O Governo está «a estudar a viabilidade de eventualmente voltar a separar» os hospitais de Portimão, Lagos e Faro, acabando assim com o modelo do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), disse hoje, em Portimão, o secretário de Estado da Saúde.
Manuel Delgado, que falava aos jornalistas depois da inauguração de uma Unidade de Saúde Familiar no Centro de Saúde de Portimão, explicou que o Governo, «durante este ano», esteve a «observar, analisar, as vantagens e os inconvenientes deste modelo» do CHA, bem como a «auscultar a opinião quer dos profissionais, quer dos autarcas ,quer das entidades que na saúde se movimentam aqui na região algarvia».
E «a conclusão a que estamos a chegar é que, porventura, este modelo estará esgotado, ou seja, não deu os contributos que se esperava em matéria de dinamização da atividade hospitalar, maior eficiência, melhor resposta aos cidadãos».
A possibilidade da nova separação entre os hospitais de Portimão e Lagos (eventualmente voltando ao anterior modelo do Centro Hospitalar do Barlavento) e o de Faro, talvez com o modelo de Hospital Central Universitário, foi anunciada na semana passada pelo presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) algarvia.
«A proposta que estamos a desenvolver para apresentar ao senhor ministro é no sentido de criar o Hospital Central Universitário do Algarve em Faro e um centro hospitalar em Portimão», disse João Moura Reis, sublinhando que o processo se insere na estratégia de reorganização do Serviço Nacional de Saúde que está em curso na região.
Se essa proposta for aceite pela tutela, a separação deveria ter lugar, segundo o presidente da ARS, ainda este ano.
Mas o secretário de Estado da Saúde é mais cauteloso. Manuel Delgado adiantou que não há ainda um prazo para tomar uma decisão, já que, defendeu, «a mudança tem que ser feita com calma e ponderação».
Se a extinção do CHA for para a frente, acrescentou, «vai sempre implicar a definição clara das competências de cada unidade hospitalar, não no sentido de cada uma lutar por si, num processo competitivo puro e duro, mas sim num processo de complementaridade e de cooperação entre as unidades».
«O que nós queremos é que as populações do Algarve, quer as que aqui residem, quer as que aqui transitoriamente passam – e é preciso não esquecer a importância turística que esta região tem, de montra do país para o exterior», consigam obter no Algarve «resposta a 90 a 95% das necessidades hospitalares», disse o governante.
«É evidente que há algumas especialidades altamente diferenciadas que não podemos ter dispersas pelo país. Mas o objetivo é caminhar para um modelo de resposta que evite o mais possível deslocações para fora do Algarve. O processo faz-se através da complementaridade», frisou Manuel Delgado.
Presente na inauguração da nova USF, a presidente da Câmara de Portimão manifestou a sua confiança na «nova dinâmica do Ministério da Saúde», mas fez votos para que a situação dos hospitais algarvios seja clarificada e melhorada rapidamente, uma vez que «é a própria imagem do país que fica em deficit».
A questão do futuro do CHA está muito presente na deslocação de um dia que o secretário de Estado está a fazer hoje ao Algarve, uma vez que, esta manhã, logo após a inauguração da USF, teve lugar uma reunião de trabalho no hospital de Portimão e, a fechar o programa, terá outra no hospital de Faro.
O governante falou ainda da recorrente dificuldade de contratar médicos para a região algarvia. Manuel Delgado admitiu que, apesar de o atual Governo ter dado aos conselhos de administração a possibilidade de abrir concursos na área médica e não só, a verdade é que o problema está na «dificuldade que temos de cativar recursos para o Algarve, quer médicos, quer também noutras áreas técnicas da saúde».
Por isso, voltou a falar da legislação especial que está a ser criada pelo Ministério da Saúde «no sentido de criar incentivos adicionais para as pessoas virem para o Algarve». «O que se passa no Algarve é que os concursos são abertos, para as especialidades médicas e cirúrgicas, mas chega-se ao fim e ficam desertos, ou, em sete vagas, aparece um candidato e isso torna impossível a estabilização. Em consequência disto, os hospitais e os serviços de saúde são obrigados a contratar empresas, o que é o pior que se pode fazer e é o que nós não queremos», disse.