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Marina Zueva_Dom ChiqueO que é que uma arte marcial como o Muay Thai, a Rússia, a engenharia civil e a tradicional melosa algarvia têm em comum? Foi isso que Marina Zueva, a criadora dos licores Dom Chique, foi explicar no sábado, em mais uma Beta Talk, que desta vez teve lugar nos jardins do Tivoli Marina Hotel, à beira do rio Arade, em Portimão.

Marina Zueva nasceu na Rússia, tem 27 anos, mas vive desde os 7 no Algarve. E a forma como fala português não esconde essa sua criação algarvia. Marina Zueva é uma verdadeira mulher dos sete ofícios, como explicou às cerca de três dezenas de pessoas que participaram nesta conversa sobre (e com) empreendedores.

A sua figura elegante e muito cuidada não faria pensar que Marina, aos 15 anos, começou a praticar Muay Thai, sendo atualmente campeã da Europa e do Mundo na sua categoria, nesta arte marcial.

Também poucos imaginariam que a jovem iria estudar Engenharia Civil na Universidade do Algarve. Porque escolheu esse curso? Nem ela própria sabe explicar muito bem. «Gostava de matemática, gostava de física, por isso pensei: vamos lá a escolher um curso mais difícil». E foi o que fez, acabando com uma excelente média.

Dos seus colegas, ninguém conseguiu arranjar trabalho depois de terminado o curso, mas Marina conseguiu emprego na CR Pro Construção e Reparação, uma empresa que se dedica sobretudo a remodelações de casas. Por lá se manteve alguns anos, até por gostar de trabalhar com o seu patrão. Mas às tantas achou que era tempo de mudar: «não é que eu não gostasse do meu trabalho de engenharia, mas queria mais. E, sobretudo, não queria ter alguém a mandar em mim». «Não foi muito fácil despedir-me», confessou aos participantes da Beta Talk.

Marina Zueva_Dom ChiqueFoi então que, por intermédio do pai do seu namorado, proprietário da fábrica de licores Bagamel, que já labora há mais de 40 anos em Silves, surgiu a ideia de «pegar num produto ainda pouco desenvolvido e tentar fazer alguma coisa com ele». E que produto era esse? A melosa, licor tradicional da serra algarvia feito com aguardente de medronho e mel.

Marina revela que não bebe muitas bebidas alcoólicas, até por causa da sua atividade desportiva, mas, quando provou a melosa, gostou. E pensou: «como é que isto não é mais conhecido?»

O desafio foi então pensar «como pegar neste produto, mostrá-lo às pessoas e fazer com que elas se identifiquem com ele»…e o queiram consumir.

Para isso, contrataram uma empresa de criativos, já que era preciso «vestir a coisa» e «criar uma imagem diferenciadora». Foi assim que surgiu a marca Dom Chique, da qual Marina é fundadora e sócia-gerente. Uma das primeiras diferenças é o facto de a garrafa ser branca, já que «não há muitas marcas com garrafas desta cor». E nenhuma é de melosa ou de um licor semelhante.

Mas era preciso ir mais fundo: «se virmos uma rapariga muito gira na rua, mas depois a cabeça dela é oca, não vamos gostar», explica Marina, usando uma imagem feliz. Ou seja, é preciso que o conteúdo tenha a ver com a embalagem.

É preciso «contar uma história, criar um processo mais íntimo, mais pessoal, diferente de todas as outras marcas». E assim nasceu o Dom Chique, que é todo ele, mais do que uma marca, uma personagem. Marina conta que o Chique era «um cientista e artista muito maluquinho, que morava em Monchique. Mas era também um pinga-amor, o que lhe valeu o nome de Dom Chique. As más línguas dizem que as senhoras saíam da sua casa, de manhãzinha, com um garrafão na mão».

O nome Dom Chique vem de uma brincadeira de palavras com Monchique, a serra à qual se associa logo a melosa, mas também com a pronúncia Chico/Chique, em algarvio, e até da ligação entre Dom Juan e Dom Chique. À volta de tudo isso, surgiu uma marca que já se afirma como uma das mais fortes entre as bebidas nadas e criadas no Algarve.

dom chique

Mas não basta ter uma bela garrafa, diferente, uma boa imagem, uma história cativante para contar. É preciso que o produto seja também bom e diferenciador. E isso foi conseguido, já que esta melosa é a mais transparente do mercado, graças a um método de fabrico desenvolvido na Bagamel, cujos segredos Marina não revela. E atualmente, além do licor de medronho e mel, há duas outras variedades: de frutos vermelhos e de maracujá e lima.

Depois de ter construído uma história e uma marca, foi preciso garantir a aprovação e registo do nome e do rótulo, um processo que Marina estranhou «demorar tanto tempo».

E depois foi preciso começar a vender, a encontrar os clientes. Quanto ao seu público-alvo, «definimos que não iríamos apresentar o produto às grandes distribuidoras». No Verão passado, os licores Dom Chique foram então lançados, e, desde então, Marina tem gasto grande parte do seu tempo a «bater de porta em porta», andando sempre com «a garrafinha e uma arca de gelo», para dar a provar esta melosa bem diferente e contemporânea. Entretanto, agora já são os distribuidores e as garrafeiras que a contactam: «estamos a trabalhar com as cinco maiores distribuidoras de bebidas do Algarve».

Para entrar mais facilmente no mercado dos bares, «tive algumas pessoas que nos começaram a ajudar a criar coquetéis com a Dom Chique» (as receitas estão disponíveis na página de facebook da marca). Aliás, Marina Zueva, sendo estrangeira, não entende como é que «há tantos produtos maravilhosos no Algarve que não são valorizados como deviam». Um deles é o medronho, para já uma fruta até «algo rara», e tem tantas aplicações.

Marina Zueva_Dom Chique

Quanto à melosa, às vezes os potenciais clientes dizem-lhe que já conhecem. «Mas não conhecem esta, que é diferente, conta uma história. Este licor é marafado, é insatisfeito e apaixonado ao mesmo tempo».

O facto de as pessoas não darem valor aos produtos algarvios é a maior dificuldade que a jovem empresária diz ter sentido ao longo do seu ainda curto percurso. Mas garante que «as pequenas dificuldades que tive, com as pessoas certas ao meu lado, foi mais fácil ultrapassá-las».

 

Para dar a conhecer a marca, a Dom Chique esteve também presente no Lota Cool Market, em Portimão, na Feira Medieval de Silves, no Festival Al-Buhera, em Albufeira, e ainda na Fatacil, em Lagoa.

Até agora, a marca já vendeu cerca de seis mil garrafas das três variedades do licor, mas o objetivo é aumentar produção e vendas, disse Marina Zueva ao Sul Informação.

No futuro próximo, e até porque já garantiram uma empresa distribuidora de bebidas fora do Algarve, o objetivo é dar a conhecer o Dom Chique ao resto dos portugueses. «No próximo ano, vamos começar a vender para o resto do país», anunciou.

 

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A história do Chique, tal como é contada nos folhetos da marca:

«O Chique nasceu em Monchique no princípio do século XX. Consta que pertence a uma antiga família burguesa, os Medronhos, cujo passado remete ao tempo dos Descobrimentos e ao fabrico de calda de limão (Melosa), que era uma preciosa fonte de vitamina C para os navegadores.
O “Chique” é um misto de artista excêntrico e cientista maluco com um mau feitio lendário.
Contudo, isso não o impediu de arrebatar os corações das mulheres da zona, o que lhe valeu a alcunha de “Dom Chique”.
Essa popularidade junto das senhoras originou uma violenta revolta popular dos homens da região.
Desde esse dia, passou a viver quase como um eremita nas montanhas de Monchique, onde continuou a sua obsessão em produzir a mais pura Melosa alguma vez feita.
No entanto, reza a história que recebia visitas de mulheres do campo e senhoras da nobreza que por lá pernoitavam e saíam de manhãzinha com um garrafão nas mãos. Mas isso já é outra história».

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