fazer um mau trabalho, embora já exista diálogo. Mas estão a pegar num processo antigo, cheio de vícios e que está a ser mal conduzido. Diziam que conheciam o terreno, mas houve casas que foram marcadas de forma errada. Só quando pediram ajuda à associação é que a coisa foi corrigida», disse José Lezinho.
Esta quinta-feira, a Sociedade Polis Ria Formosa tomou posse administrativa de 19 das 24 casas inicialmente previstas, nos Hangares. Nos próximos dias, dois destes atos administrativos serão suspensos, já que há duas providências cautelares que já foram apresentadas, mas sobre as quais a Polis ainda não tinha sido notificada.
«Mas há coisas que ainda estão mal. Há uma casa que está marcada por causa de 30 centímetros, e de uma zona de quintal. Se for caso disso, a pessoa tira o quintal. Há coisas que se podia resolver», acredita o dirigente da Associação de Moradores dos Hangares.
As demolições nos núcleos do Farol e dos Hangares da Ilha da Culatra deverão avançar dentro de cerca de um mês.
Veja as fotos da tomada de posse de casas nos Hangares:
Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação