O polvo é uma das iguarias que marca presença em muitas mesas durante o Natal e os armadores algarvios querem que a tradição continue. No entanto, o setor vive com muitas dificuldades, como a falta de isco e, apesar de as capturas não terem diminuído, e de não haver falta de polvo no mar, o aumento da procura pode levar a que o stock não seja suficiente.
Em entrevista ao Sul Informação, José Agostinho, presidente da Associação de Armadores de Pesca de Polvo do Algarve (Armalgarve-Polvo), assumiu que o polvo capturado não deve ser suficiente «porque duplicou ou triplicou o consumo e as capturas continuam as mesmas».
A Armalgarve «tem trabalhado com italianos ou espanhóis, para mostrar que temos o melhor polvo do Mundo e isso gerou automaticamente maior procura. Mas agora não temos quantidade para tudo isso. Há pedidos de exportação, mas não há polvo suficiente para todos. Procuramos soluções para que, nesta altura, este prato tradicional nunca venha a faltar nas mesas dos portugueses e também não falte às empresas que exportam para vários pontos do mundo».
Com o aumento da procura, o preço tem tendência a subir e já «aumentou cerca de 10 a 15% e, até ao Natal, ainda vai oscilar. Desde Setembro, notou-se mais. Houve publicidade através de televisões, jornais… a qualidade do polvo é cada vez mais conhecida e isso tem aumentado a procura».
Apesar deste aumento de preço, José Agostinho diz que este «está estabilizado». Só que, explica, «em trabalho conjunto entre a Armalgarve e a Docapesca, ensinámos as pessoas a comer polvo, promovemos novas formas de confeção, foram feitas promoções, envolvemos a restauração e a hotelaria, os estrangeiros também começaram a comer polvo e estamos preocupados que não consigamos corresponder a toda esta procura».
As razões para que as capturas não aumentem são várias, mas José Agostinho destaca uma: «a falta de isco». «Trabalhávamos com sardinha antigamente, mas agora é impossível, e a cavala que veio substituir a sardinha é pouca e é cara».
Segundo o responsável da Armalgarve, «a ausência de captura de cavala é muito grande e os barcos têm de ficar parados duas, três semanas, até um mês, sem isco para trabalhar. Tentamos substituir com o que aparece, como bogas ou carapau negrão, mas não são alternativas, porque não há quantidades suficientes. Por isso, os barcos perdem semanas e não trabalham e, se não trabalham, não garantem uma mensalidade que salvaguarde as famílias que estão dependentes da pesca do polvo. Isso é grave e está a prejudicar a atividade, está a levá-la à rutura».
A falta de rendimento da pesca do polvo está a fazer com que muitos barcos abandonem esta arte. «Quarteira chegou a ter 40 barcos na pesca do polvo, agora tem 9 ou 10. Está a desaparecer a pesca do polvo em Quarteira e em algumas zonas do Algarve. Estamos preocupados. Já tentámos inserir a pesca do polvo com alcatruz [sem isco], para preencher o vazio, mas nem toda a gente se adaptou», diz o armador.
Por isso, José Agostinho pede ajuda ao Governo, que está a «preparar pequenas alterações na legislação e esperamos que faça alguma relacionada com esta atividade».
O armador considera que «era importante que abrisse a pesca com caranguejo, com isco vivo, que era mais uma alternativa para preencher os vazios. Também que nos seja atribuído o AIS [sistema de tracking] para termos um maior controlo sobre o excesso da quantidade de arte, além de que vem salvaguardar as embarcações, por exemplo, em caso de intempérie, o que pode salvar vidas humanas».
Segundo o responsável da Armalgarve, o AIS e a utilização de chips irão permitir «que toda gente pratique pesca controlada e organizada».
O armador garante que «José Apolinário, secretário de Estado do Mar, está a par da situação e está nas mãos dele. Pedimos que dê resposta com a maior brevidade a esta situação, para que tenhamos uma pesca mais equilibrada e organizada».
Em relação a estas alterações para o setor, José Agostinho espera que, «a partir de Janeiro, haja novidades, que ajudem a melhorar a atividade, para que possamos ajudar o país… Sabemos que o PIB do mar não representa muito, mas, de tudo um pouco, ajuda», conclui.