O Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve garantiu que «não existe, nem nunca existiu qualquer quarto de pressão negativa» no Hospital de Portimão.
Uma posição assumida no seguimento de denúncias da delegação regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, que alega que foi destruída a única sala de isolamento daquela unidade hospitalar, para aí instalar uma zona de triagem.
Apesar das garantias dadas pelo CHA, o sindicato mantém a sua posição. O delegado regional do SEP Nuno Manjua assegurou ao Sul Informação que «há vários colegas que testemunham que a sala foi usada para isolamento» antes de ter sido reconvertida, e sustenta a sua acusação com fotos antigas da sala, aparentemente equipada para atendimento a pacientes. Quanto à posição da administração do CHA, diz que é uma «tentativa de fugir à questão».
Também em declarações ao nosso jornal, o Enfermeiro Diretor do CHA José Vieira dos Santos assegurou que a sala mencionada pelo SEP era usada, apenas, para arrumos.
«O que existia em Portimão era um gabinete, isolado, que servia de armazém de material e tinha uma placa na entrada a dizer isolamento. Mas aquela sala nunca foi usada como isolamento, nem nunca teve pressões negativas», assegurou. Não tendo pressões negativas, uma sala de isolamento não é indicada para confinar pacientes com doenças contagiosas que se propaguem por via aérea.
«Eu tenho dúvidas que o enfermeiro Manjua saiba o que é uma sala de pressões negativas, já que está afastado há muitos anos da atividade profissional, por se ter dedicado à vida sindical. As três salas de pressões negativas, existentes em Faro, são posteriores à sua saída, para ser delegado sindical», ilustrou José dos Santos.
«Não se percam em andar à roda dos problemas e façam o que devem fazer, para segurança dos profissionais e dos utentes», defendeu Nuno Manjua. Ou seja, o importante, para o sindicalista, é que seja criada uma sala de isolamento com as características adequadas. «Agora, atrás de cortinas é que não», disse.
O Enfermeiro Diretor do CHA, por seu lado, nega que o isolamento seja feito nestas condições, em Portimão. «Caso haja suspeita de doenças transmissíveis por via aérea, o utente é logo enviado para Faro. Caso seja contagioso, mas sem ser pelo ar, qualquer sala serve para esse efeito, desde que os profissionais usem o material adequado. A sala é totalmente desinfetada, depois de usada», disse.
Quanto à opção de transformar a sala indicada como de «isolamento» em sala de triagem, deveu-se à sua localização. Antes, os utentes que chegavam ao Hospital de Portimão eram sujeitos a uma primeira observação numa pequena sala, já no interior da zona de tratamento de doentes.
A nova sala de triagem tem «uma porta para a zona de admissão geral, outra porta para o corredor de chegada de ambulâncias e uma terceira porta para o serviço de Urgência, em si». Para o gabinete da antiga triagem, foi mudado o «material de consumo clínico, como soros e afins».
Numa nota de imprensa, em que responde a «notícias veiculadas por órgãos de comunicação social», o CHA esclarece que «dois destes quartos estão no âmbito do Serviço de Pneumologia e o terceiro, com capacidade para ventilação e hemodiálise, situa-se na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente», todos eles no Hospital de Faro.
Quanto à existência de uma placa a dizer «isolamento» junto à nova sala de triagem do Hospital de Portimão, os gestores do CHA dizem que terá havido a intenção de «uma administração anterior» de transformá-la em sala de pressões negativas, «nunca tal tendo sido concretizado».
«Por absoluta falta de condições, nomeadamente perigoso afastamento do núcleo central do Serviço de Urgência, nunca ou muito raramente este espaço terá servido para internamento de doentes, funcionando, na prática, como armazém de material clínico. Foi este espaço, inadequado à prática de medicina de qualidade, que a atual administração transformou numa excelente sala de triagem de enfermagem», segundo o CHA.
«Se era usado como armazém, isso foi uma opção da administração, não dos enfermeiros. Lá por uma coisa, no entender deles, não ser utilizada, não quer dizer que seja destruída sem ser substituída», considerou, por seu lado, Nuno Manjua.
Os responsáveis pelos hospitais algarvios acusaram o sindicato de «deturpação sistemática e voluntária» da situação, pelo que esperam «um formal pedido de desculpa» da Direção do SEP. Há uma semana, uma nota do SEP denunciava que duas enfermeiras foram contagiadas em serviço com tuberculose, em Portimão, situação que, diz o Sindicato, foi potenciada pela inexistência de uma sala de isolamento naquela unidade de saúde.