Esta terça-feira foi um «dia histórico para o Algarve», com a apresentação do Programa Regional do Rastreio do Cancro do Cólon e Reto e da nova Unidade Móvel do Rastreio do Cancro da Mama, pioneira a nível nacional e internacional.
A partir desta semana, os utentes da Unidade de Saúde Familiar Ria Formosa (Faro) e do Centro de Saúde de São Brás de Alportel, com idades entre os 50 e os 75 anos, vão receber cartas-convite para o rastreio do cancro do cólon e reto, que tardou em chegar ao Algarve e que «estava a ser prometido há mais de dez anos», como realçou Fernando Araújo, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, que marcou presença na cerimónia de apresentação, no Laboratório Regional de Saúde Pública Laura Ayres.
Os utentes de Faro e São Brás de Alportel serão os primeiros a ser convidados para este rastreio, ainda em fase de projeto piloto, mas a ideia é que, já no início de 2018, o rastreio seja alargado a todos os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) da região.
«Esperamos que as experiências piloto durante este ano sirvam para testar, validar e se alarguem a outros ACES. Em 2018, o objetivo é cobrir totalmente as regiões de todo o país em termos de rastreio cólon e reto. Pretendemos duas coisas: aumentar a deteção de casos precoces e, com isso, tratar mais cedo os doentes, aumentando a taxa de sobrevida a cinco anos, diminuindo a despesa do Serviço Nacional de Saúde, que é muito relevante em termos oncológicos», adiantou o governante.
Segundo Fernando Araújo, «de acordo com os últimos dados, o SNS gasta, por ano, 250 milhões de euros em tratamentos de doenças oncológicas».
Para saber qual o impacto dos rastreios na poupança do Estado, a partir do próximo ano será criado um registo oncológico nacional, que vai dar informações «sobre a efetividade das várias terapêuticas, dos novos fármacos, mas também sobre a efetividade dos rastreios. Vamos perceber o impacto que cada euro colocado nos rasteios traz em termos de redução na despesa em fármacos e no aumento da sobrevida dos pacientes».
Filomena Horta Correia, coordenadora do Núcleo de Rastreios da ARS Algarve, explicou que o rastreio do cancro do cólon e do reto «exige grande preparação», mas «é muito simples, em termos de gestão e organização da ARS, num ápice, estendê-lo a todo o Algarve».
«Aquilo que é necessário é garantir todo o fluxo e o processo, desde a carta que enviamos a uma pessoa saudável, para avaliar se tem, ou não, probabilidade de ter este tipo de cancro. Depois, em caso de o teste ser positivo, temos de assegurar a colonoscopia de follow-up, que envolve meios do Centro Hospitalar. Se se confirmar, é preciso o acompanhamento através de equipas altamente especializadas. O maior delay é aí», acrescentou.
Segundo a responsável, este é um «teste que é simples, é fiável e não dói», uma vez que é feito através da análise de fezes.
De acordo com dados divulgados por Filomena Horta Correia, a incidência de cancro do cólon e do reto no Algarve é semelhante à encontrada no resto do país. «São 48 indivíduos em cada 100 mil e, segundo os dados mais recentes, a mortalidade é de 20 óbitos por 100 mil habitantes. É uma doença com alta incidência e é uma das maiores causas de morte prematura, numa população que ainda tem muito para dar à sua região e à sua família, sobretudo», acrescentou.
Algarve é pioneiro em mamografias 3D
Se o rastreio do cancro do cólon e do reto é uma novidade na região, o do cancro da mama já existe há 12 anos. No entanto, a nova unidade móvel que foi apresentada esta terça-feira e que faz mamografias com tomossíntese (em 3D) faz do Algarve uma região pioneira a nível nacional.
Paulo Morgado, presidente da ARS, explicou que «a Associação Oncológica do Algarve investiu neste novo equipamento que é inovador a nível nacional, uma vez que é o primeiro rastreio com mamografia 3D e, com todas estas valências, é também único na Europa».
Filomena Horta Correia adiantou que este novo equipamento de mamografia tem «maior capacidade diagnóstica, menor dose de radiação para as mulheres e é uma mais-valia num grande percurso que temos feito nestes 12 anos. A taxa de adesão tem aumentado com as mulheres que estão na idade alvo do rastreio a aceder ao convite».
A responsável pelos rastreios esclareceu que, com este novo equipamento, «para a mulher não há diferença, mas, em vez de fazer duas fotografias por mama, vamos ter cerca de 80. Isto vai permitir-nos avaliar qualquer tipo de lesão, por mais pequena que seja, com maior segurança e fiabilidade».
Apesar de o Algarve não ser, habitualmente, um exemplo ao nível da saúde, neste caso é, e Filomena Horta Correia realça o papel da Associação Oncológica do Algarve (AOA). «Tivemos a possibilidade de trabalhar com a AOA, numa simbiose muito grande com a ARS. Tentamos ser inovadores e dar o máximo de qualidade possível nos serviços à população. Isto deve-se em parte ao entusiasmo de um colega que, infelizmente, já não está entre nós: o Dr. Santos Pereira, que era o presidente da AOA, e à disponibilidade das várias administrações da ARS e de todas as equipas de saúde, que têm sido incansáveis e que permitiram realizar este trabalho», concluiu.
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