Será «o Campus do Mar da Universidade do Algarve», onde o Centro de Ciências do Mar (CCMAR) do Algarve instalará a sua base, mas também uma zona de fruição pública, um pólo turístico e até um lugar para passar os anos dourados, em residências assistidas para idosos.
É esta a visão que a Câmara de Faro e o diretor do CCMAR Adelino Canário têm para o futuro do Porto Comercial de Faro, projeto que será apresentado publicamente esta sexta-feira, às 14h00, na Biblioteca de Faro.
Esta ideia é o contributo da Câmara de Faro e do CCMAR para um levantamento que foi feito sobre o futuro das áreas portuárias do Algarve, na sequência de um protocolo celebrado entre a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve e o Governo. Agora, caberá à Administração de Portos de Sines e do Algarve (APS) – e, em última análise, ao Ministério do Mar que a tutela – decidir se o projeto é ou não para avançar.
Para já, há muito trabalho de casa feito. A autarquia farense, em conjunto com Adelino Canário, apelidado de «pai espiritual deste projeto» pelo presidente da Câmara Rogério Bacalhau, apresentou hoje de manhã, aos jornalistas, aquilo que defende que se deve fazer ao terreno de 18 hectares hoje ocupado pelo Cais Comercial, infraestrutura «que está inativa há cerca de um ano».
A base de todo o projeto, denominado FarFormosa, são as novas instalações do CCMAR, às quais estará associado um aquário para visitação pública e um espaço para incubação de empresas, inseridas numa zona destinada à Universidade do Algarve, que também terá uma componente de ensino – pós-graduações e mestrados – naquilo que Adelino Canário descreveu como «o Campus do Mar da UAlg».
«Isto será um polo da Universidade, que juntará a investigação – não só o CCMAR, porque de certeza que haverá outros interessados, porque só existe um Mar – a outras dimensões. Haverá pós-graduações e mestrados, empresas a ser criadas e outras que se quererão fixar ali», considerou o diretor do CCMAR e professor da UAlg.
O aquário será outra infraestrutura a construir neste «polo do Mar de Faro», que ficará instalado logo à entrada da península que alberga hoje o Cais Comercial. «Não deveremos ser nós a gerir o aquário, devemos concessionar a uma entidade privada. Mas vai haver interações entre este equipamento e o centro. Será um mini Oceanário, onde a nossa preocupação primária é mostrar a flora e fauna desta zona. Há tanta coisa aqui, desde corais a animais, que são tão interessantes no que toca à forma, cores e comportamento, que se ajusta perfeitamente», acrescentou Adelino Canário.
A esta componente pública do projeto aliar-se-á outra para o desenvolvimento de iniciativas privadas, nomeadamente turísticas. Aqui, o centro será uma Marina com 440 amarrações, na zona Nascente da península, que se desenvolverá tanto na parte a Sul, como na parte a Norte do atual cais. Além dos edifícios da UAlg, que ficarão entre espelhos de água, esta zona também terá comércio e serviços, segundo descreveu o autor do projeto, o arquiteto Pedro Vaz.
Na parte Norte, a que confina com o parchal que existe entre o Cais e a Zona Industrial do Bom João, serão construídas as residências assistidas, que se apoiarão num centro de dia. Também será aqui que serão construídos o Centro de Congressos e os três hotéis, dois deles mais vocacionados para dar apoio a esta última infraestrutura e o outro com uma componente assumidamente turística.
A população de Faro é convidada a fazer deste o seu espaço. Para isso, será criada uma bolsa de estacionamento para 450 carros, a Poente, servido por uma ciclovia com 4680 metros, que dará acesso a todas as infraestruturas previstas no projeto.
Com todos estes elementos, que serão distribuídos de forma equilibrada na área de implementação do projeto, pretende-se criar um núcleo de desenvolvimento, que inspirará a requalificação da antiga zona industrial existente ali bem perto, abaixo da linha férrea. Aliás, como ilustrou o edil de Faro Rogério Bacalhau, o Plano de Pormenor desta zona da cidade, já em curso, está muito dependente da solução que for encontrada para os 18 hectares do Cais Comercial.
«Esta é uma oportunidade não só para o CCMAR, mas para a cidade. Isto vai mudar radicalmente o centro da cidade de Faro, porque, ao atrair todos aqueles equipamentos e pessoas para aquela zona, o IKEA deixa de ser o polo geográfico de Faro e este volta a ser a Baixa. E também se abre a possibilidade da cidade ser um Campus universitário», acredita Adelino Canário.
Conhecido o ambicioso projeto, fica no ar a pergunta: E quem paga? Rogério Bacalhau frisa que este é um projeto com uma forte dimensão privada e que, «dependendo do modelo que se adote e da gestão que for feita», poderá «não ter qualquer custo para o erário público», já que os privados poderão garantir todo o investimento, como contrapartida para a exploração do espaço.
Uma ideia que foi repetida por Pedro Vaz, que até “trocou por miúdos” o que poderá acontecer. «Do que está previsto no projeto, apenas 25 por cento são equipamentos públicos. Se os restantes 75 por cento são privados e podem dar retorno financeiro, a parte pública pode ser construída a reboque», acredita o projetista.
O edil farense garantiu que interessados não faltam e que já foi abordado «por diversos investidores», alguns dos quais «estarão representados na apresentação desta tarde». «Estou certo que, quando abrirem concursos, haverá vários interessados», afirmou.
Neste momento, a bola está do lado da APS e do Governo. «Já apresentámos a ideia aos administradores do Porto de Faro, que se mostraram interessados», disse Rogério Bacalhau. Falta agora saber qual a posição da ministra do Mar, que foi convidada para estar esta tarde na apresentação do projeto, mas não poderá comparecer.