Alexander Rathenau, o novo cônsul honorário da República Federal da Alemanha no Sul do país, lamenta a falta de empreendedorismo no Algarve e diz que a região tem potencial para atrair jovens alemães.
Em entrevista ao Sul Informação, Alexander Rathenau diz que a maioria dos alemães no Algarve são reformados, algo que o relaciona com «um problema em toda a Europa: que não há muitos jovens que se atrevam a sair para o estrangeiro para viver e trabalhar lá».
«Há sempre áreas muito interessantes, advogado, jornalista ou consultor fiscal, nós no Algarve temos apenas um consultor que fala alemão. As pessoas não têm a coragem de ir para o estrangeiro», acrescentou.
Mas se os alemães mais jovens não saem muito do seu país, Rathenau lamenta, por outro lado, a falta de empreendedorismo na região algarvia. «Há pouca gente que queira investir em novas tecnologias, por exemplo. Concentra-se tudo no turismo. E quem trabalha nessa área, trabalha durante uns meses e depois, no resto do ano, trabalham em empregos de baixo rendimento».
Também para os alemães que crescem no Algarve, o cônsul considera desejável que continuassem a viver aqui. A maioria, porém, regressa à Alemanha, à procura de melhores oportunidades, «o que é uma pena, porque normalmente nem sequer é verdade».
«Reparo que muitos portugueses [emigrantes] que têm filhos na Alemanha, de segunda ou terceira geração, tinham uma imagem muito negativa de Portugal e nunca queriam sair de lá». Mas quando os filhos vêm ao país dos seus pais, ficam perplexos: «Isto é tão moderno, Portugal tem muitas coisas que são muito progressivas».
O próprio cônsul, que nasceu na Alemanha, mas veio para Portugal com seis anos, identifica-se mais com a região do que com o seu país de origem. «Se usasse a palavra alemã “Heimat” [terra natal/sítio onde se sente em casa] seria o Algarve».
O novo cônsul honorário considera que, desde a abertura do consulado em Lagos, tem havido um bom feedback dos cidadãos germânicos no Algarve. «A maioria dos alemães vive, sem dúvida, no Barlavento, entre Carvoeiro e Sagres», referiu o Rathenau, acrescentando que o mesmo acontece no Alentejo, onde muitos alemães escolheram a zona costeira para viver. Por isso mesmo, para Rathenau, Lagos é melhor do que Faro para instalar o consulado, por questões de proximidade. «Naturalmente que há sempre alguém de Tavira ou Vila Real de Santo António que diz “agora tenho de viajar tão longe”, mas eu acho que é justo porque é melhor para a maioria».
Esta é a primeira vez desde o 25 de Abril de 1974 que o Consulado está sediado em Lagos. «Não há uma regra oficial que diga que Lagos tem de ter uma representação diplomática e que o cônsul tenha que trabalhar lá. Se eu sou o cônsul honorário, decido eu onde trabalho. Claro que a embaixada tem de aprovar dessa decisão, se eu trabalhasse algures no Alentejo profundo, seria mau, porque todos teriam de viajar para lá. Há um novo cônsul, que vive em Lagos, portanto o consulado fica sediado em Lagos também».
Não há números oficiais, mas Rathenau estima que haja no mínimo 6000 alemães residentes no Algarve. «A questão é: Como definir “residência”? Provavelmente, serão mais de 10 mil, se incluirmos aqueles que não se registaram, ou que passam alguns meses na Alemanha».
A jurisdição do Consulado abrange os distritos de Faro, Beja, Évora e Setúbal, em que haverá «certamente uns quantos milhares» de germânicos. «Afinal, os nossos clientes também são aqueles que vêm ao Algarve como turistas, o que, durante os meses de Verão, representa um acréscimo de vários milhares de pessoas que poderão potencialmente ser nossos clientes».
Quanto à integração dos seus compatriotas em Portugal, Alexander Rathenau considera que «muitos alemães vivem isolados e só se encontram com alemães». Mas a culpa, segundo ele, também é dos portugueses, porque «não são tão abertos, diretos, para convidar um alemão para casa ou incluí-lo nos seus amigos mais íntimos. Até um alemão e um português conseguirem construir uma amizade podem passar anos e, mesmo assim, será uma exceção».
A principal barreira é a língua: em especial para quem vem na idade da reforma, aprender uma nova língua é difícil. Outro problema «é que muitos portugueses preferem responder em inglês, mesmo quando se tenta falar português. Naturalmente que assim não há comunicação em português».
Mesmo assim, o cônsul acha que há mais interesse em aprender a língua por parte dos alemães do que dos ingleses, por exemplo. «Os ingleses comportam-se como se estivessem em Inglaterra, falam imediatamente inglês, sem sequer perguntar se a outra pessoa percebe. Os alemães perguntam primeiro “Do you speak English?, Eu também sei falar um pouco de português”».
O Consulado da Alemanha no Algarve existe desde 1752. Há investigações que concluem que o consulado alemão é a mais antiga representação diplomática em Portugal. «Comerciantes de Hamburgo fundaram no século XVIII o consulado alemão em Faro. Naturalmente, a maioria do comércio na altura era feito por via marítima e Faro era uma cidade portuária importante». Nesse século, chegou a haver três consulados, em Vila Real de Santo António, Faro e Lagos. Naquele tempo, era importante ter representantes diplomáticos nos portos», para «garantir condições de segurança para as mercadorias, porque havia muitos piratas vindos do Norte de África que dificultavam a atividade dos comerciantes».
«Hoje em dia, o Consulado tem naturalmente funções muito diferentes», lembra Rathenau. «Tratamos de muitos assuntos notariais, reconhecimento de assinaturas, reconhecimento de endereços». O Consulado emite também passaportes e passaportes de viagem. «Se estiver aqui como turista e perder a sua carteira com os documentos que o identificam, podemos emitir um documento de identificação imediatamente, para que possa regressar à Alemanha».
Ao contrário de cônsules gerais, que enveredaram pela carreira diplomática, um cônsul honorário tem certas restrições. «Fui nomeado por ter crescido na região, porque conheço as condições e porque não é viável para a embaixada estabelecer um consulado que não seja apenas honorário». Um cônsul honorário não é assalariado, mas pode ter vencimentos através de taxas que pode exigir para certas ações. Mas o que um cônsul nessas condições ganha não cobre as despesas. «Significa que tenho de pagar grande parte das despesas do meu bolso», revela Alexander Rathenau.
Em relação aos alemães que vivem um estilo de vida alternativo, principalmente no Alentejo e na serra algarvia, o cônsul compreende «completamente esse estilo de vida, que muitas vezes não tem nada a ver com falta de dinheiro, é uma opção pessoal». A relação entre essas comunidades e a população portuguesa é boa, e não considera os estilos de vida se distingam muito. «Eu tenho amigos portugueses que vivem no Alentejo profundo, que também têm uma casa simples, de taipa, sem água, só água do poço».
«Houve uma altura, há cerca de um ano, em que o assunto das crianças problemáticas estava bastante presente, essas crianças que eram acolhidas justamente por essas famílias hippies», lembra. O cônsul admite que houve alguma crítica por parte dos portugueses, na justiça, mas também nos media, «simplesmente porque essas crianças poderiam não aprender as coisas importantes para a sua educação. Mas isso também já não tem muita pertinência e a justiça já tem estado a tratar disso».
Versão em alemão da entrevista:
Alexander Rathenau, der neue Honorarkonsul der Bundesrepublik Deutschland, sieht an der Algarve Potenzial, aber meint es werde zu wenig investiert
In einem Interview für Sul Informação, sagt Alexander Rathenau, dass die meisten Deutschen na der Algarve Rentner sind. «Was an der Algarve fehlt, das finde ich auch schade, aber das ist ein algemeines Problem in Europa, dass sich zu wenig junge Menschen trauen, ins Ausland zu gehen um dort geschäftlich tätig zu werden. Es gibt ja immer sehr interessante Arbeitsfelder wie Rechtsanwalt, Journalist oder Steuerberater, wir haben an der Algarve eigentlich nur einen Steuerberater, der Deutsch spricht. Es gibt Kunden en masse für Steuerberater. Man traut sich aber nicht ins Ausland zu gehen». Er meint es sei schade, dass es an der Algarve so wenig Unternehmer gibt. «Es konzentriert sich alles auf den Tourismus. Die Meisten die im Tourismus arbeiten, haben ein paar Monate viel zu tun, und müssen dann die restlichen Monate irgendwelche Geringverdienerjobs annehmen. Es gibt doch hier viel grösseres Potenzial, Dienstleistungsbetriebe, zum Beispiel».
Auch wer an der Algarve aufwächst sollte, seiner Meinung nach, hier bleiben. Die meisten kehren aber nach Deutschland zurück, und hoffen auf bessere Aussichten, was «schade ist, weil meistens stimmt das garnicht». «Was mir auffällt ist dass viele Portugiesen, die Kinder die in Deutschland haben, teilweise in der zweiten oder dritten Generation, eine ganz andere, falsche Sicht hatten was Portugal betrifft. Die kommen kaum zurück». Aber wenn die Kinder kommen, seien sie ganz perplex: «Portugal ist ja ganz modern, die haben hier viele Sachen die vortschrittlich sind, und es ist schön».
Rathenau wurde in Deutschland geboren, aber ist mit sechs Jahren nach Portugal gekommen. «Wenn man das deutsche Wort “Heimat” verwendet, dann ist das für mich die Algarve».
Seitdem das Konsulat in Lagos geöffnet wurde habe es ein positives Feedback gegeben. «Die meisten deutschen Residenten leben, ohne Zweifel, an der Westalgarve, sagen wir zwischen Carvoeiro und Sagres», sagt Rathenau, und fügt hinzu, dass ebenfalls im Alentejo mehr Deutsche an der Westküste leben, als im Inneren. Für Rathenau ist Lagos besser als Faro, weil es näher an der deutschen Gemeinschaft liegt. «Natürlich gibt es immer irgendjemand, der in Tavira oder in Vila Real de Santo António wohnt und sagt “jetzt muss ich so weit fahren”. Aber wenn mann es gerecht sieht, dann ist es tatsächlich für die meisten besser».
Es ist das erste Mal seit dem 25. April 1974 dass das Konsulat sich in Lagos befindet. «Es gibt nicht wie bei den Behörden ein Motto, dass es in Lagos ein Grundbuchamt geben muss, und deswegen muss dann auch der Grundbuchbeamte dort arbeiten, nein. Also wenn ich der Honorarkonsul bin, dann entscheide ich erstmal, wo ich dann arbeite. Natürlich muss die Botschaft und das Auswärtige Amt dem zustimmen, wenn ich irgendwo im tiefsten Alentejo arbeiten würde, wäre es schlecht, weil dann alle dorthin fahren müssten. Neuer Honorarkonsul, der in Lagos seinen Sitz hat, deswegen ist das Konsulat auch nach Lagos gezogen».
Es gibt keine offiziellen Daten, aber Rathenau schätzt dass es mindestens 6000 Deutsche gibt, die an der Algarve permanent wohnen. «Die Frage ist, was ist Residenz. Diejenigen, die das ganze Jahr über hier sind, die hier fix leben, sind, schätze ich, mindestens 6000. Wahrscheinlich sind es aber über 10000 wenn wir die dazunehmen, die sich nicht angemeldet haben, beziehungsweise einige Monate in Deutschland verbringen». Wer nach Portugal zieht sollte sich nach drei Monaten an der Gemeinde anmelden, aber viele tun das nicht, weil es keine Pflicht gibt. Das Amtsbezirk des Konsuls geht bis zum Tajo, wo es «auf jeden Fall einige Tausende gibt». «Unsere Kunden sind ja auch diejenigen, die als Turisten herkommen, das heißt, wenn man die noch dazuzählt haben wir natürlich in den Sommermonaten viele, viele Tausende die potenziell unsere Kunden sind».
Alexander Rathenau findet, dass viele Deutsche «sich doch etwas isolieren, sie treffen sich nur mit Deutschen, oder deutschsprachigen Personen». Daran seien aber auch die Portugiesen teilweise schuld, weil sie «nicht so offen sind, direkt, um, sagen wir mal, einen Deutschen zum Beispiel nach Hause einzuladen, oder als Teil seines engen Freundeskreises zu betrachten. Bis ein Deutscher und ein Portugiese eine enge Beziehung aufbauen, können Jahre vergehen, und es ist eher ein Ausnahmnefall». Die größte Barriere sei die Sprache, besonders weil viele Deutsche erst im Rentenalter kämen, in dem es schwehr sei, eine neue Sprache dazuzulernen. Ein weiteres Problem «besteht auch darin, dass viele Portigiesen auf Englisch antworten, auch wenn man versucht Portugiesisch zu sprechen. Dann kommt natürlich keine Kommunikation auf Portugiesisch zustande». Trotzdem findet Rathenau, dass Deutsche eher dazu geneigt seien, die Sprache zu lernen, mehr als die Engländer, zum Beispiel. «Der Engländer tut alles, als wäre er in England. Sie sprechen sofort Englisch, ohne zu fragen, ob die andere Person das versteht, sie nehmen das einfach an als wäre es selbstverständlich. Die Deutschen würden ersteinmal fragen “Do you speak English? Ich spreche auch ein Bisschen Portugiesch”, und dann gibt es zumindest ein paar Wörter auf Portugiesisch».
Das Konsulat an der Algarve existiert seit 1752. Laut Rathenau, gäbe es Recherchen die besagen dass das deutsche Konsulat die älteste diplonatische Vertretung in Portugal sei. «Hamburgische Kaufleute haben im 18. Jahrhundert die diplomatische Vertretung gegründet in Faro. Damals war es natürlich so, dass das meiste über den Seeweg ging, sodass man in Faro als Anhaltspunkt einen Anlauf hatte». In diesem Jahrhundert habe es drei Konsulat, in Vila Real de Santo António, Faro und Lagos. «Damals ging es um die Sicherung der Waren, weil von Afrika gab es viele Banditen die den Geschäftsleuten das Leben schwer machten. Um den Schutz der Seeleute zu gewähren, gab es diese Vertretungen».
«Heutezutage hat das Konsulat natürlich ganz andere Funktionen», meint Rathenau, «wir machen viele notarielle Handlungen, Unterschriftenbeglaubing, Beglaubungen von Abschriften. Auch andere Sachen wie die Passausschtellung, auch Ausschtellung von Reiseausweisen. Wenn Sie als Turist hier sind, und Sie verlieren Ihren Geldbeutel mit Ihren Ausweisdokumenten, können wir hier ein Ausweisdokument ausstellen damit Sie weiterreisen können, oder zurückreisen konnen nach Deutschland. Und darüberhinaus hat der Honorarkonsul auch repräsentative Funktionen».
Im Gegenteil zu Burufskonsulen, die eine diplomatische Laufbahn eingeschlagen haben, hat ein Honorarkonsul bestimmte Beschränkungen was die Tätigkeit betrifft. Er kann, wenn er eine Handlung vertritt, eine Gebühr verlangen, «aber die Kosten überschreiten die Einnahmen die ich habe. Das heißt, dass ich einen Großteil der Kosten aus eigener Tasche bezahle».
Was die Deutsche betrifft, die, hauptsächlich im Alentejo, einen sehr alternativen Lebensstil haben, so habe Rathenau «volles Verständnis für diese Lebensweise, die oft nichts damit zu tun hat, dass sie kein Geld haben, es ist deren Entscheidung dass sie so leben wollen, dass sie keinen grossen Wert auf Vermögensgegestände legen, und nur ihre Ruhe haben wollen». Er denkt, die Beziehung zwischen diesen Gemeinschaften und den Portugiesen sei gut, und eigentlich sei der Lebensstil nicht so anders. «Ich hebe einige portugiesische Freunde die im tiefsten Alentejo wohnen, die haben auch ein ganz einfaches Haus aus Lehm, haben meistens kein richtiges laufendes Wasser, sonder nur einen Brunnen».
«Es gab so eine Zeit, vor einem Jahr, da war das Thema von den schwer erziehbaren Kindern, die gerade in Portugal von solchen Hippiefamilien aufgenommen wurden, sehr stark präsent. Da gab es eine gewisse Kritik von Portugiesen, in der Justiz, aber auch von den Medien, einfach weil diese Kinder in diesen Familien vom scheinen nach nicht gut aufgehoben waren, weil sie nicht erfahren was für ihre Erziehung wicht wäre. Das ist aber eher Meinungsabhängig, und es ist mittlerweile auch nicht mehr so stark, es wurde ein Bisschen eigeschränkt durch die Justiz».
Marc Gorzelniak é estudante finalista do 3º ano da Licenciatura em Ciências da Comunicação, da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve – esta entrevista foi elaborada no âmbito do seu estágio curricular no jornal Sul Informação