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refugiados_2Um grupo de vinte famílias alemãs que vivem em Aljezur e arredores criaram uma iniciativa para prestar apoio aos refugiados que serão acolhidos em Portugal. A ideia, segundo Raban von Metzingen, um dos mentores da iniciativa, é «integrarmos nisto todos os alemães que vivem em Portugal».

Para isso, Raban, que vive naquele concelho da Costa Vicentina há mais de década e meia, já entrou em contacto com uma conselheira da Embaixada das Alemanha em Portugal, que se mostrou «muito contente com a nossa iniciativa». Também já foram feitos contactos, mais ou menos informais, com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

O apelo do casal Raban e Nelly von Metzingen aos seus compatriotas foi lançado a 21 de Julho, ainda antes de as imagens mais chocantes encherem os ecrãs das televisões e fazerem as primeiras páginas dos jornais. Nessa altura, «mais de vinte famílias de língua alemã» responderam ao apelo, mas, admitiu Raban ao Sul Informação, «tivemos que constatar, no entanto, que o potencial do nosso concelho é insuficiente para uma campanha desta envergadura. Estamos, portanto, a tentar encontrar parceiros em todo o país para, em conjunto, sensibilizarmos a sociedade civil – portugueses e estrangeiros aqui residentes – para o tema do acompanhamento dos refugiados».

«O que queremos é também juntar os alemães de todo o Algarve, de Lisboa, do Porto, do resto do país, juntar as escolas alemãs, as igrejas alemãs, para todos podermos ajudar, como nos for possível, esses refugiados que virão para Portugal», explicou Raban ao nosso jornal.

E ajudar como? É isso que será agora definido, mas Raban von Metzingen adianta: «Como posso ajudar? As pessoas é que vão dizer-nos: eu tenho tempo, eu tenho uma casa para os acolher ou posso emprestar uma casa, eu tenho dinheiro, eu tenho experiência no ensino, eu posso cuidar de uma criança, eu sei falar a língua deles».

«Juntamente com outras instituições, como, por exemplo, a ADPHA, a associação arqueológica local bastante ativa (guardiã do grande património mouro), ou com a Amovat, a associação dos ingleses, poderíamos pensar em criar uma escola para acompanhar os refugiados de maneira adequada, a nível da língua, mas também em outras áreas. O acompanhamento psicológico será especialmente importante, dado que muitos passaram por situações extremamente difíceis. E é óbvio que teríamos que pensar também em fornecer trabalho aos refugiados que, com certeza, quererão retomar uma vida ativa».

refugiados_1Além disso, acrescenta Von Metzingen, «devemos cuidar especialmente, e esta é a opinião pessoal da minha esposa, das muitas crianças órfãs entre os refugiados».

Este alemão, que foi alto funcionário da diplomacia alemã em vários países e está hoje reformado, já entrou em contacto com várias instituições portuguesas que se preocupam com a questão dos refugiados, nomeadamente ligadas à Igreja Católica, como a Obra Católica Portuguesa das Migrações, de modo a poder coordenar os seus esforços.

Mas Raban von Metzingen não quer apenas envolver os alemães nesta iniciativa, quer também chegar aos ingleses e aos holandeses residentes no Algarve e em Portugal. «Somos todos povos com experiência nestas situações, por isso temos de nos unir nesta causa», explicou. E também os portugueses poderão e deverão envolver-se.

De início, Von Metzingen começará pela sua vizinhança, nomeadamente contactando com a associação Amovat, de proprietários ingleses no Vale da Telha, mas quer ir mais longe.

Como estrutura organizacional para este trabalho, «poder-se-ia pensar na criação de uma associação específica, sem fins lucrativos e aberta a todos os cidadãos de Aljezur, ou na cooperação com a associação cultural luso-alemã Tertúlia, caso a mesma esteja disposta a colaborar nos desafios que se nos apresentam».

E porquê os alemães? O mentor da iniciativa responde, recordando até o papel de Portugal num outro conflito que gerou ondas de refugiados: «lembramo-nos todos de que, durante a segunda Guerra Mundial, um grande número de fugitivos alemães, entre judeus e opositores ao nazismo, encontraram aqui em Portugal, no país mais pobre da Europa de então, um abrigo provisório, antes de poderem emigrar para o exterior».

Por outro lado, Von Metzingen recorda «o papel positivo dos retornados. Recordemos também que mais de meio milhão de retornados das ex-colónias portuguesas em África refizeram a sua vida em Portugal, bem recebidos pelo seus compatriotas, sendo um forte contributo ao desenvolvimento do país».

refugiados síriaÉ esse património de «bom acolhimento» que Raban von Metzingen espera agora conseguir recrutar para esta iniciativa. Para mais, defende, os refugiados que vierem para Aljezur serão muito positivos, porque trarão «sangue fresco» para um concelho a envelhecer. «Como sabemos muito bem da nossa própria história de pós-guerra [na Alemanha], os refugiados trazem sempre consigo uma riqueza de novas ideias de mundos completamente diferentes, e trazem nova vida, até para nós, que, em parte, já temos idade mais avançada. E diga-se de passagem que os alemães de Aljezur já deram provas do seu espírito de comunidade em iniciativas mais modestas no passado».

«A Europa Central está a enfrentar um número não esperado de refugiados, principalmente da Síria. Só a Alemanha está a prever até 850 mil imigrantes para este ano. Em face destes números, é provável que Portugal tenha que aceitar mais refugiados do que os previstos até agora. Temos que estar preparados para isso!»

Precisamente para «deliberar de que forma podemos organizar-nos e como vamos cooperar com outras instituições privadas e administrativas no país», amanhã, dia 8 de Setembro, à tarde, haverá uma reunião em casa de Raban e Nelly, nos arredores da vila de Aljezur.

Se alguém, alemão, português, inglês, holandês ou de outra nacionalidade, quiser colaborar, em Aljezur, no Algarve ou no resto de Portugal, pode contactar com
“Iniciativa Refugiados para Aljezur”
8671-909 Aljezur, Apartado 19,
Tel. 282998532
e-mail: rmentzingen@gmail.com

 

 

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