«Há estudos, de universidades dos Estados Unidos e da Inglaterra, que fundamentam que a contemplação de fauna aquática traz efeitos benéficos para a saúde», explica Pedro Bernardo. Por isso, um grupo de voluntários, amantes da aquariofilia, uniu-se à equipa do Hospital de Dia da Oncologia da unidade hospitalar de Portimão para instalar um aquário de 300 litros, na sala onde os doentes oncológicos passam largas horas a fazer quimioterapia.
Trata-se de um projeto inédito não só em Portugal, mas mesmo em todo o mundo. «Um aquário assim, numa sala de tratamento de quimioterapia, não existe nem em Portugal, nem em sítio nenhum do mundo», garante Pedro Bernardo, com entusiasmo.
A enfermeira Helena Mendes, chefe do serviço do Hospital de Dia, explica como começou a ideia: «a equipa há muito que tinha esta ideia. Temos tentado humanizar todas as instalações, para minimizar o impacto da doença e dos tratamentos na vida das pessoas». E houve a coincidência de Pedro, apaixonado por aquários, ser casado com uma das enfermeiras do serviço, que falou ao marido da ideia.
«Fazemos o que podemos para harmonizar o ambiente para que os nossos doentes que, por vezes, passam cá muitas horas em tratamento, se sintam mais confortáveis. Enquanto contemplarem os peixes poderão abstrair-se do resto e é esta serenidade que lhes pretendemos proporcionar», reforçou Helena Mendes, enfermeira chefe do serviço.
De imediato, Pedro agarrou o projeto. «Falei com colegas da administração do fórum aquariofilia.net e eles disseram: sim, vamos para a frente». O projeto de instalar um aquário na sala de Quimioterapia do Hospital de Portimão foi então tornado público nesse fórum e desde logo receberam contactos de empresas e de pessoas individuais, a querer ajudar, oferecendo material ou trabalho voluntário. «Houve um boom de ofertas», recorda a Enf. Helena, de empresas de Norte a Sul do país, «que se interessaram por esta causa».
A Teia d’Impulsos, associação que desenvolve trabalho a vários níveis em Portimão, promovendo por exemplo, a Rota do Petisco, mas também o projeto Vela Solidária, «entrou logo de início no projeto». «Fui falar com eles e disseram-me logo: vamos para a frente com isso. O enquadramento do projeto é agora dado pela Teia d’Impulsos, que também será quem irá dar continuidade ao projeto», explica Pedro Bernardo.
Luís Matos, dirigente da Teia d’Impulsos, faz questão de salientar que a instalação do aquário é um projeto que se integra no Programa Hope, promovido pela associação, mas é sobretudo uma iniciativa da equipa do Hospital de Dia e dos voluntários que aceitaram o desafio. «Quem aqui está a trabalhar é tudo voluntário! Há cinco membros do fórum que vieram de Lisboa, de Leiria, de Ferreira do Zêzere, mais um de Portimão».
«O empenho de voluntários e das próprias empresas que ofereceram todo o tipo de material teve muito a ver com o facto de se tratar de montar um aquário neste local, neste serviço. Percebemos todos que ia fazer a diferença para os doentes em tratamento aqui. É um pouco que representa muito», acrescentou Luís Matos.
No fim de semana passado, durante dois longos dias, o grupo de voluntários, que incluiu cinco elementos do fórum aquariofilia.net, bem como membros da equipa do Hospital de Dia de Oncologia, e até as suas famílias, trocaram o sol e a praia pela montagem, com todos os cuidados, do aquário na sala.
O trabalho coube sobretudo ao António, ao Pedro, ao Rui, à Vera, ao Tozé e ao Vasco, que passaram horas a «ver como ficava melhor». Do trabalho árduo destes dois dias, ficou feita a base do aquário: foi montado todo o equipamento, colocada a terra, as pedras e os troncos de madeira, bem como plantadas as ervas e plantas subaquáticas. Mas tudo isso foi feito com muito cuidado, depois de pensar o local exato para cada pedra, tronco ou planta. «Isto é um trabalho mais técnico e ao mesmo tempo artístico», explicou Vasco Ferreira, um dos mestres em aquascaping (paisagismo aquático).
Agora, a água e todos estes elementos novos têm que estabilizar, o que demora cerca de quatro semanas. E só em princípios de Setembro serão então introduzidos os peixes, de espécies tropicais, que irão habitar estas águas a 24 graus.
Toda a instalação foi pensada ao pormenor, até para que o aquário não se tornasse um foco de bactérias. «Isto é um hospital e temos aqui doentes imunodeprimidos, por isso nenhum dos materiais usados poderia fazê-los correr o risco de infeção. Ou seja, todo o material utilizado no exterior foi devidamente pensado e escolhido. Por exemplo, no exterior não foram usadas madeiras. Só queremos os benefícios do projeto, mas nenhum risco!», explicou a enfermeira Helena.
Na segunda-feira passada, quando chegaram à sala de tratamentos, os doentes já puderam pelo menos olhar para o aquário, que retrata o fundo cheio de vida de um lago tropical…e ainda nem lá estão os peixes coloridos. «Os doentes já sabiam que íamos aqui instalar o aquário, porque tivemos de adaptara a sala e demolir uma parte da parede, para dar mais espaço. Já estavam na expectativa. Houve mesmo uma doente que quis vir cá durante esta fase de colocação das plantas, para ver como se fazia», acrescentou a responsável pelo Hospital de Dia.
Os custos de construção, instalação e apetrechamento do aquário ascendem a cerca de 3 mil euros e foram inteiramente suportados pelos dinamizadores da iniciativa, que contaram com a ajuda de diversos patrocinadores – AquaOrinoco, Seahorseshop.com Aquariofilia, Eco-arium, Pet4you.net, Aquaplante, Aquahobby, Soluções Aquáticas, Tortuga, Chagas, Jomal, Leroy Merlin, Sparos, Câmara Municipal de Portimão, e muitos membros da comunidade Aquariofilia.net. A continuidade do projeto ficará assegurada pela Associação Teia D’Impulsos, que garantirá a manutenção do aquário.
Mas em breve haverá mais novidades em relação a este projeto, anunciou Pedro Bernardo, com um brilho nos olhos, mas sem querer levantar a ponta do véu. Veremos o que será!
Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação