O Algarve até cresceu, com o turismo na região a bater recordes no ano passado, mas para Sérgio Palma Brito «os problemas» da estagnação de anos anteriores «continuam cá todos». Esta foi uma das conclusões do “Relatório sobre Turismo e Transporte Aéreo em Portugal”, da sua autoria, apresentado esta terça-feira, dia 4 de Abril, na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, em Faro.
Uma das razões apontadas por Sérgio Palma Brito para esta situação prende-se com o facto de existirem hotéis «obsoletos, muitos deles na frente-mar», impedindo uma «maior criação de valor na região».
É que nem mesmo uma das mais valias atuais do turismo do Algarve, a vinda de pessoas que, habitualmente, rumavam a outros países, é assim desenvolvida. «Os turistas que deixaram de ir para a Turquia não vão para esses hotéis», considerou.
Outro ponto importante é a necessidade de o Algarve e as suas entidades reconhecerem «que há no mínimo 100 mil famílias nacionais e estrangeiras que investiram em casas e apostaram na região», disse.
Como tal, estes tipos de estabelecimentos turísticos têm de «ser estimulados», ao invés de serem «considerados clandestinos». O autor deste relatório vai mesmo mais longe nas críticas ao dizer que o Quadro Comunitário 2020 «ignora esses estabelecimentos».
«É feito com base na hotelaria, o que viola as normas comunitárias sobre alojamento turístico. Isto é oferta turística que tem de ser integrada», explicou. Até porque para entidades como o Eurostat «alojamento turístico é qualquer estabelecimento que aloje turistas», disse.
Sérgio Palma Brito deu o exemplo de Vale do Lobo que «só se desenvolveu porque desde 1982 pediu a desclassificação de aldeamento turístico». «Se tivéssemos cumprido a lei, Vale do Lobo hoje seria um conjunto de bungalows», considerou.
No seminário “Turismo, Transportes e Distribuição”, no qual o Sul Informação esteve presente, o ex-diretor geral da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) considerou ainda que «o Algarve não tem capacidade de atração».
A sustentar esta tese estão, por exemplo, números apresentados no relatório, referentes ao crescimento do tráfego de passageiros. Entre 2001 e 2015, por exemplo, «o aeroporto de Faro cresceu 38%, os de Lisboa e Porto 115% e 192%, respetivamente», lê-se.
«As companhias low-cost só voam se o destino for atrativo» e tal só acontece «se houver interligação» entre os setores da região. A solução apontada por Sérgio Palma Brito seria estruturar «planos de marketing privado por países». Por exemplo: «um plano de marketing e venda no mercado alemão, a três anos».
E se, para o autor do relatório, no Algarve se trabalha com «cinco mercados, sete companhias e dois operadores turísticos», a verdade é que também se tem assistido a uma «transformação e destruição» da economia tradicional regional.
Francisco Serra, presidente da CCDR Algarve, também fez questão de abordar este tema da interligação. «O turismo é o motor do desenvolvimento da economia, sendo uma temática que necessita da intervenção de todos. A CCDR não é a entidade regional de turismo, mas não se alheia desta área», disse.
Já Alberto Mota Borges, diretor do Aeroporto de Faro, que também esteve no seminário, considerou não haver «nenhuma empresa tão competitiva como a Ryanair», o que se coaduna com o crescimento da companhia no Algarve.
Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação