«Desde o ano passado, notámos que há um acréscimo da qualidade, que há menos make up [maquilhagem] e muito mais trabalho real». Esta foi a mensagem deixada pelo presidente do júri do Concurso de Vinhos do Algarve, depois de uma manhã dedicada a provar os mais de 80 vinhos que se candidataram.
A evolução foi notada pela generalidade dos avaliadores, a larga maioria dos quais já tinham feito parte do júri da edição de 2015 deste concurso, organizado pela Comissão Vitivínicola do Algarve (CVA) em parceria com a Câmara Municipal de Lagoa e a Associação dos Escanções de Portugal. E isso é possível «devido à dedicação dos produtores algarvios e dos investimentos que vêm fazendo nas suas quintas e vinhas», segundo o presidente da CVA Carlos Garcias.
Alguns exemplos daquilo que está a ser feito no terreno, e que contribui para este aumento da qualidade dos vinhos algarvios, foi testemunhado por jornalistas de vários órgãos de comunicação social, numa press tour que deu a conhecer três quintas que produzem vinhos emblemáticos.
A iniciativa contou com um momento de convívio, onde marcou presença o vereador da Câmara de Lagoa Luís Encarnação, um dos anfitriões da iniciativa, já que a press tour foi realizada no âmbito de «Lagoa Cidade do Vinho 2016». Também presentes estiveram os membros do júri, bem como outros convidados, que toveram a oportunidade de provar vinho, mas também a gastronomia típica algarvia.
Desta vez, a CVA optou por mostrar o trabalho de dois produtores estrangeiros, que apostaram no Algarve, mais precisamente a Quinta do Francês, em Silves, e a Adega do Cantor, na Guia, e do vitivinicultor lagoense José Manuel Cabrita, que pegou nas vinhas da família há 16 anos, inovou e se tornou uma referência a nível regional.
Três projetos bem diferentes, mas que têm um denominador comum: Uma forte paixão pela produção de vinhos, aliada à preocupação constante em inovar e em melhorar a qualidade.
O projeto Quinta do Francês é o exemplo acabado de quão longe pode ir uma paixão. Patrick Agostini é médico n Centro Hospitalar do Algarve e foi a sua profissão que o trouxe, a ele e à esposa Fátima Santos, para a região, há mais de uma década. Com ele, trouxe uma paixão pelo vinho, que foi apurada após o ano que passou a viver em Bordéus.
Depois de comprar uma quinta onde «não havia nada», nos terrenos junto à ribeira de Odelouca, em Silves, começou a plantar vinha em 2002, tendo conseguido a primeira produção quatro anos depois. O projeto foi evoluíndo e os vinhos aqui produzidos ganharam prémios nacionais e internacionais.
Tudo isto foi feito pela mão do casal, com uma ajuda inicial de um amigo francês, que trabalha na área, e o apoio da enóloga Joana Maçanita. Mas, desde há muito que tudo está nas mãos de Patrick Agostini. «Hoje em dia, produzimos 35 mil garrafas por ano. Nas nossas vinhas, só produzimos variedades tintas, mas temos também vinhos brancos, feitos com uva que compramos», contou Fátima Santos.
Os donos da Quinta do Francês decidiram cultivar um hectare de variedades de uva branca, que se juntarão aos 8 hectares de vinha tinta que já têm.
A história do projeto Quinta da Vinha, em Lagoa, é bem diferente do seu congénere de Silves: José Manuel Cabrita vem de uma família de produtores de vinho algarvia e herdou três hectares de vinha, há cerca de 16 anos. Na altura, decidiu investir a sério na vitivinicultura e comprou outros 3 hectares de terreno, onde retirou a vinha que já lá existia, para plantar novas variedades.
José Cabrita apostou em «variedades 100 por cento portuguesas» e procurou otpimizar as suas vinhas, a metodologia de produção de vinho e o armazenamento/amadurecimento, com a ajuda da enóloga Joana Maçanita. Hoje, além dos 6,6 hectares próprios, arrenda outros 5 a vizinhos.
Foi num destes que descobriu uma vinha da variedade negra mole, típica da região, mas que adquiriu má reputação, como uva para vinho, ao longo dos anos. A Quinta da Vinha decidiu, ainda assim, apostar num vinho monovarietal desta casta, que já está a ganhar corpo num dos reservatórios da adega.
Esta aposta improvável – José Cabrita conta que as vinhas do seu pai eram de negra mole e, há 16, se viu obrigado a substituí-las – deve-se ao desejo deste produtor de «não deixar esta variedade morrer» e de «levantar o seu nome».
Este vinho foi um dos que foi dado a provar aos convidados, num almoço que decorreu num novo espaço da Quinta da Vinha, próprio para a realização de eventos. Outros vinhos da adega foram servidos em harmonização com os pratos típicos do Algarve que foram servidos, nomeadamente o carapau alimado, o xerém de berbigão, as favas com enchidos e a cataplana à algarvia.
A press tour desta segunda feira terminou com a visita à Adega do Cantor, da qual o cantor britânico Cliff Richards é um dos sócios. O outro proprietário desta adega é Nigel Birch, empresário que há muito se radicou no Algarve e que decidiu apostar, também, na vitivinicultura.
Nesta adega, que acolhe a produção de três vinhas distintas, são produzidas cerca de 100 mil garrafas de vinho por ano. A aposta mais recente é um espumante branco, mas outras referências da adega, como o Vida Nova, mas também o mais recente Onda Nova, são já bem conhecidas e um produto muito exportado.
Estes e os demais produtores da região que submeteram vinhos ao concurso que ontem decorreu ficam agora à espera de saber se ganham mais um prémio. os resultados deverão ser divulgados hoje, ao final da tarde.
Veja todas as fotos da visita às três quintas:
(Fotos: Hugo Rodrigues/Sul Informação)