Daniela Catraia é arquiteta de formação, mas, em vez de desenhar casas, ela usa a sua criatividade para criar a primeira marca de sapatos algarvia, que tem o seu próprio nome.
Até agora ainda só lançou duas coleções, a do Outono/Inverno 2015 e a de Primavera/Verão 2016, mas os seus sapatos, com uma linguagem conceptual e minimalista, num registo contemporâneo casual e desportivo, já desfilaram na Moda Lisboa, nos pés das manequins da marca portuguesa «SAYMYNAME».
Daniela Catraia é natural de Portimão e estudou Arquitetura na Universidade de Évora, mas desde sempre que a área da Moda a fascinou. No ano em que trabalhava na tese de mestrado, e perante aquilo que sabia serem «a falta de oportunidades na arquitetura», resolveu inscrever-se simultaneamente num curso atelier de design de calçado na Lisbon School of Design. Com os resultados obtidos após a formação, sentiu-se com a motivação necessária para arriscar e criou a sua própria marca.
A arquitetura continuou a ser uma inspiração e a marca “Daniela Catraia” acaba por ser uma conjugação de todas essas influências – design, arquitetura e moda – , através da exploração de novos materiais e formas de os coordenar, com soluções para criar um alto nível de conforto e estilo.
Nas suas coleções, ganham destaque as linhas fortes, onde a geometria e a rigidez dos cortes criam novas estruturas em plataformas e saltos altos, desenhados com ângulos inspirados na sua formação base de arquitetura. Os materiais tecnológicos contrastam com a nobreza e o detalhe dos materiais naturais, a pele de vaca e vitela, por vezes com padrões.
A designer de moda algarvia foi uma das convidadas da Beta Talk deste mês de Junho, na sua cidade natal de Portimão. E porque escolheu esta arquiteta tornar-se designer de sapatos? «A moda sempre foi uma área que me atraiu. E os sapatos, para grande parte das mulheres, são um objeto de desejo», explicou Daniela, arrancando um comentário bem disposto de um dos homens da assistência: «Ó se são!…»
Partilhando com a assistência a sua experiência de empreendedorismo, Daniela Catraia disse que «as coisas evoluíram de forma simples e intuitiva».
«Acabei o curso na Lisbon School of Design e fui para S.João da Madeira, que é um dos dois grandes centros em Portugal para calçado. Contactei com muitas fábricas, até encontrar aquela que achei que seria a que podia dar resposta ao que eu pretendia. A minha marca é associada a pequenas produções, é quase uma marca de autor, pelo que não poderia ser produzida numa fábrica voltada para grandes quantidades. Mas também não podia ser numa fábrica artesanal, que não soubesse trabalhar com os materiais tecnológicos que uso», explicou.
Tendo os seus sapatos um «look irreverente», qual é o público alvo da marca algarvia? «É a mulher madura, cosmopolita, que gosta de moda, valoriza os acessórios e as peças diferentes. É também a mulher que gosta de viajar, que frequenta os espaços onde a arquitetura e a moda se cruzam», acrescentou a designer de sapatos.
Mas, num universo em que há tantas e tão diversificadas marcas de calçado a surgir, como consegue a marca “Daniela Catraia” impor-se e sobreviver? «Faz sentido criar qualquer coisa quando temos um aspeto diferenciador. No caso dos meus sapatos, peguei numa peça de conforto, normalmente associada ao sapato da avozinha, e conciliei isso com um design irreverente e materiais diferentes».
Daniela admite que é preciso «educar o gosto do público, dar tempo para que as pessoas olhem para uma coisa diferente e a passem a utilizar». Também «não é fácil uma sapataria ou boutique apostar num sapato para o segmento médio/alto e que não é barato, de uma marca ainda pouco conhecida».
Mas o caminho faz-se, literalmente, caminhando. Por isso, da sua primeira coleção, Daniela Catraia vendeu 400 pares de sapatos, e muitas dessas primeiras vendas foram conseguidas indo, «com uma mala enorme cheia de sapatos, de porta em porta, a contactar com as lojas que achava que se enquadravam no espírito da marca».
Para a coleção atual, Primavera/Verão 2016, e depois das boas reações das lojas suas clientes, de várias referências na imprensa de moda e feminina e nos blogues especializados, «mantivemos as vendas, mas para menos lojas, que nos encomendaram mais pares».
Atualmente, os sapatos da marca algarvia «Daniela Catraia» são vendidos em dezena e meia de lojas de topo em Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria, Famalicão, Caldas da Rainha, Aveiro e Cascais. No Algarve, há duas lojas a vendê-los: a Catwalk, na Rua Vasco da Gama, em Faro, e a CL Sapataria, na Rua do Comércio, em Portimão.
Mas a marca “Daniela Catraia” tem também a sua loja online, onde atualmente até há saldos da coleção anterior a decorrer.
A designer, que mantém a sua divisão geográfica entre Portimão, onde vive e trabalha, e S. João da Madeira, onde está a fábrica que produz os seus sapatos e cujo trabalho faz questão de acompanhar de perto, já tem em produção a nova coleção, Outono/Inverno2016. Mas ainda este Verão haverá novidades, como revelou Daniela Catraia em primeira mão, na Beta Talk da passada quinta-feira: vai ser introduzida a marroquinaria, uma coleção de bolsas, como complemento aos sapatos.
E para o futuro? «Gostava de fazer disto o meu modo de vida e o meu negócio para a vida», confessou Daniela.
E quem sabe se as boas relações e a parceria que a “Daniela Catraia” estabeleceu com a portuguesa SAYMYNAME, cujas criações são vendidas no Japão, Coreia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Indonésia e são frequentemente publicadas nos media asiáticos, não poderá abrir, também para a marca algarvia, as portas dos mercados internacionais?