Fernando Anastácio, um dos quatro vice-presidentes da Entidade Regional de Turismo do Algarve (ERTA), renunciou esta segunda-feira à tarde ao seu mandato, afirmando a sua «discordância completa» em relação às orientações da tutela, nomeadamente aos cortes orçamentais e ao fim do programa Allgarve.
Fernando Anastácio disse ao Sul Informação que a sua renúncia foi comunicada às 15h00, pessoalmente, ao presidente da ERTA António Pina, pouco depois ao presidente da mesa da Assembleia Geral (Elidérico Viegas) e depois aos trabalhadores, por comunicação interna.
O até agora vice-presidente explicou que a razão da sua renúncia ao mandato se deve à sua «profunda discordância em relação ao cancelamento do programa Allgarve, à redução em 30% do orçamento da ERTA, e ainda à posição da secretária de Estado do Turismo, que na semana passada defendeu que o reforço ou a manutenção dos parcos de meios disponíveis para a promoção terão que ser encontrados no corte de despesas com recursos humanos da Entidade».
Outro ponto do qual Fernando Anastácio discorda tem a ver com a contratualização: «neste momento não há negociação, mas imposição do que vai ser contratualizado e dos seus pressupostos».
O advogado e empresário sublinhou que tem havido «um percurso de desvalorização e de falta de condições de trabalho que se vem acumulando na ERTA». O órgão máximo do turismo algarvio, defendeu, «neste momento não tem quaisquer condições para desenvolver o seu trabalho».
«Há seis meses que a secretária de Estado do Turismo anunciou que discordava do modelo atual das Entidades Regionais, mas em seis meses não se tomou qualquer medida, fragilizando a Entidade, criando uma expetativa nunca concretizada sobre o que aí vem».
Por outro lado, reforçou o vice-presidente demissionário da ERTA, «num momento em que deveria haver reforço da promoção, no quadro difícil em que o Turismo vive, com reforço nos mercados externos e posicionamento diferente no mercado interno, assiste-se é ao corte de 30% do orçamento, com uma efetiva redução do montante que nos está atribuído no Orçamento de Estado em termos de IVA Turístico».
Além do mais, frisou, «cancela-se o Allgarve, um programa de animação que representava um investimento significativo na região», sem que seja substituído por algo equivalente.
«Esta nova realidade retira qualquer possibilidade, em minha opinião, de se desenvolver um trabalho sério, cada vez mais necessário em prol do setor do turismo e do Algarve, e não permite que continuem reunidas as condições para um pleno e cabal exercício das responsabilidades que, no meu entender, estão atribuídas à ERTA».
«Neste momento, a ERTA está virtualmente parada. Não está a fazer nada a não ser a BTL, a caravela e mais duas ou três coisas», denunciou ainda Fernando Anastácio.
«Não compreendo porque se quer esvaziar a ERTA, na região mais turística do país e prejudicando o setor que mais contribui para o PIB nacional», disse.
Fernando Anastácio considerou que, face a tudo o que está a acontecer com a ERTA e com o setor do Turismo em Portugal e na região, «ou se concorda e então pode continuar-se, ou não se concorda e sai-se. Eu não concordo, por isso saí. Neste momento considero que a ERTA está esvaziada, após todo um percurso de desvalorização. Cada um tirará daí as suas conclusões e agirá conforme a sua consciência», concluiu.
«A bem do Turismo e do Algarve, espero que esta tomada de posição possa de alguma forma contribuir como lançar um alerta e promover a reflexão entre os agentes regionais, públicos e privados, sobre o caminho que se está trilhar que a persistir-se por ele levará à morte anunciada daquela que já foi uma entidade (senão a única) com uma matriz regional», acrescentou Fernando Anastácio numa nota enviada às redações.
Nesse comunicado, o antigo vice-presidente faz ainda questão de deixar «uma nota pública de apreço a todos os funcionários e colaboradores da ERTA, pois saio desta instituição com a convicção que estes são o principal ativo do Turismo do Algarve».
Com a saída de Fernando Anastácio da vice-presidência da ERTA, deveria ascender ao seu lugar Luís Tavares, da Portimar. No entanto, Luís Tavares já integra outro órgão da ERTA, a sua Assembleia Geral, enquanto representante da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).
Como as duas funções são incompatíveis, ou opta por uma, ou então Anastácio será substituído pela outra suplente, que, ao que o Sul Informação apurou, é a empresária Marina Correia, das Marinas do Barlavento.
Além desta saída de Anastácio, a ERTA poderá em breve sofrer mais uma baixa, esta por outras razões, de ordem profissional. Num quadro de grande instabilidade da Entidade e do setor, o presidente António Pina começa a ter poucas condições para trabalhar.