O Descubriter, projeto turístico-cultural sobre os Descobrimentos que une Algarve e Andaluzia, é um bom exemplo da cooperação transfronteiriça. Por isso, esta segunda-feira, no stand da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve na FATACIL, em Lagoa, o projeto esteve em destaque.
No segundo dos programas especiais produzidos pela CCDRA em parceria com o Sul Informação e a Rádio Universitária do Algarve (RUA FM), os jornalistas Elisabete Rodrigues e Pedro Duarte estiveram à conversa com Catarina Cruz e Susana Faísca, da CCDRA, e Rui Parreira, da Direção Regional de Cultura. Estes foram os convidados especiais de uma hora de rádio, entre as 19 e as 20h00, com transmissão em direto a partir da FATACIL.
Catarina Cruz, diretora de Serviços de Desenvolvimento Regional, explicou que há muitos outros projetos transfronteiriços apoiados por verbas da União Europeia, como o da navegabilidade do Rio Guadiana, ou outros, mais pequenos, que também são «bons exemplos». «O Centro de Radioterapia que existe em Faro também foi financiado por um projeto de cooperação transfronteiriça», exemplificou.
Aquela responsável anunciou ainda que o próximo Programa Operacional Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal (PROCTEP), para o período 2014-2020, irá ser dotado com mais dinheiro («terá um ligeiro acréscimo, sendo dotado com 8,6 milhões de euros de FEDER») e pela primeira vez irá acolher candidaturas de empresas. No atual PROCTEP de 2007 a 2014, apenas as entidades públicas se podiam candidatar.
Rui Parreira, diretor de serviços na Direção Regional de Cultura do Algarve, explicou que o projeto Descubriter «visa criar sinergias entre entidades de ambos os lados da fronteira». Na génese do projeto está a Fundação Nao Victoria, com sede em Sevilha.
«A partir da constatação de que se poderia criar uma sinergia interessante entre a réplica da Nau Victoria e a réplica da caravela quinhentista de que é proprietária a RTA, a fundação desafiou a Região de Turismo do Algarve para uma cooperação transfronteiriça, que criasse uma Rota Europeia dos Descobrimentos. Neste projeto, acabam por ficar envolvidas a Câmara de Vila do Bispo, que abrange o território de Sagres, a Direção Regional de Cultura, porque este é um projeto de base eminentemente cultural, mas também as componentes mais empresariais, uma vez que estão envolvidas a Prodetur, da Diputación de Sevilha, e também a Promosagres, que agrupa uma série de empresas turísticas».
Em termos simples, «o projeto consistiu em criar as bases para que uma gestão dos recursos culturais, neste caso do riquíssimo património dos Descobrimentos, pudesse ser motivo de rotas turísticas, motivo da criação de um produto turístico», acrescentou. «Este projeto fez a ponte entre ambos os lados da fronteira, a partir do património de Palos de La Frontera e de Sanlucar de Barrameda, de onde partiram as naus de Colombo, e do património de Lagos e Sagres, de onde partiram as primeiras caravelas da rota africana».
«Eu próprio fiquei espantado quando fiz o primeiro levantamento do património dos Descobrimentos no Algarve, porque afinal há muito mais património para além de Sagres, em Lagos, em Tavira, na serra, em Silves».
Rui Parreira: não podem ser as entidades públicas a criar estes produtos, tem que se apelar ao setor privado, tem que haver iniciativa das pequenas e médias empresas turísticas
Segundo Rui Parreira, a bola está agora no campo dos privados: «as entidades que gerem Cultura gerem recursos, não criam produtos turísticos. Não criam o produto, mas têm que gerir aquilo que vai constituir a base desse produto turístico e geri-lo nas melhores condições de fruição pelo público. As empresas, o privado, são quem vai criar o produto».
A ambição é «criar uma Rota Europeia credenciada pelo Conselho da Europa», adiantou. «Mas também queremos sobretudo lançar as bases para que o setor privado possa aproveitar este património da melhor forma e lançar a partir daqui um produto turístico de base cultural».
É que, salientou, «não podem ser as entidades públicas a criar estes produtos, tem que se apelar ao setor privado, tem que haver iniciativa das pequenas e médias empresas turísticas para criar, no Algarve e na Andaluzia Ocidental, um produto diferenciado que seja identificador desta região e que seja um complemento cultural daquilo que temos de bom, que é o sol e a praia. Um produto que permita criar riqueza, diversificar a atividade turística e atrair mais pessoas».
Não será, porém, um produto «para atrair grandes massas a Sagres e ao Algarve», mas «pode ser operado por pequenas empresas, trabalhando com pequenos grupos e para um turismo mais especializado e de complemento».
Para já, toda a informação está disponível no Portal dos Descobrimentos, acessível na internet desde Maio passado, e que já permite a «consulta dos recursos culturais relacionados com os Descobrimentos, mas também permite ao visitante saber por onde ir, onde ficar, o que visitar, o que comer».
Neste projeto, dois países têm uma «estratégia comum de promoção deste património, uma vez que estão intimamente ligados: Cristóvão Colombo, antes de fazer a sua viagem de descobrimento das América, tentou com os reis portugueses antes de falar com os Reis Católicos. Fernão de Magalhães era um português ao serviço da causa espanhola. Não faz sentido não haver uma cooperação transfronteiriça entre o Algarve, a Andaluzia e o Alentejo na promoção e na gestão deste património», concluiu Rui Parreira.
Quanto à iniciativa privada que tem agora nas mãos a responsabilidade de aproveitar o recurso que já está criado com o projeto Descubriter, quem sabe se empresas do Algarve e da Andaluzia não poderão, no âmbito do PROCTEP 2014-2020, apresentar projetos comuns de cooperação transfronteiriça. O desafio ficou lançado.
Esta terça-feira, dia 19, entre as 19 e as 20h00, no programa em direto na RUA FM, estarão em destaque a Dieta Mediterrânica e o projeto TASA, que une artesanato e inovação, tendo como convidados Alice Pisco, da CCDRA, e João Ministro, da ProActiveTur.
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