Alexandra Cunha, investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMar) da Universidade do Algarve e presidente da Liga para a Proteção da Natureza (LPN) ganhou o prémio Terre des Femmes, da Fundação Yves Rocher.
Este prémio tem como principal objetivo galardoar mulheres empreendedoras na área da conservação da natureza e que tenham desenvolvido projetos que contribuam para a sustentabilidade ambiental. O Prémio Terre de Femmes é organizado em 15 países, incluindo Portugal (pelo terceiro ano consecutivo), homenageando as mulheres eco-cidadãs na Europa.
Até hoje, este prémio já recompensou mais de 285 mulheres em todo o mundo.
A candidatura apresentada pela bióloga Alexandra Cunha teve por base o projeto «ADOPTE uma pradaria marinha», que pretende alertar para o estado vulnerável destes habitats marinhos e contribuir para melhorar o seu estado de conservação na costa portuguesa.
Este projeto foi financiado pelo Oceanário de Lisboa e está a ser desenvolvido no CCMar.
Com o dinheiro do prémio, a investigadora espera estender o projeto ADOPTE e o trabalho de conservação aos países lusófonos, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Brasil.
«Com o dinheiro do prémio, vamos fazer um livro sobre as pradarias marinhas em todos estes países, que informe o público e as entidades gestoras da importância da proteção destes habitats», contou Alexandra Cunha ao Sul Informação.
Como o dinheiro não é, apesar de tudo, muito (3000 euros), a ideia é produzir um «livro que seja disponibilizado online, grátis», acrescentou a bióloga. «Depois, se conseguirmos outros financiamentos, logo avançaremos para a sua edição em papel».
Os contactos para a produção do livro, que terá como coautores investigadores dos vários países lusófonos envolvidos, já estão feitos. «Queremos lançar o livro em novembro, no Brasil, durante a Conferência Mundial sobre Pradarias Marinhas», revelou Alexandra Cunha ao Sul Informação.
Sobre a importância do prémio, a investigadora algarvia comenta que é bom ver «reconhecido o meu trabalho e o meu empenhamento. O que este prémio reconhece é precisamente o empenhamento , a vontade de mudar e contribuir para um ambiente melhor».
Manifestando-se feliz por receber este galardão, Alexandra Cunha sublinhou ainda que ele «estimula a continuação do projeto ADOPTE» e permite até a sua «expansão».
O Prémio Terre des Femmes Portugal será entregue dia 8 de fevereiro, num almoço no restaurante «Eleven», em Lisboa, que contará com a presença das três mulheres portuguesas galardoadas nesta edição de 2012, bem como dos membros do júri, constituído por Luísa Schmidt, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Mário Grácio, diretor-geral da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, Tito Rosa, presidente ICNB – Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, e Susana Fonseca, vice-presidente da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza.
A cerimónia contará, ainda, com a presença de Claude Fromageot, diretor de Desenvolvimento Sustentável do Grupo Yves Rocher e representante da Fundação Yves Rocher – Instituto de França, e de Vitor Brás, diretor-geral da Yves Rocher Portugal.
Quem é Alexandra Cunha?
Alexandra Cunha nasceu em Lourenço Marques (hoje Maputo), em 1962.
A sua paixão pelo mar e atividade em conservação da natureza em geral teve início na sua juventude, quando ainda estudante do liceu de Portimão, e manteve-se até ao presente, impulsionando a sua carreira profissional e de ambientalista.
Tem coordenado muitos projetos de conservação marinha, como o Life Biomares que teve lugar no Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, no estuário da Sado/Arrábida, e o FindKelp, que teve lugar em toda a costa portuguesa.
É atualmente presidente da Direção Nacional da Liga para a Proteção da Natureza, a associação de proteção de ambiente mais antiga e carismática de Portugal.
Os conhecimentos de Alexandra Cunha são reconhecidos internacionalmente, tendo apresentado várias comunicações em congressos nacionais e internacionais, elaborado inúmeros artigos científicos e de divulgação, participado em diversos projetos de investigação sobre conservação marinha.
Formação Académica
• Licenciada em Biologia pela Universidade de Aveiro.
• Mestre em Gestão Costeira pela Universidade do Algarve
• Doutorada em “Forestry and Wildlife” pela Universidade de Auburn, nos Estados Unidos da América.
Adopte ‘uma pradaria marinha’ from Gobius on Vimeo.
O que é o projeto «ADOPTE uma pradaria marinha?»
O programa «Adote uma pradaria marinha» é uma iniciativa do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, patrocinado pelo Oceanário de Lisboa, que pretende envolver os cidadãos na monitorização e na proteção de um dos ecossistemas marinhos mais vulneráveis da costa portuguesa.
O conceito deste programa, que tem o patrocínio do Oceanário de Lisboa, é simples: um cidadão ou grupos de cidadãos podem assumir a responsabilidade de uma pradaria marinha, contribuindo para a sua vigilância, monitorização e manutenção.
Além de servirem como filtros naturais nos sistemas onde se encontram, elevando a qualidade da água e do substrato, estas pradarias servem também de abrigo a diversas espécies marinhas, nomeadamente peixes, algumas de elevado valor económico e comercial, nomeadamente numa fase precoce do seu crescimento.
Perguntas e respostas sobre pradarias marinhas:
O que são ervas marinhas?
Também chamadas de sebas, são plantas que crescem em ambiente aquático e pertencem a um grupo que evoluiu a partir de plantas terrestres, há 100 milhões de anos.
São constituídas por raízes, caule e folhas e têm capacidade de produzir flores, frutos e sementes. Funcionam como refúgio contra predadores e como suporte das posturas do choco e do búzio.
Onde se podem encontrar pradarias?
Das 60 espécies conhecidas mundialmente, apenas quatro são autóctones das águas europeias.
Em Portugal, existem três dessas espécies: Zostera marina, Zostera noltii e Cymodocea nodosa.
A Zostera marina ou sebas (nome vulgar) pode ser encontrada na Lagoa de Óbidos, na Costa da Galé, no estuário dos rios Sado e Mira e nas rias Formosa e Aveiro.
Já a Zostera noltii ou sebarrinha (nome vulgar) forma pradarias nos estuários dos rios Mondego, Tejo, Sado, Mira, Guadiana e Arade e nas rias Formosa, de Aveiro e de Alvor.
Por último, a Cymodocea nodosa ou sebas (nome vulgar análogo ao da Zostera marina) é caraterística de águas mais quentes. Encontra-se no estuário do Sado, na Ria Formosa e nas praias da costa Algarvia.
Quem pode adotar?
Qualquer entidade, bastando para isso contactar o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (289800051) ou ver o site do projeto.
Pradarias marinhas adotadas no Algarve:
Pradaria de Zostera marina (Fuzeta)
Local: Ria Formosa
Área: 0,3 ha
Entidade adotiva: Liga para a Proteção da Natureza
Pradaria de Zostera marina (Culatra)
Local: Ria Formosa
Área: 1 ha
Entidade adotiva: Associação de moradores da Ilha Culatra
Pradaria de Zostera noltii (Ilha de Faro)
Local: Ria Formosa
Área: 1 ha
Entidade adotiva: Algae – Ecologia e Plantas Marinhas
Pradaria de Cymodocea nodosa (Ilha de Faro)
Local: Ria Formosa
Área: < 1 ha
Entidade adotiva: Gobius Comunicação e Ciência
Pradaria de Cymodocea nodosa (Albufeira)
Local: Arrifes, Albufeira
Área: 1 ha
Entidade adotiva: Scubasurf (Luís Mota)
Pradaria de Zostera marina (Ilha de Faro)
Local: Ria Formosa
Entidade adotiva: Escola Secundária Pinheiro e Rosa
Pradarias marinhas adotadas no resto do país:
Pradaria de Zostera noltii
Local: Rio Mira
Área: 1 ha
Entidade adotiva: Universidade de Évora
Pradaria de Zostera noltii
Local: Ponta do Adoche
Área: 1 ha
Entidade adotiva: Universidade de Lisboa
Pradaria de Cymodocea nodosa
Local: Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha
Área: < 1 ha
Entidade adotiva: Oceanário de Lisboa
Pradaria de Zostera noltii
Local: Rio Tejo
Área: 1 ha
Entidade adotiva: Universidade de Lisboa
Pradaria de Zostera marina
Local: Lagoa de Óbidos
Área: 1 ha
Entidade adotiva: ESTM, PATO, AcquaOeste
Pradaria de Zostera noltii
Local: Rio Mondego
Área: 1 ha
Entidade adotiva: Universidade de Coimbra
Pradaria de Zostera noltii
Local: Rio Mondego
Área: 1 ha
Entidade adotiva: CESAM
Todas as premiadas:
A primeira vencedora foi Elda Sousa, com o seu projeto “Viveiro de Plantas Indígenas”, através da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal.
O prémio, de 5.000 euros, atribuído pela Fundação Yves Rocher, permitirá a reabilitação do coberto vegetal da cordilheira central da ilha da Madeira, nomeadamente no Pico do Areeiro, e no Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha, que ficou devastado após um incêndio no verão de 2010.
O segundo prémio com um valor de 3.000 euros, foi para Alexandra Cunha e o seu projeto “ADOPTE – Adopte-uma-Pradaria-Marinha”. O objetivo do projeto – que passa pelo reforço do programa de conservação de pradarias marinhas, desenvolvido com o apoio do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR), – tem como intuito sensibilizar o público e as entidades responsáveis para a degradação destes habitats, através de atividades de reconhecimento e monitorização, promovendo, igualmente, o envolvimento dos cidadãos.
Ana Sofia André recebeu o terceiro prémio, no valor de 2.000 euros, pelo projeto “Viveiro de plantas autóctones”, desenvolvido em conjunto com o Grupo Flamingo – Associação de Defesa do Ambiente.
Este prémio contribuirá para uma multiplicação mais eficiente de algumas plantas autóctones na Mata dos Medos (Centro de Interpretação da Mata dos Medos – Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica), permitindo ajudar a criar habitats propícios à presença da fauna característica do local, cuja biodiversidade tem vindo a diminuir devido à ocorrência de incêndios, ao domínio das plantas invasoras e, à ação do Homem.
Em Portugal, o Prémio Terre de Femmes teve a sua primeira edição em 2010, com a vencedora Ana Alves da Silva e o seu projeto de Requalificação da Colónia do Falco Naumanni, desenvolvido com a Associação Nacional de Conservação da Natureza – Quercus e o Fundo para a Proteção de Animais Selvagens – FAPAS, em São Vicente, concelho de Elvas.
Na segunda edição, a premiada da iniciativa Terre de Femmes 2011 foi Raquel Granja, com o projeto “Raízes”, desenvolvido no âmbito da iniciativa “Despertar Consciências – Associação Ambiental”, integrada na Junta de Freguesia de Aldoar, levando a educação ambiental a escolas, instituições, centros de dia e lares da terceira idade.