A inspiração surgiu em França, mas, como indica o nome, os crepes do são-brasense Tony Cruz dificilmente podiam ser mais algarvios. Queijo de cabra, alcaparras, azeitonas, amêndoa, chouriço serrano e as mais variadas ervas, todos eles ingredientes provenientes do Algarve e escolhidos a dedo pelo chef, juntam-se a crepes feitos de trigo sarraceno 100% biológico e fazem o «Crepe Algarvio», cujo lançamento oficial acontecerá na Feira da Serra de São Brás de Alportel, entre 27 e 30 de Julho.
No passado sábado, Tony Cruz recebeu na Quinta do Peral, em São Brás, um grupo de provadores, entre os quais jornalistas, para lhes dar a conhecer os vários crepes que já desenvolveu e que terá à venda na caravana que ele próprio idealizou e servirá de casa itinerante do «Crepe Algarvio». Também presente esteve o executivo municipal são-brasense, que está a apoiar este empreendedor local na fase de arranque.
A ideia do empresário algarvio é fazer um produto «honesto e simples», para o levar na sua caravana a eventos por esse país fora (e não só), mas também onde o coração ditar, já que, diz, é dado a decisões na hora.
O facto de se estar perante um empreendedor bem original ficou claro mesmo antes da massa tocar nas quatro crepeiras. É que Tony Cruz, à semelhança dos produtos que desenvolveu, tem uma história de vida muito pouco convencional. Nascido em França, viveu em São Brás de Alportel entre os 5 aos 21 anos. Com essa idade, voltou a terras gaulesas, para se dedicar à construção civil, área em que trabalhou e em que foi dono de empresas.
Mas, um dia, a vida pregou-lhe uma partida e, por motivos de saúde, teve de abandonar o seu mister. «Um dia, as mãos não me permitiram continuar a trabalhar e vi-me obrigado a sair mais cedo do trabalho. Pelo caminho, vinha a conduzir na autoestrada e a pensar na vida, até que passei numa grande loja de eletrodomésticos. Parei lá, por nenhuma razão especial, e andei pelos corredores e, ao fundo de um, encontrei duas crepeiras todas bonitas a brilhar. E pensei: vou levá-las para casa e vou-me pôr a fazer crepes», descreveu o chef são-brasense.
«Na altura, não sabia o que era um crepe, nem o que era uma receita para o fazer. Instruí-me, aprendi as origens do crepe – que é um produto milenar. Ao mesmo tempo, tive a vantagem de ter contactos na região da Bretanha, que dizem que é a região fetiche do crepe. E fui aprendendo pouco a pouco o que era este mundo», contou.
Tudo começou numa lógica caseira, «tipo biscateiro de domingo», onde Tony Cruz ia fazendo experiências e apurando a sua técnica. «Fui vendo vídeos, telefonando a amigos do ramo hoteleiro que me foram dando dicas e, ao ver que conseguia fazer um crepe, fiquei todo contente», acrescentou.
O tempo passou e a paixão foi crescendo. A ideia de comercializar os seus crepes acabou por surgir, por incentivo dos amigos, que iam seguindo nas redes sociais os seus progressos culinários. Isto levou-o a decidir sair de França e regressar «à sua terra».
Aqui, reencontrou os produtos da terra, com os quais cresceu, e o negócio começou a tomar forma. «Tenho a sorte de ser quarentão e de ter vivido os anos 80, aquela altura da couve na horta, da laranjinha… Ao voltar aqui à minha terra, acabei por ficar sensibilizado para a necessidade de valorizar a muita coisa que ainda temos aqui e, sobretudo, de fazer trabalhar o comércio local», considerou.
O nome «Crepe Algarvio» surgiu naturalmente, até porque Tony Cruz quer deixar bem claro, por onde passe, que este é um produto do Algarve.
E se dúvidas houvesse, nada melhor como provar (e comprovar) com o palato. Os sabores da serra algarvia são inconfundíveis nos crepes do chef são-brasense. Para entrada, há um crepe com forma de grade, em vez de ser circular, para se tornar mais leve, de queijo de cabra, alcaparras e azeitonas. Mas também há os convencionais crepes redondos, uns com chouriço do senhor Tolentino, produtor do Caldeirão, outros com a carne de vaca comprada no dia a produtores locais, usada no crepe de hambúrguer caseiro. Todos eles são abrilhantados pelas ervas aromáticas que o próprio Tony Cruz escolhe a dedo no seu fornecedor, a empresa Dias de Aromas, momentos antes de colocar as mãos na massa, e por azeite aromatizado.
Estes são os crepes salgados, mas também os há a apelar aos mais “doceiros”. Um deles, de queijo de cabra, doce de chila e “caramelo” de alfarroba, faz a transição para os assumidamente doces, onde ingredientes como o pêssego, o figo e a amêndoa se juntam a uma massa com o selo da casa.
Uma experiência gastronómica bem diferente, mas ainda assim com sabores bem familiares e que transportam quem prova o «Crepe Algarvio» numa viagem serra acima.
Fotos: Hugo Rodrigues/Sul Informação