Élio Vicente tinha 15 anos da primeira vez que pisou o Campus de Gambelas da Universidade do Algarve. Na altura, o agora diretor de Relações Externas e do Centro de Reabilitação do parque Zoomarine teve «o privilégio» de ver lançar as primeiras pedras para as construções dos edifícios daquela que viria a ser uma sua casa, onde se formou e continua a voltar.
Ontem, sábado, esteve de novo na UAlg, para atribuir uma bolsa de excelência em nome da sua empresa a uma aluna do curso de Biologia Marinha, numa cerimónia oficial que decorreu no grande auditório desta Instituição de Ensino Superior.
Esta iniciativa juntou os alunos premiados, as suas famílias e amigos, empresários e membros da academia, entre os quais o representante máximo da UAlg, o reitor António Branco. As “estrelas” foram, como salientou o reitor, os alunos, que através do seu esforço pessoal conseguiram médias de final do Secundário de respeito, e os empresários, que souberam reconhecer essa dedicação, abrindo os cordões à bolsa.
Em alguns casos, as médias de entrada são, verdadeiramente, impressionantes. É o caso de Inês Diogo, a estudante que teve a média mais elevada dos novos alunos que entraram no primeiro ano, pela primeira vez, na Universidade do Algarve.
Os 18,78 de média da jovem aluna da UAlg permitiriam entrar em qualquer curso que ela desejasse. Mas, apesar de ser da Póvoa de Santa Iria, perto de Lisboa, Inês Diogo não teve dúvidas em escolher a Universidade do Algarve e o curso de Biologia Marinha para continuar os seus estudos.
«Este era o único curso, era mesmo aquilo que eu queria. É aquilo que gosto e a Universidade do Algarve é a única que o tem. Já tinha definido esse objetivo», disse a jovem aluna da UAlg ao Sul Informação, à margem da sessão.
Ao contrário de Élio Vicente, das mãos de quem recebeu a bolsa de excelência, Inês Diogo não teve a oportunidade de conhecer a Universidade em que viria a estudar antes de se candidatar. Só no último Verão pisou, pela primeira vez, a capital algarvia, «para ver como eram as coisas». Mas não se candidatou “às cegas”.
«Falei com algumas pessoas, incluindo ex-alunos e estabeleci contactos. Por acaso, até havia familiares meus e outras pessoas da minha zona que estão aqui a estudar Biologia e que os meus pais conheciam, que me ajudaram», contou.
Do outro lado desta feliz equação, estão os empresários. Entre os que estiveram presentes na sessão de ontem, em representação das 33 empresas que se disponibilizaram a pagar um ano de propinas aos 38 alunos do primeiro ano que entraram na Universidade do Algarve em 2015/16 com a média mais elevada, estavam muitos alumni da academia algarvia.
Também estavam conceituados empresários algarvios que, embora não tenham estudado na UAlg, conhecem bem a universidade e têm vindo a beneficiar, ao longo dos anos, da formação que aqui é dada.
Um deles é Cláudio Correia, fundador e diretor da Algardata, que tem vindo buscar muitos dos seus quadros à universidade algarvia. O empresário, que já há muito fez do Algarve a sua região, foi o escolhido para representar os demais atribuidores de bolsas na cerimónia de ontem, com um discurso, e fez questão de frisar o muito que a UAlg já deu à sua empresa.
«Na Algardata, 36 dos nossos colaboradores, 51 por cento do total de funcionários, têm curso superior e 29 foram aqui formados. Nós não temos qualquer dúvida da importância que a UAlg tem para a região», afirmou o empresário. Uma ideia que foi repetida durante o almoço informal que se seguiu à cerimónia por Reinaldo Teixeira, administrador da Garvetur, que assegura que a quase totalidade das chefias do grupo são “made in” UAlg.
Já Élio Vicente, que falou com o Sul Informação à margem da sessão, lembrou que ele próprio é «um filho desta casa», da qual cada vez «tem mais orgulho». «Estas bolsas não existiam quando eu cá andei e é bom ver que nós, como sociedade, continuamos a progredir», considerou. E não esconde a satisfação de contribuir para evolução da UAlg, agora, «do outro lado do espelho».
«Tenho a honra pessoal e profissional de ter visto as primeiras pedras da Universidade a serem lançadas. Daí que seja com grande emoção que vejo a evolução que a instituição conheceu nestes 30 anos. Cresceu fisicamente, mas também ao nível da consciência cívica, porque para muitos destes jovens, terem esta oportunidade de subir ao palco, terem o reitor, empresários e alguns professores a dar-lhes os parabéns, é um combustível fabuloso para que não desistam numa etapa que vai ser muito difícil», considerou.
O representante do Zoomarine também está bem consciente do valor social que estas bolsas podem ter. Há um ano, Élio Vicente conheceu pela primeira vez a Ana Rita, aluna que recebeu a bolsa desta empresa algarvia no ano letivo 2014/15 e deixou um testemunho pungente, no discurso que fez.
«A Ana Rita foi a aluna que entrou com a média mais elevada para a Universidade do Algarve e ingressou, precisamente, no curso de Biologia Marinha, que é a bolsa que o Zoomarine atribui todos os anos. E fez um discurso que foi absolutamente esmagador, não só pela qualidade literária, mas pela carga emotiva e social. Porque, como ela explicou, os seus pais estavam desempregados e esta bolsa era particularmente importante, pois até tinha considerado não iniciar a vida académica, por falta de condições para viver fora da família, que é de Fátima», recordou.
Élio Vicente interessou-se pelo caso desta aluna e, no mesmo dia, conversou com o reitor da UAlg António Branco e com o diretor do curso, no sentido de se encontrar uma forma de evitar que uma aluna de excelência deixasse de estudar, por falta de condições financeiras.
«Nós no Zoomarine pensámos: se a aluna é tão boa e deu provas de capacidade de comunicação e académica tão fortes, porque não dar-lhe uma bolsa para o resto do curso, em vez de apenas para o primeiro ano? E foi isso que ficou decidido: continuar a dar, todos os anos, a bolsa ao aluno que entra com melhor nota no curso de Biologia Marinha, mas também continuar a apoiar a Ana Rita, desde que ela mantenha os níveis de excelência académica», explicou.
Esta avaliação é feita pela própria unidade orgânica do curso de Biologia Marinha, a Faculdade e Ciências e Tecnologia, e transmitida ao Zoomarine. «Estamos à espera que a FCT nos diga como correu o primeiro ano», acrescentou Élio Vicente.
Entretanto, a aluna em causa já teve a oportunidade de trabalhar, durante o Verão, no Zoomarine, uma outra forma que a empresa algarvia encontrou para dar um apoio, acompanhado de experiência para o futuro, à Ana Rita.
Este foi um caso que sobressaiu, de entre os 149 alunos que as Bolsas de Excelência da UAlg já apoiaram, nos quatro anos de existência deste projeto conjunto da universidade e empresas, mas não é o único em que a bolsa foi dada a um excelente aluno cuja família enfrenta dificuldades financeiras.
Esta dimensão das bolsas de excelência, que permitem a bons alunos com maiores dificuldades financeiras continuar o seu percurso académico, é uma das razões que leva o reitor da UAlg António Branco a considerar que a cerimónia de ontem, sábado, é uma das mais importantes do ano, para a instituição.
«Esta sessão é, de um ponto de vista simbólico, o reconhecimento da importância da educação e do conhecimento para a nossa sociedade», ilustrou António Branco. É, igualmente, uma prova de que a universidade e as empresas são capazes de trabalhar em conjunto, apesar de muitas vezes ser apontada a distância entre estes dois mundos. «Sozinhos, conseguimos muito pouco. Uns com os outros chegaremos cada vez mais longe», defendeu o reitor da UAlg.