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O audiovisual, a investigação sobre artes e património, o design e os novos produtos multimédia estão bem e recomendam-se no Algarve. Esta é a primeira constatação que pode surgir da sessão sobre «Artes e Património: Media, Artes e Tecnologia», que teve lugar quinta-feira à tarde na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, no âmbito do ciclo «Inovar Algarve».

O objetivo desta sessão foi pôr em contacto investigadores, empresas, criadores e entidades oficiais, para falarem sobre o que cada um anda a fazer, como estabelecer pontes entre estes vários mundos e, sobretudo, como transferir conhecimento e tecnologia, nomeadamente ao nível da inovação, afinal o mote geral do evento «Inovar Algarve».

Nuno Bicho, arqueólogo e professor da UAlg, começou por mostrar como a tecnologia é usada na sua área de investigação, enquanto João Pedro Bernardes, também investigador e professor da UAlg, salientou que «hoje é preciso ligar a investigação à comunidade e pôr o património cultural ao serviço das pessoas», tornando o «património um fator de desenvolvimento local».

Como exemplo da transferência de conhecimento «para os criadores e para o tecido económico local», «incorporando o valor do património nos novos produtos», João Bernardes recordou o projeto TASA. Mas falou ainda do potencial que a «recente descoberta pela UAlg de colmeias com 2000 anos em Sagres, provando que se trata de um produto alimentar com tradição milenar no Algarve», pode ter para os produtores de mel. «Elementos como estes podem ser incorporados no marketing dos produtos atuais».

Das empresas presentes nesta sessão, quase todas foram criadas por pessoas que fizeram a sua formação na Universidade do Algarve, o que acaba por ser também uma espécie de transferência de conhecimento.

 

Mercado algarvio é pequeno

 

Uma área que parece estar em expansão na região é a do audiovisual e multimédia. Pelo palco desta sessão passaram, por exemplo, Nuno Ribeiro, da escola etic_algarve (Portimão), Pedro Águas, da We Make Productions, que produz trabalhos na área do vídeo, motiongraphic/3 D, produtos multimédia e fotografia, ou ainda Nelson Martins, da KotoStudios, uma produtora de conteúdos para televisão, publicidade e cinema, que nasceu no Algarve mas está ligada a uma multinacional, tendo como clientes por exemplo a Escolinha do Figo, a Opel, a Renault, a Zon, ou a TMN.

Sonat Duyar não estudou na Universidade do Algarve, nem sequer estudou nada que tivesse a ver com a paixão que, pelo menos desde os 10 anos, o levou ao mundo do cinema. É conhecida a curta-metragem «Comando», produzida e realizada por Sonat e por dois amigos, com poucas dezenas de euros, e que rapidamente se tornou um sucesso.

Graças à visibilidade do seu trabalho e à vontade de investir a sério na área do cinema e da produção audiovisual, Sonat e os amigos criaram a empresa New Light Pictures, para a qual foi fundamental a «injeção de capital» feita por um empresário algarvio que acreditou no projeto.

A New Light Pictures dedica-se agora a produzir conteúdos audiovisuais nas mais variadas áreas, mas Sonat afirma que a sua «principal paixão continua a ser o cinema».

No entanto, porque «o Algarve é um mercado muito limitado, estamos bastante empenhados na ideia de que a internacionalização é muito importante».

 

Design, Benfica e produtos tradicionais

 

A nível do design de comunicação, António Lacerda, que é professor da área na UAlg, apresentou a experiência da sua empresa Design Thinking, nomeadamente um projeto inovador de rótulos para vinhos, produzidos no Algarve, que estão a internacionalizar-se para a Tailândia.

A SPIC Solutions, com sede em Almancil, apresentada por Tânia Martins, tem apostado na área dos new media, tendo desenvolvido, por exemplo, a Smartk, uma plataforma multicanal de marketing, ou produtos de 3D que não implicam a utilização de óculos, a nível de realidade aumentada, touch screen e deteção de movimento.

Neste campo, Tânia Martins apresentou o touch screen desenvolvido pela empresa para o Turismo do Algarve, com toda a flora e fauna algarvia.

Finalmente, juntando tudo isso, Tiago Toregão e Ricardo Nascimento apresentaram o projeto O Bolo Rei, que resulta da associação entre cinco empresas – Triplesky, Algardata, Stills, Flavour e VinilConsta – que se foram encontrando em diversos projetos. Trata-se «de um consórcio informal», «algo inovador na forma como o desenhámos» .

Tiago Toregão, a propósito da aposta que o Algarve deve fazer na inovação, disse que é «necessário criar um ecossistema que case talento, território e tecnologia, ou então o Algarve vai ficar para trás».

No âmbito das empresas inovadoras na área das Artes e do Património, foram ainda apresentadas as experiências da Argo e da Tertúlia Algarvia.

A Argo atua nas áreas da conservação e restauro, reabilitação arquitetónica, formação técnica e gestão de coleções. E foi precisamente nesta área que surgiu o mais emblemático projeto da Argo, a conservação e valorização da coleção do Benfica, nomeadamente de taças e troféus, mas não só. E este é um mercado com muito potencial. «Os clubes de futebol têm muitas coleções, mas não têm a sensibilidade para as explorar. Aí entramos nós», disse Mariana Basto, responsável pela empresa.

Quanto à Tertúlia Algarvia, prepara-se para abrir, em breve, o seu espaço na Vila-a-Dentro de Faro, frente ao Museu Municipal. O objetivo foi criar um espaço para a promoção da identidade cultural do Algarve e por isso a sede da Tertúlia terá, por exemplo, uma sala de show cooking para workshops gastronómicos e sobre vinhos, uma loja com produtos gourmet regionais e artesanato genuíno, entre muitas outras valências.

«Há muitos trabalhos da Universidade do Algarve que precisam de ser conhecidos fora da universidade. Porque não apresentá-los no espaço da Tertúlia Algarvia», desafiou Lélia Madeira.

Dos projetos de criadores que têm aportado inovação ao Algarve, José Laginha falou sobre os Encontros do DeVIR, que continuam em fevereiro agora no litoral do Algarve, depois de em setembro terem começado na Serra do Caldeirão, enquanto Pedro Correia apresentou o trabalho do LAC Laboratório de Atividades Criativas de Lagos, sobretudo na área das residências criativas.

 

Plano Estratégico para a Cultura precisa de dinheiro

 

A fechar uma sessão que se prolongou por quase três horas, com curtas apresentações de pouco mais de 5 minutos, a diretora regional de Cultura falou sobre a Convenção de Faro, assinada em 2005 nesta cidade pelos ministros da Cultura de toda a Europa, e que apresenta como novidade precisamente o facto de «olhar para o património , para as artes, como um todo, não os metendo em caixas mas antes articulando-os. O território é a base de onde parte o património, mas o ponto de chegada é este Algarve criativo e plural que hoje está aqui».

Dália Paulo recordou ainda o trabalho que tem vindo a ser feito por aquela direção regional, em conjunto com a Universidade do Algarve, para definir «o primeiro plano estratégico para a Cultura» na região.

«O objetivo é perspetivar o futuro até 2020», disse, acrescentando que, «agora que o diagnóstico está feito, agora que percebemos onde estamos e sabemos onde queremos chegar, há que fazer um Plano Estratégico para a Cultura no Algarve. Mas um Plano, para o ser verdadeiramente, tem que ter um pacote financeiro para o implementar, tem que haver um pacote associado a fundos nacionais e a fundos da União Europeia. Isso implica a tutela. Mas, se não houver esse pacote financeiro para a Cultura do Algarve, não será um verdadeiro plano, antes um conjunto de boas intenções», assumiu Dália Paulo.

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