Há cinco anos, foi o principal impulsionador de uma associação para fazer a ponte entre a comunidade internacional e as diferentes forças de segurança e de proteção civil do Algarve. Na quinta-feira, David Thomas, fundador da Safe Communities Algarve, recebeu uma distinção da Rainha de Inglaterra, pelo seu trabalho meritório e totalmente voluntário junto da população britânica e internacional, no Algarve.
O British Empire Award foi atribuído a David Thomas numa cerimónia que decorreu em Lisboa, na residência da Embaixadora de Inglaterra em Portugal. O evento contou com a presença de representantes de forças de segurança e de diversas entidades portuguesas, em muitos casos os responsáveis máximos pelas organizações presentes.
Desde 2011, altura em que a Safe Communities Algarve deu os primeiros passos (a constituição como associação só aconteceu no ano seguinte), David Thomas e a sua equipa celebraram protocolos com nove entidades, entre as quais a GNR, a PSP, o SEF e a PJ, mas também com a Autoridade Nacional de Proteção Civil, a AMAL e o Turismo do Algarve.
O resultado prático desta aproximação foi uma diminuição significativa dos crimes graves contra a população estrangeira, no Algarve, e um aumento substancial da perceção de segurança, entre a comunidade internacional.
«Nós lançámos a Safe Comunnities Algarve para ajudar a polícia da região, pois na altura [2011] havia muita criminalidade grave dirigida a estrangeiros, particularmente em zonas mais isoladas do interior. E, como é natural, a comunidade internacional estava preocupada, a Governadora Civil [Isilda Gomes] estava extremamente preocupada e a GNR estava aberta a ideias que os pudessem ajudar a resolver o problema», explicou ao Sul Informação David Thomas.
Esta conjuntura levou-o a aproximar-se do Governo Civil e do comandante da GNR. «Foi no seguimento das conversas que tivemos que decidimos criar a Safe Communities Algarve, não para duplicar o trabalho da polícia, mas para ajudar. E penso que resultou muito bem», considerou.
Na prática, houve, a partir do momento em que a associação começou a colaborar com as autoridades, uma diminuição consistente da criminalidade grave dirigida à comunidade internacional. Mais do que melhorar as estatísticas, a parceria entre a Safe Communities e as diferentes forças policiais ajudou o Algarve a manter e, até, reforçar, a imagem de destino turístico seguro.
O sucesso foi tal, que a Safe Communities Algarve acabou por mudar o nome para Safe Communities Portugal, estendendo a sua atuação a várias zonas do país, em 2014.
«Também alargámos as nossas áreas de trabalho, para incluir o cibercrime, que é um assunto sério, e a proteção civil, nomeadamente na questão dos incêndios», contou David Thomas em entrevista ao Sul Informação.
Montar uma rede colaborativa, que envolve civis, forças de segurança e entidades com as mais diferentes competências, é trabalho que não se adivinha fácil. Mas isso não desmotivou David Thomas, que se valeu da sua vasta experiência como agente policial, que teve uma forte componente de cooperação internacional.
«Trabalhei no departamento de polícia de Hong Kong durante 30 anos. Também estive quatro anos na Interpol , em Lyon, na França, e estive integrado, durante seis meses, num projeto especial das Nações Unidas, em Bangkok, chamado UNODC – United Nations Office on Drugs and Crime», contou David Thomas.
Para o presidente da Safe Communities, a experiência ganha durante a sua vida profissional «foi importante, pois tive a oportunidade de falar com forças policiais de muitos países diferentes».
Quando se reformou, há cerca de 11 anos, David Thomas escolheu o Algarve para se fixar, com a sua família. «Nós passávamos férias em diferentes países europeus e, nos anos 90, começámos a vir para o Algarve. Gostámos muito desta região: as pessoas são muito simpáticas, o clima é muito bom e era muito barato, na altura (risos). Por isso decidimos comprar aqui casa e viver cá depois de eu me reformar», recordou.
«Estou absolutamente encantado com esta distinção, porque tem a ver com o meu esforço pessoal e com aquilo que fizemos na Safe Communities Portugal. Mas também penso que ela se espelha em todos os que trabalham comigo, pois não sou apenas eu e os outros membros da associação, é também a polícia e todas as outras entidades que trabalham connosco. Ser reconhecido pela Rainha de Inglaterra é, sem dúvida, ótimo para todos nós», considerou.
E, apesar deste ser um prémio dado pela monarca inglesa a um cidadão britânico, a Safe Communities está longe de ser uma associação que dá um ênfase especial à comunidade vinda do Reino Unido: dedica-se a dar apoio a todos os estrangeiros que vivem ou visitam Portugal e também conta com ajuda de portugueses.
«Gosto de pensar que a associação serve todas as comunidade, pois é muito importante que assim seja. Basta dizer que, na direção da associação, somos cinco membros, um britânico, um australiano, um norte-americano, um espanhol e um português», ilustrou David Thomas.
O trabalho da Safe Communities começa na colaboração com as autoridades, para aumentar a segurança (e a sua perceção) junto da comunidade estrangeira. Mas servem também de referência para qualquer estrangeiro que tenha um problema em Portugal.
«Normalmente, somos mais procurados por pessoas que precisam de apoio: perdi o meu passaporte ou fui vítima de um crime, o que devo fazer?», disse.
Um trabalho que David Thomas vai continuar a fazer e que, quem sabe, poderá descrever pessoalmente à Rainha de Inglaterra, já que foi convidado por Isabel II «a estar presente numa receção no Palácio de Buckingham, no ano que vem».