Cobrança de deslocações e outras despesas que nunca foram feitas, utilização diária da cantina da instituição, apesar de receberem «um subsídio de almoço pago pela bitola mais alta», remunerações em benefício próprio pagas sem a necessária comunicação à Segurança Social e a manutenção de uma das administradoras como funcionária da Fundação Irene Rolo, apesar de há muito ter atingido a idade de reforma.
Estas foram algumas das acusações feitas por Macário Correia, presidente demissionário da IPSS de Tavira, às suas colegas de administração na instituição.
O ex-autarca era presidente da Fundação Irene Rolo há cerca de três anos, por nomeação da Segurança Social, principal financiadora da instituição. Na passada semana, veio a público, através de uma publicação na rede social Facebook intitulada «Servir ou servir-se da solidariedade, denunciar situações de abuso que tinha «acabado de descobrir», que, pelas suas contas, terão custado «cerca de meio milhão de euros» à instituição, nas últimas décadas.
Por afirmar não concordar com o que, alegadamente, se está a passar nesta IPSS, apresentou a sua demissão junto da Segurança Social, a quem denunciou a situação.
Contactado pelo Sul informação, Macário Correia reafirmou as suas acusações e garantiu que quando aceitou o cargo, lhe foi dito «que era tudo feito na base do voluntariado» e, como tal, nunca cobrou nada pelo seu trabalho em prol da instituição. Mas, afirmou, não era assim para todos os membros da administração, que além dele próprio, é composta por duas outras pessoas, já há muito na posse dos cargos.
Segundo o ex-presidente das Câmaras de Tavira e de Faro, uma das administradoras, octagenária, foi mantida como funcionária da instituição até ao ano passado, apesar de ter «atingido a idade plena de reforma em 2001». «Manteve-se até final de 2016, paga pela Fundação, altura em que já com 80 anos e a contragosto pediu a aposentação do lugar de funcionária da instituição. Recebeu cerca de 340 mil euros da Fundação, o que se poderia ter evitado, sem prejuízo nenhum da própria. Nenhuma outra instituição pública ou privada manteria esta situação com tamanha perda evitável de recursos», considerou Macário Correia.
«A administração é, praticamente, inamovível. Não há eleições nem Assembleia Geral [as nomeações são da responsabilidade da Segurança Social]. A pessoa em causa está na administração há 35 anos e também era funcionária. Durante 20 anos recebeu cerca de 20 mil euros por ano, quando já podia estar reformada», disse. A situação só mudou por pressão sua e contra a vontade da administradora da associação, assegurou.
Outra situação denunciada pelo presidente demissionário foi a de uma verba mensal de 450 euros que era paga ao seu antecessor e à secretária da direção, que ainda se mantém no cargo. As decisões foram tomadas pelos administradores da fundação «em 2002 e 2004», mas, alegou Macário Correia, nunca foram comunicadas à Segurança Social nem ao Conselho Fiscal, como seria obrigatório.
Apesar de admitir que, caso tivesse sido comunicada, «a remuneração era possível legalmente nas condições estatutárias», defende que apenas o anterior presidente «tinha deslocações expressivas», que justificariam o seu reembolso. «Tais decisões, as duas, acarretaram despesas de cerca de 100 mil euros», disse.
Estas situações só chegaram ao conhecimento de Macário Correia «muito recentemente», apesar de ser o presidente da instituição há três anos. «Desde que cheguei, consagrei o meu tempo aos novos projetos e às novas valências. Não andei a fazer perguntas sobre o passado», justificou.
Mas, «há pouco tempo, quando estava a assinar um conjunto de cheques, deparei-me com um em nome de uma das pessoas da administração. Fui ver a folha de despesas correspondente e percebi que eram falaciosas. Quando perguntei o que era aquilo, foi-me dito que era assim há anos», acrescentou.
A partir desse momento, foi pesquisar e encontrou as outras situações que descreveu nessa comunicação e, mais tarde, numa segunda publicação no Facebook, onde explica a razão de ter demorado tanto tempo até dar conta da situação.
O Sul Informação contactou a Fundação Irene Rolo, que diz estar a preparar uma resposta às acusações que foram feitas pelo seu ex-presidente e que a divulgará oportunamente. O nosso jornal também já questionou a Segurança Social sobre se tinha conhecimento da situação e que medidas pensa tomar, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.