O ano de 2016 bateu recordes no turismo no Algarve e 2017, que está prestes a começar, também promete ser de sucesso para o setor. Muitos turistas vieram à região pela primeira vez, “empurrados” pela insegurança que paira noutros destinos turísticos. Se, por um lado, encontraram o sol, a praia ou a gastronomia, por outro, depararam-se com um aeroporto em obras ou com a EN125 com trabalhos ainda por concluir. Será que estes turistas irão voltar?
O presidente da Região de Turismo do Algarve, em declarações ao Sul Informação, diz estar «convencido que muitos destes turistas irão regressar ao Algarve. Criar fidelização é uma das grandes preocupações que existem, para consolidar a região, para que as pessoas venham e voltem aos seus países e falem bem dela».
Desidério Silva acredita que «o Algarve conseguiu criar um bom conjunto de ofertas e experiências a quem nos visitou. Os resultados que temos de inquéritos dão conta de um nível de satisfação entre os 80 e os 90%. Por isso, estou convencido que muitos irão regressar. Quer a situação no Aeroporto, quer na EN125, são situações pontuais, que não vão mexer com a satisfação global».
Ainda assim, o responsável prefere que essas duas questões fiquem resolvidas antes do início de mais uma época alta. «É importante que as obras na EN125 comecem já, é isso que se espera, para que não decorram durante o Verão. Em relação ao aeroporto, de acordo com o plano de obras, na época alta, os trabalhos já estarão concluídos».
Para o presidente da RTA, 2017 «promete ser ano excelente, no seguimento de 2016».
A opinião é partilhada por Eliseu Correia, CEO da EC Travel, no que diz respeito às expetativas para o próximo ano. «Da forma que eu olho para isto hoje, não tenho dúvidas que vamos ter mais um bom ano», antecipa.
O empresário realça que «temos todas as condições reunidas a nível qualidade de produto e de fragilidade da concorrência direta para ter um ano ainda melhor». No entanto, isso «não acontece por mérito. Não acontece pelo facto de existir uma grande estratégia de captação de novos mercados da parte do Turismo de Portugal, mas por causa da desgraça alheia».
Para Eliseu Correia, «a nível de hotelaria, transferes, restauração, praias… somos os melhores do mundo e isso ajuda a que os turistas voltem».
No entanto, o CEO da EC Travel diz acreditar que «muitos dos clientes que vieram em 2016 nunca mais vão voltar. Agora temos de aproveitar para fidelizar os turistas novos que vão chegar. Teremos alguns problemas, como o do aeroporto, já resolvidos e isso ajuda».
Ainda assim, há outras questões para resolver: «a nível de transportes públicos, o Algarve é uma vergonha, a EN125 é um cemitério em forma de estrada e não há medidas de ninguém para melhorar isto. As obras estão paradas e hão-de começar em Junho, para decorrerem no Verão».
Por isso, Eliseu Correia teme que estes bons anos passem e o Algarve tenha perdido uma oportunidade. «Não estou a ver mudanças, vejo toda a gente orgasmicamente satisfeita com os números que existem. Isto vive de ciclos e vai acabar. Quando isto se inverter, vamos ver que ninguém fez nada para fidelizar quem cá veio. Temos clientes que estão a ser empurrados para Portugal. Nunca lhes tinha passado pela cabeça virem cá. Da parte dos particulares, temos capacidade para receber os turistas e oferecer-lhes um bom serviço, para que regressem. E as entidades oficiais têm? Essa é que é a questão».
Do ponto de vista dos hoteleiros, «o ano de 2016 foi positivo, melhor do que estava previsto. Tivemos um aumento de 7% na ocupação e de 13% nas receitas», revela Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).
Ainda assim, «o discurso de que tivemos o melhor ano de sempre não se reflete nas empresas da mesma forma». Por exemplo, «no mercado interno, houve uma diminuição da procura, o que não significa que tenhamos tido menos portugueses no Algarve, mas optaram por outras alternativas, como os alojamentos locais».
Sobre a fidelização de turistas, Elidérico Viegas considera que «quem vem ao Algarve fica bem impressionado, mas isso não chega. São pessoas que vêm cá devido a fatores de ordem externa, a nível interno muito pouco está a ser feito para consolidar a posição do Algarve no turismo».
Esta oportunidade exigia, para o representante dos hoteleiros, «uma mobilização para a importância do turismo, quer das autarquias, quer dos serviços de apoio, como a saúde, a segurança e nas infraestruturas. É necessária uma modernização das zonas turísticas. Isto devia ser um desígnio nacional».
Para Elidérico Viegas, «o Algarve é uma montra do país, mas o que vemos é um estaleiro a céu aberto. As obras na EN125 estão paradas, isto não faz sentido. O Governo não pode tratar a região como está a tratar».
Apesar dos problemas, 2017 também deve ser um bom ano para a hotelaria. «Estamos a passar um período de aumento de procura, se 2017 correr como previsto, podemos atingir o ponto crítico das taxas de ocupação», conclui.