A associação In Loco quer ver as cantinas das escolas públicas algarvias abastecidas por produtores locais. A associação de desenvolvimento local lançou o tema na 4ª edição da sua Universidade de Verão, que decorreu em Faro na passada semana e trouxe à região um exemplo vindo de Itália, onde isto já acontece.
Priscila Soares e Nelson Dias, da associação In Loco, foram os convidados desta semana do programa radiofónico Impressões, dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. O programa pode ser ouvido na íntegra amanhã, em 102.7 FM ou no site da RUA.
Conseguir manter um abastecimento local, sem ferir o direito comunitário, parece ser um problema bicudo, mas uma experiência feita em Itália provou que não é bem assim. No fundo, basta alguma criatividade e uma boa capacidade de organização.
Consumo e produção de proximidade foi o tema do 3º dia da Universidade de Verão, um assunto que «é muito caro à In Loco», nomeadamente «criar circuitos curtos entre produtor e consumidor, sem intermediários». «O Projeto Prove é significativo nesse aspeto, mas quisemos ir mais longe e chamar à mesa um tema que já não é novo, mas que é preciso trabalhar sobre ele, que é o de criar circuitos curtos de produção/consumo entre quem produz e quem consome nas cantinas escolares, garantindo que a produção local é escoada para as cantinas», disse Nelson Dias.
A In Loco convidou a estra presentes no debate todas as autarquias algarvias. Compareceram «os presidentes da Câmara de Faro e Tavira, o vice-presidente da Câmara de São Brás de Alportel e o vereador da Câmara de Loulé».
«O debate foi muito interessante. Eles [os autarcas] tiveram a oportunidade de ouvir, antes da discussão do que se poderá fazer no Algarve, uma experiência italiana, que convidámos, que veio precisamente demonstrar como é que se conseguiram resolver alguns problemas que nós aqui enfrentamos. As realidades são distintas, mas há pontos onde se tocam», revelou Nelson Dias.
«Um problema é a questão legal da contratação pública. As autarquias têm de abrir um concurso público, nacional ou internacional, para contratar o serviço de abastecimento das cantinas. Outro problema é o facto de estarmos a falar de produção local, logo, em pequena escala. Ou seja, não tem dimensão para se apresentar sozinha a um concurso público ou de abastecer as cantinas escolares. A Itália mostrou-nos como isso é possível», revelou.
«Também se trata de pequenos agricultores, que se organizaram. Há um trabalho de organização para que, em conjunto, possam programar as suas plantações, de modo a que produzam o que é necessário para abastecer a cantina durante um ano. Porque não pode haver uma falha», explicou.
«Por outro lado, foi preciso preparar os concursos públicos, sem ferir o quadro normativo europeu, pois estamos a falar de regras de competitividade de um mercado aberto. E fez-se uma coisa muito simples. Não se fere a legislação comunitária, mas introduzem-se critérios que privilegiam as propostas que garantem a frescura dos alimentos», contou.
Desta forma, consegue-se dinamizar a economia local e ganhar ao nível da qualidade dos alimentos nas cantinas, ao mesmo tempo que se poupa o ambiente. O consumo do que é produzido localmente tem, como frisou Priscila Soares, uma dimensão «económica, ambiental e social».
Este foi apenas um dos assuntos em debate na 4ª edição da Universidade de Verão da In Loco. Nos próximos dias, o Sul Informação vai revelar mais sobre esta entrevista, onde foram abordadas todas essas temáticas.