As operações de descontaminação dos quatro navios que deverão ser afundados ao largo de Alvor, para criar o parque subaquático de mergulho «Ocean Revival», vão custar 2,4 milhões de euros, revelou ao Sul Informação Luís Sá Couto, presidente da Musubmar – Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Turismo Subaquático, que promove o projeto.
O primeiro dos navios, a corveta «Oliveira e Carmo», chegou a Portimão na sexta-feira ao fim da tarde, puxada por um potente rebocador, depois de uma viagem algo atribulada de 26 horas desde o Alfeite, no estuário do Tejo. É que, por já não ter leme, a corveta «atravessou-se» várias vezes, dificultando a navegação e a sua progressão.
Este domingo, se não houver imprevistos, deverá chegar o segundo navio da frota a afundar, o patrulha «Zambeze», que é o mais pequeno dos quatro.
Ao todo, deverão ser afundados ao largo de Alvor quatro antigos navios da Armada Portuguesa – o navio oceanográfico «Almeida Carvalho», a fragata «Hermenegildo Capelo», a corveta «Oliveira do Carmo» e o navio-patrulha «Zambeze».
No sábado de manhã, a velha corveta, carcomida pela ferrugem e já sem grande parte do seu equipamento, foi mostrada aos jornalistas e responsáveis locais.
Os trabalhos de descontaminação e de desmantelamento de algumas componentes da «Oliveira e Carmo», que passam por retirar os hidrocarbonetos (carburantes, óleos), os amiantos e as cablagens, bem como pela retirada de todas as partes cortantes que poderiam causar problemas aos futuros mergulhadores, vão começar nos próximos dias. O objetivo é, segundo Luís Sá Couto, preparar este e os restantes três navios para serem afundados em segurança, não só para os mergulhadores como para o ambiente marinho.
Os trabalhos estão a cargo de um consórcio, formado pela empresa portuguesa NavalTrading e pela canadiana Canadian Artificial Reef Consulting (CARC). Ao todo, segundo revelou ao Sul Informação o responsável pela associação Musubmar, os trabalhos de preparação dos quatro antigos navios da Armada Portuguesa, para serem afundados ao largo de Alvor e assim criarem um recife artificial e um novo local para o mergulho turístico, vão custar 80% dos três milhões de euros estimados para o projeto «Ocean Revival», ou seja, 2,4 milhões.
Câmara de Portimão não gasta um cêntimo
Quem vai pagar esta verba? Luís Sá Couto salienta que a associação Musubmar, que para já integra a Câmara de Portimão e a sua empresa, a Subnauta, vai «angariar fundos e patrocínios junto de privados», já que, segundo o estudo de viabilidade económica feito para suportar o projeto «Ocean Revival», o mercado do mergulho desportivo e turístico no Algarve sofrerá um boom com a criação deste parque subaquático.
A nível mundial, o mergulho é praticado por oito milhões de pessoas e o mercado representa 3,4 mil milhões de euros por ano. «Se conseguirmos trazer para o Algarve uma pequena parte desse mercado, teremos mais valias com implicações na economia nacional e local», salientou o presidente da Câmara de Portimão, na apresentação da corveta, este sábado, no Cais 5, junto aos estaleiros do Porto de Pesca Portimão.
Mas descansem os mais preocupados com o estado das finanças da autarquia de Portimão. A Câmara, garantiu Manuel da Luz, não vai gastar um cêntimo com o projeto, «apenas irá colaborar do ponto de vista burocrático». «O nosso apoio será no lóbi positivo que for necessário fazer junto das entidades» públicas e privadas e na «promoção», quando o projeto for lançado, garantiu o autarca.
Apesar de todo o processo de licenciamento prévio do parque subaquático «Ocean Revival» já estar feito, nomeadamente ao nível da Administração da Região Hidrográfica (a ARH, que é a principal entidade licenciadora), da Agência Portuguesa de Ambiente (APA), da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRA), Luís Sá Couto explicou que o desmantelamento e descontaminação dos navios a afundar serão acompanhados a par e passo por várias entidades, nomeadamente ligadas ao Ambiente.
Primeiros dois navios preparados para afundar em três a quatro meses
Responsáveis pela empresa portuguesa NavalTrading, com vasta experiência na manutenção e reparação de navios – mesmo de alguns da Marinha Portuguesa – disseram ao Sul Informação que esperam que os trabalhos de preparação das primeiras duas embarcações – a corveta «Oliveira e Carmo» e o patrulha «Zambeze» – estejam prontos dentro de «três a quatro meses», para que possam ser afundados em «Julho».
«Se tudo correr bem e a burocracia não atrapalhar», como disse Manuel da Luz. «Já sabemos o que a casa gasta, mas desta vez não queremos que o projeto morra por razões administrativas e burocráticas», acrescentou.
O afundamento em si, uma operação delicada feita com recurso a explosivos de recorte engenhosamente colocados nas embarcações, de modo a que elas assentem no fundo do mar direitinhas e preparadas para receber os mergulhadores desportivos, estará a cargo da empresa canadiana CARC, a qual, sublinhou Luis Sá Couto, «já afundou 23 outros navios em todo o mundo».
Este responsável admitiu que, se a operação de desmantelamento e descontaminação das embarcações fosse feita em Lisboa, os custos seriam mais baixos e a operação menos complicada. «Mas quisemos trazer para aqui estas operações precisamente para gerar postos de trabalho localmente, em Portimão», disse. Tudo isto, e não apenas a criação do parque subaquático, «gera postos de trabalho, é economia do Mar».
O local exato onde serão afundados os quatro antigos navios da Marinha de Guerra Portuguesa, junto a recifes artificiais que já existem, foi escolhido por «cientistas do IPTM», garantiu ainda aquele responsável.
Um fim digno
A nível mundial esta será a primeira vez que serão afundados quatro navios de guerra, num só local. Um aspeto inovador que, só por si, deverá atrair as atenções dos mergulhadores.
Os navios serão afundados numa zona com 30 metros de profundidade, mas, no caso das embarcações maiores, a zona da ponte – onde ontem os jornalistas e entidades oficiais se passearam – ficará a cerca de 15 metros, acessível à maioria dos mergulhadores.
Quanto às questões da visibilidade, que neste caso poderá ser menor sobretudo devido à proximidade da foz do Rio Arade, Luís Sá Couto garantiu que «numa estrutura como esta, de navios afundados, a questão da visibilidade não é crítica. Não teremos a visibilidade das Caraíbas, mas será suficiente».
Para já, a corveta «Oliveira e Carmo», que foi a primeira da sua classe na Armada Portuguesa e até deu nome à classe, bem como o navio-patrulha «Zambeze», serão os primeiros a ser alvo das operações de descontaminação. A corveta já está acostada ao Cais 5, enquanto o «Zambeze» deve chegar este domingo ou o mais tardar segunda-feira.
Por falta de espaço no cais, só quando estes dois navios saírem é que virão, do Alfeite, os restantes dois.
Este sábado, a visita à corveta foi certamente a última. A corrosão da ferrugem, as madeiras desfeitas, os cabos arrancados e sem utilidade, os locais onde antes estavam as peças de artilharia e outros equipamentos, o camarote do comandante agora vazio, a ponte de comando onde já não há equipamentos eletrónicos e tudo parece esventrado, foram vistas, comentadas, fotografadas e filmadas pelos jornalistas e pelas entidades oficiais.
«Passei uma parte da minha vida nesta corveta», comentava um dos presentes. «É uma pena vê-la assim».
Não haveria uma forma mais digna e produtiva de acabar com esta verdadeira frota, nomeadamente reciclar os materiais dos navios, em especial as suas 40 mil toneladas de metal?
Luís Sá Couto diz que não: «estes foram navios que estiveram ao serviço de Portugal durante 40 anos e que agora, ao serem afundados para criar um parque subaquático e atrair milhares de mergulhadores, vão continuar a servir o país. Vão fomentar a economia de Portugal e isso é um fim muito nobre».
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