Mais um dia desta Travessia da Via Algarviana, que se encaminha a passos largos (literalmente) para o fim. Hoje, na caminhada entre Vaqueiros e Furnazinhas, o cronista reflete sobre a estranha sinfonia que se ouve todas as noites…
Quarta-feira, 16 de abril, 12º dia de caminhada:
Neste tipo de caminhada, e porque no interior não há (ainda) estruturas de acolhimento turístico, a maior parte do alojamento é informal. Isso quer dizer que, normalmente, chegamos a um salão ou pavilhão desportivo, cada qual escolhe um local e estende o seu saco cama. Ou seja, é tudo à molhada.
Isto tem implicações na fase de dormir. É que ninguém admite que ressona, mas durante a noite temos tido muita animação roncadora. Temos tido uns duetos ibéricos muito interessantes, diferentes tipos sonoros e uma característica comum: são mesmo muito sonoros!
Em contraponto, também temos o som de apoio, em que a malta sopra em vários timbres e cadências…
Há dias, até tivemos um solista que, ainda com as luzes acesas e a malta a conversar, resolveu brindar-nos com uma interpretação magistral da obra »Ronco Opus 14». Quando finalmente apagámos a luz, o artista acordou, agradeceu com um sonoro «Boa noite!» e continuou a sua interpretação.
A acústica dos locais de pernoita também condiciona as atuações. Há sítios com eco e outros em que a estrutura até parece vibrar com o som.
E vejam só: no meio disto tudo, há caminhantes que dormem o sono tranquilo dos justos sem apreciar devidamente toda esta animação (eu!).
Voltando à caminhada: no percurso de hoje atravessámos a aldeia de Malfrades, que, segundo a lenda, deve o seu nome a um vizinho que, quando lhe perguntavam como ia a vida respondia: «bem de abóboras, mal de frades». (esclareça-se que frade é uma variedade de abóbora algarvia).
No Monte das Preguiças, onde, fazendo jus ao nome, descansámos um pouco, apareceu o que não é comum por estas bandas: uma criança de 11 anos, a Teresa, a passar férias com uma tia e muito curiosa com a nossa passagem.
Em conversa connosco, a Teresa deu-nos uma grande novidade: naquela aldeia até vivia um inglês!»
Amanhã, teremos pela frente o penúltimo dia desta travessia, com uma caminhada de 14,3 km entre Furnazinhas (Castro Marim) e Balurcos, já no concelho de Alcoutim. Sexta-feira chegamos lá!
Nota: hoje, devido a dificuldades de acesso à internet nesta região da serra algarvia, não foi possível enviarem para o Sul Informação as fotos do dia, por isso usamos uma de dias anteriores. Logo que recebamos as fotos, atualizaremos aqui e na galeria no Facebook.