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imagem radar_figura 3No domingo, 1 de Novembro, em muitos locais do Algarve, «choveu em poucas horas (em cerca da 9 horas) mais que o normal para o mês todo de Novembro», afirma Bruno Gonçalves, engenheiro de ambiente e meteorologista amador, responsável pelo site e pelas duas estações Meteofontes, da Câmara de Lagoa.

Assim, a partir de dados das estações meteorológicas do Meteofontes, do site Wunderground (onde estão os dados de algumas das estações amadoras existentes no Algarve – ainda que não se conheça, ao certo, a sua fiabilidade) e ainda da rede do próprio IPMA, pode concluir-se que, por exemplo em Almancil, onde no domingo foi registada a mais alta precipitação (136,9 milímetros), choveu mais 164% que a média normal nesse mês na estação meteorológica de Faro. Média que, no período entre os anos de 1971 e 2000, foi de 83,5 mm e entre 1981 e 2010 foi de 90,4 mm.

Tabelas elaboradas por Bruno Gonçalves, do Meteofontes
Tabelas elaboradas por Bruno Gonçalves, do Meteofontes

O temporal de domingo, que causou inundações em diversos locais da região, «foi um evento caracterizado não propriamente pela intensidade de precipitação (os valores horários estiveram dentro de períodos de retorno de 2 a 5 anos), mas mais pela duração de valores elevados de precipitação, que persistiram durante cerca de 9 horas (cujos acumulados relegam para períodos de retorno superiores a 100 anos)», acrescentou Bruno Gonçalves, que é também um dos fundadores da Troposfera, Associação Portuguesa de Meteorologia Amadora.

Tantas horas a chover, muito, sem parar, acabaram por saturar os solos, que já não conseguiram absorver mais água e daí às inundações foi um pequeno passo. «Após um período inicial de precipitação contínua (entre as 04h00 e as 13h00), que contribuiu para o saturamento dos solos e das redes de escoamento, o pico final de precipitação entre as 13h00 e as 14h00, acabou por fazer extravasar tudo o que era curso de água e rede de escoamento pluvial, com os efeitos conhecidos daí decorrentes».

«Havendo construções – edifícios, povoações, cidades -, em cima de linhas de água ou leitos de cheia, o resultado é sempre favorável à água…», sublinha Bruno Gonçalves.

Também o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) acaba de divulgar os dados e a sua avaliação sobre o temporal de domingo, que, salienta aquele organismo, afetou «a região do Barlavento algarvio durante o período compreendido entre as 4 e as 14 UTC [4h00 e 14h00), com particular incidência na zona situada entre Portimão e Faro, originando precipitação forte e persistente e a ocorrência de trovoada».

No entanto, a análise do IPMA, que recorre apenas aos dados das suas duas estações meteorológicas de Faro e de Portimão, centra-se mais sobre a chuva acumulada numa hora, para saber se foram ou não ultrapassados os “máximos históricos”. E a conclusão é que não foram. Mas nem por isso o facto de ter chovido tanto, durante tanto tempo deixou de causar problemas, embora a análise do IPMA escolha não ir por aí.

A conclusão do organismo meteorológico oficial português é que «na estação de Faro-Aeroporto, o máximo histórico horário é cerca de 3,4 vezes superior ao observado no presente episódio e os máximos históricos de 6 horas e de 24 horas são cerca de 1,5 vezes superiores aos observados».

Tabela 2 IPMA
Tabela fornecida pelo IPMA

Quanto à estação de Portimão, acrescenta o IPMA, «os máximos históricos horários e de 6 horas são cerca de 2 vezes superiores aos observados neste episódio e o máximo histórico de 24 horas é cerca de 1,3 vezes superior ao observado».

Só que os principais problemas não se deram nem em Faro, nem em Portimão, mas sobretudo nos concelhos de Albufeira e Loulé. E quanto a essas zonas, o IPMA apenas faz estimativas do que terá chovido, uma vez que não possui aí nenhuma estação meteorológica oficial.

Ainda assim, concede que «considerando as estimativas obtidas com radar para o período entre as 4 e as 14 UTC, é de admitir que os valores mais elevados observados em Faro-Aeroporto e Portimão tenham sido excedidos na zona costeira entre Albufeira e Quarteira».

O IPMA explica, num comunicado que acaba de divulgar, que «a situação meteorológica à superfície às 00 UTC do dia 1 de novembro de 2015 era determinada por uma depressão com 1013 hPa centrada no Norte de África, em processo de cavamento, que, no seu movimento para noroeste, veio a posicionar-se às 12 UTC na região de Faro com 1009 hPa e, no final do dia, no Atlântico a sudoeste de Cabo Raso (38ºN 10ºW), onde atingiu um mínimo de 1005 hPa».

«Associadas a essa depressão ,formaram-se linhas organizadas de precipitação, com orientação de sueste para noroeste, que no seu deslocamento lento para norte afetaram, principalmente, a região do barlavento algarvio».

«Nas estações meteorológicas automáticas (EMA) da rede do IPMA próximas da zona mais afetada, os máximos horários de precipitação observados foram de 11 mm em Portimão às 11 UTC e de 20 mm em Faro-Aeroporto às 12 UTC, tendo-se, nesta estação, registado um valor máximo de 74 mm em 6 horas, entre as 6 e 12 UTC».

«À medida que as linhas de precipitação progrediram para norte, foram perdendo gradualmente atividade, vindo a atingir as restantes zonas da região Sul e a região Centro, mas já com quantidades de precipitação bastante menos significativas».

«A sequência de imagens do produto de radar RAIN1 (valores horários de precipitação em mm, estimados com recurso ao radar meteorológico de Loulé/Cavalos do Caldeirão), obtida para o período entre as 10 e as 14 UTC, permite salientar a zona mais afetada pela linha de precipitação, situada entre Portimão e Olhão».

É com base nessas imagens e nas estimativas obtidas com radar que o IPMA admite que, na zona costeira entre Albufeira e Quarteira deva ter chovido mais que os «valores mais elevados observados em Faro-Aeroporto e Portimão».

Ainda assim, «por aplicação de fatores de ajustamento Udómetro-Radar obtidos na localização das EMA de Faro-Aeroporto e Portimão, estima-se que o valor da precipitação ocorrida entre as 4 e as 14 UTC, em Albufeira e Quarteira, tenha variado entre 106 mm e 139 mm, com um valor médio estimado de 122 mm».

 

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