A associação Almargem promove este domingo, 12 de Fevereiro, às 10h00, uma concentração em Lagoa, para «protestar contra a destruição em marcha das Alagoas Brancas, uma pequena zona húmida que é o que resta de tudo aquilo que deu nome e razão de ser a esta cidade algarvia».
A pequena zona húmida, que nos últimos anos tem servido para a invernada de várias espécies de aves e por isso passou a ser conhecida pelos observadores de aves, é o bocadinho que ainda sobrevive das antigas zonas alagadiças, as Alagoas, que terão dado nome à localidade.
Mas a destruição desta zona já começou há décadas, com a criação do parque da Fatacil e da zona comercial e industrial adjacente, a construção de uma urbanização junto à EN125, a sul desta estrada, e, mais recentemente, com o desvio da vala de drenagem, a chamada vala mestra, para dar lugar à construção de dois hipermercados, ligados por uma variante da estrada Lagoa/Carvoeiro e duas novas rotundas.
Apesar de anos de destruição, foi o avanço de mais uma urbanização, cujas obras estão a decorrer no terreno, e que vai levar à destruição do último pedaço de zona húmida, que lançou o alarme entre os ambientalistas.
Esta nova área de urbanização nada mais é que a expansão da zona industrial atrás da Fatacil e integra sete lotes industriais, dos quais, no âmbito das cedências obrigatórias, dois, situados ao pé do campo de futebol, serão cedidos à Câmara de Lagoa. Um dos lotes restantes deverá vir a albergar mais uma grande superfície, a terceira naquele mesmo local.
Em comunicado, a Almargem salientou que «esta pequena zona húmida possui uma importância significativa» e que «as largas centenas de íbis-preto (Plegadis falcinellus) e inúmeras outras aves aquáticas, que atualmente aí passam o Inverno, estão assim em perigo iminente».
Segundo João Santos, da direção daquela associação algarvia de defesa do ambiente, «o íbis-preto encontra-se incluído no Anexo I da Diretiva das Aves, o que significa ser uma espécie de proteção prioritária a nível europeu. Até há pouco tempo era considerada uma espécie extinta em Portugal, mas ultimamente tem vindo a recuperar, graças a indivíduos provenientes do sul de Espanha, nomeadamente de Doñana».
Por isso, a Almargem começou por pedir à Câmara Municipal de Lagoa, à Inspeção Geral do Ambiente e ao SEPNA-GNR que efetuassem as «ações necessárias para a suspensão imediata das obras em curso, de forma a evitar mais um lamentável crime ambiental no Algarve».
Acontece que o loteamento em causa já foi licenciado, pelo anterior executivo municipal de Lagoa, depois de terem sido ouvidas todas as entidades, nomeadamente ligadas ao Ambiente e ao Ordenamento do Território, como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional.
Francisco Martins, presidente da Câmara de Lagoa, em declarações ao Sul Informação, defendeu que o município nada pode fazer. «O projeto de loteamento, para expansão daquela zona industrial, foi aprovado em 2008 e todo o processo de consultar as entidades, etc, já vinha de trás. Neste momento, está tudo devidamente autorizado e licenciado».
Ainda assim, os ambientalistas não baixam os braços. «Quantos mais formos, mais força teremos para convencer a Câmara Municipal a intervir e chegar a acordo com os proprietários, de forma a manter pelo menos uma parte do local como reserva natural, espaço de observação da natureza e de educação ambiental», salienta a Almargem na convocatória pública para o protesto de domingo.
O ponto de encontro será no parque de estacionamento do supermercado ALDI, a sul da EN125, na estrada para Carvoeiro, mesmo frente ao local que está a ser aterrado.
Apesar de afirmar a sua impotência para fazer alguma coisa quanto a este caso, o presidente da Câmara de Lagoa deixou uma garantia, nas suas declarações ao Sul Informação: «a Norte da EN125, na zona dos arrozais, não avançará nenhuma urbanização. No próximo PDM, essa zona está salvaguardada». Ou seja, os bandos de íbis-pretos ou de garças-brancas que por aqui andam terão ainda como refúgio essa zona, também alagadiça, a norte da principal estrada do Algarve e junto à cidade de Lagoa.
Para resolver quando houver problemas, ficará, no entanto, a questão da previsível inundação de toda a zona onde agora se erguem hipermercados, armazéns, oficinas, estradas, rotundas, lojas, escritórios, casas, um campo de futebol e a Fatacil.
Como escreveu na sua página de Facebook o bloguer Jomar de Lagoa, «é um facto que toda esta área é uma zona de inundação, que fazia parte das antigas alagoas. E se um dia destes chover como em 1989, com todos os aterros aí colocados, com todos os terrenos impermeabilizados e construções feitas e em curso, vai tudo ficar debaixo de água e as aves vão voltar ainda em bandos maiores! Provavelmente só uma espécie de “patos bravos” vão procurar poiso para outros locais!…».