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Dois investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMar) da Universidade do Algarve (UAlg) vão rumar até ao extremo Sul do planeta para estudar a fauna local. Será uma viagem longa para estudar a adaptação às alterações climáticas de uma espécie de peixes que vivem em águas muito frias, estudo que pode dar um contributo ao trabalho que já é desenvolvido pelo CCMar, garantiram Adelino Canário e Pedro Guerreiro.

Os dois cientistas vão desenvolver na Antártica o projeto «Fishwarm», no âmbito do Programa Polar Português (Propolar), e devem chegar à Ilha King George no dia 26 deste mês. Ficarão nesta ilha 77 dias, cerca de dois meses e meio, alojados numa Base Polaca.

A ida dos cientistas algarvios marca também um passo adiante no programa nacional de investigação nos Pólos. O voo que levará os dois investigadores do CCMar vai dar “boleia” a mais de uma centena de investigadores de diferentes nacionalidades e foi fretado por Portugal, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Adelino Canário e Pedro Guerreiro foram os convidados do programa radiofónico CRIA FM, dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM.

Segundo Pedro Guerreiro, «são várias» as extrapolações para a nossa realidade que podem surgir de experiências feitas em ambientes extremos.

«Nós estamos numa época em que um dos principais problemas são as alterações climáticas. Queremos saber como os organismos nos ambientes extremos se adaptam a essas alterações, se se extinguem ou se são capazes de mudar e evoluir até melhor noutros locais», disse o investigador do CCMar.

«O que nós vamos lá fazer mostra-nos a capacidade de resposta destes animais e isso pode ser extrapolado para o que cá fazemos. Por outro lado, foram animais que evoluíram num ecossistema fechado durante muitos anos e que, ou perderam algumas características ou ganharam outras que a nossa fauna não tem. Por vezes, há mecanismos que nós não conseguimos resolver e, conhecendo como são noutras espécies, podemos tirar conclusões sobre o que vemos e estudamos todos os dias e não conseguimos explicar», resumiu Pedro Guerreiro.

A espécie em que os investigadores do CCMar pretendem focar a sua atenção é o bacalhau-antártico, uma espécie que vive em águas com temperaturas «entre os dois graus negativos até mais ou menos zero graus».

«Eles têm vivido assim praticamente desde sempre e se a temperatura subir acima dos três graus, eles não conseguirão sobreviver. Portanto, do ponto de vista científico, é importante perceber como é que uma espécie aguenta determinado nível de temperatura», ilustrou Adelino Canário.

E é precisamente nisso que assenta o projeto «Fishwarm». Os dois cientistas vão sujeitar peixes, que eles próprios terão de capturar, a diversos estímulos e situações, alterando a temperatura e a salinidade da água em tanques próprios para o efeito.

«As ilhas para onde vamos têm uma característica interessante. No centro da Antártida, as alterações climáticas ainda não se fazem sentir muito, mas na zona mais acima, de fronteira, já se notam amplitudes térmicas bem mais elevadas», acrescentou Pedro Guerreiro.

 

Portugal vai oferecer voo a investigadores de todo o mundo

O voo que levará Adelino Canário e Pedro Guerreiro do Chile à Ilha King George será fretado «com meios portugueses» e vai servir como moeda de troca na dinâmica de colaboração mundial única existente na Antártida. Esta é a primeira vez que Portugal dá um contributo  logístico substancial para a missão internacional no continente mais no Sul do planeta, algo que «é muito importante para o posicionamento internacional» do país, segundo Adelino Canário.

Uma vez que Portugal não tem uma base na Antártida, os já muitos investigadores que participam no Propolar ficam alojados em infraestruturas instaladas por outras nações, neste caso, uma Base Polaca. Em contrapartida, não irá pedir dinheiro a nenhum dos investigadores que usufruírem do voo Punta Arenas (Chile) – Ilha King George – Punta Arenas que fretou, que até pode nem contar com qualquer investigador polaco.

A Antártida é um continente que foi considerado, por uma convenção internacional, como um território para a paz, ciência e preservação a natureza. Daí as missões científicas de muitos países que ali existem. Esta classificação também leva a que os investigadores sigam regras apertadas.

«Ninguém pode introduzir nem trazer nada da Antártida», explicaram os investigadores algarvios. Ou seja, a equipa do «Fishwarm» terá de levar consigo todo o material que precisa, fazer in loco as experiências que conseguir e voltar a trazer o que levou, para Portugal. Mesmo no que diz respeito aos espécimes que será necessário recolher para fazer as experiências há regras muito apertadas.

«Antes de podermos fazer este projeto, tivemos de submeter um formulário dizendo o que pretendíamos fazer, quantos animais é que iríamos capturar e de que espécie. Tudo isso tem de ser aprovado. Existe um compromisso entre o razoável para fazer o nosso trabalho, sem causar impacto na espécie», explicou Pedro Guerreiro.

 

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Fotos de: Adelino Canário

 

 

 

 

 

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