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«Não estou convencido de que os investigadores [universitários] se possam tornar empresários». O diretor geral da COTEC Daniel Bessa esteve na sexta-feira no ciclo de conferências «Inovar Algarve», na Universidade do Algarve e não teve medo de ser polémico.

A Transferência de Tecnologia era o tema em causa, um processo que, considerou o também professor universitário, é ainda muito incipiente no nosso país.

A “provocação” de Daniel Bessa foi feita na sessão do Centro de Ciências do Mar no «Inovar Algarve». Na assistência, estavam muitos investigadores, os mesmos que o diretor da COTEC não acredita que se possam tornar empresários, pelo menos, de sucesso.

Usando a metáfora do “Vale da Morte”, para simbolizar o fosso que existe entre empresas e universidades, Daniel Bessa disse acreditar que ele não «se vence assim», ou seja, com a transformação e cientistas em empresários.

Ou seja, os investigadores devem dedicar-se ao que melhor sabem fazer e deixar para os que têm uma veia empreendedora o trabalho de comercializar o conhecimento que produzem. «Acredito muito mais na transferência de tecnologia, no estreitar do Vale da Morte até que as duas partes se toquem finalmente», referiu.

Lembrando que a ideia de colocar a tecnologia e saber desenvolvidos nas universidades ao serviço das empresas tem mais de 40 anos, em Portugal, Daniel Bessa considerou que, neste período, pouco se avançou.

Para que haja uma fluida transferência de tecnologia das universidades para as empresas «há que criar estruturas para isso», algo que até pode ser feito dentro dos próprios centros de investigação, com a inclusão de pessoas voltadas para a área de negócios nos seus quadros.

Este tipo de estruturas não são, ainda assim, inexistentes de Portugal. Antes de Daniel Bessa, já havia dado o seu testemunho o presidente do INESC Porto José Manuel Mendonça. Este instituto dedica-se há mais de 20 anos a fazer a ligação entre o setor da investigação e as empresas, com trabalho a diversos níveis.

A sua atuação, em ligação com diversas universidades públicas, já permitiu criar empresas de base tecnológica e alimentar outras com inovações, na área da engenharia. As empresas Efacec e EDP são apenas dois exemplos dos que já beneficiaram da tecnologia desenvolvida pelo próprio instituto ou centros associados à Universidade do Porto e outras entidades.

 

UAlg elogiada pela «coragem» em mostrar números de transferência de tecnologia

 

Um dos passos fundamentais, para conseguir agilizar a transferência de tecnologia, é conseguir com que as universidades e centros de investigação divulguem aquilo que fazem.

«Não existe transferência de tecnologia se não criarmos um sistema de informação em torno desta temática. Temos de chegar a um elevado grau de report», defendeu Daniel Bessa.

Com este objetivo em mente, a COTEC desafiou as academias do país a divulgarem dados do seu trabalho no campo da produção e transferência de conhecimento, nomeadamente «o número de patentes pedidas, que empresas foram criadas, qual a sua faturação e quantos postos de trabalho criaram». O desafio tomou a forma de um prémio para os que mais se destacassem.

«A Universidade do Algarve foi, provavelmente, a maior surpresa. Os números são modestos, mas houve a coragem e a verdade de os mostrar», referiu Daniel Bessa.

A surpresa surge não apenas pelo facto de a UAlg ter acedido a mostrar os seus números, algo que nem todas as universidades fizeram, mas também pelo dinamismo que se está a conseguir criar no Sul.

«Nunca pensei que neste ecossistema se estivesse a criar tantas empresas» de base tecnológica, confessou.

 

Fotos de: Carlos Filipe de Sousa/Sul Informação

 

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