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Da identificação de uma lacuna no mercado de produção de ostra, por dois colegas do curso de Biologia Marinha da Universidade do Algarve, nasceu uma ideia. Dela, nasceu uma candidatura ao Ideias em Caixa do CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg.

E foi a vitória neste concurso de ideias de negócio que deu origem à startup Mirabilis – Aquacultura Sustentável, que está a desenvolver um projeto-piloto de produção de semente de ostra portuguesa, uma espécie muito apreciada, mas cuja produção é hoje em dia muito baixa.

Márcia Santos e Maurício Namora são os dois jovens empreendedores por detrás desta empresa e os proponentes da candidatura que ganhou o primeiro prémio no Ideias em Caixa de 2014. Desde então, amadureceram a ideia – então designada como projeto Angulata -, conseguiram uma parceria com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para desenvolver os testes necessários e já começam a pensar em dar um passo adiante, no sentido da produção de semente de ostra com fins comerciais.

Estiveram ambos à conversa com o Sul Informação e com a Rádio Universitária do Algarve Rua FM (102.7 FM), como convidados do programa Impressões, para dar a conhecer a sua experiência e ajudar o diretor do CRIA Hugo Barros a lançar nova edição do Ideias em Caixa, que já tem candidaturas abertas.

Quando ainda estavam a frequentar o curso de Biologia Marinha, Márcia e Maurício perceberam que, apesar de a ostra portuguesa ser muito apreciada dentro e fora de portas, quase não é produzida, apesar de ter sido em tempos predominante na produção nacional.

«Achamos que a nossa empresa vem colmatar uma falha muito grande no setor da ostricultura nacional, que está dependente de semente de ostra do mercado externo, já que não existem em Portugal maternidades. A maior parte da semente de ostra que é introduzida nos sistemas de cultivo vem do mercado francês. Também há uma pequena parte que vem de bancos naturais, mas eles também escasseiam», resumiu Maurício Namora.

No caso da ostra portuguesa, os bancos naturais que ainda existem «estão concentrados em apenas três sítios», o que torna «muito difícil aos produtores de ostra terem acesso a semente no mercado nacional, e ainda mais da variedade portuguesa».

Uma realidade que a Mirabilis pretende alterar, até porque a produção desta espécie foi predominante na década de 60 do século XX, altura em que se produziam a nível nacional «cerca de 9 mil toneladas de ostra portuguesa por ano», quando hoje em dia se resume «a cerca 100 toneladas», num universo de produção total deste bivalve que anda «na ordem das mil toneladas anuais», segundo Márcia Santos.

As vantagens de produzir a “nossa” ostra, em detrimento da ostra do pacífico, espécie dominante na ostricultura nacional, são várias. Desde logo gastronómicas, pois esta variedade é muito apreciada pelos consumidores. Mas também por questões ambientais e até de produção, pois este é um tipo de ostra perfeitamente adaptado ao nosso clima e às nossas águas.

«As diferenças, à vista, não existem. É muito difícil distinguir a olho nú entre diferentes variedades de ostra. No entanto, há diferenças em termos de sabor. Já foram feitos testes organoléticos pelo IPMA e os consumidores mostraram preferência pela ostra portuguesa. Mas aquilo que para nós é mais importante e interessante é que esta ostra tem 500 anos de adaptação às nossas águas e, por isso, é muito mais fácil de cultivar», disse Maurício Namora.

Com isto em mente, a dupla de empreendedores pôs mãos à obra e está a aperfeiçoar um método de produção de semente que lhes permita dar um passo em frente, em direção de uma maternidade de ostra comercial, que será única em Portugal. Mas não foi fácil chegar até aqui.

«Tem sido um percurso de muito trabalho e com muitas dificuldades. Uma das maiores foi encontrar um espaço adequado à produção em aquacultura. São muitas as incubadoras de empresas que estão a surgir, a nível nacional, mas poucas estão adaptadas a esta nossa realidade», revelou Márcia Santos.

O espaço necessário acabou por surgir, no âmbito de uma parceria desenvolvida pela jovem empresa com o IPMA, cujas instalações «já tinham as caraterísticas necessárias à instalação de uma aquicultura de água salgada».

«Já realizámos diversos ciclos de produção de semente de ostra portuguesa. O nosso objetivo, nesta fase piloto, tendo em conta que o protocolo de produção da semente já está bem estabelecido,  lá fora, é adaptá-lo à ostra portuguesa. Temos conseguido fazê-lo com sucesso», revelou a jovem bióloga marinha.

Neste momento, Maurício e Márcia estão a realizar «testes de crescimento de semente». «Esperamos, em breve, começar a fase de comercialização», revelaram. Até porque há um mercado entusiasmado com a ideia de poder contar com semente de ostra portuguesa.

«No ano passado, quando houve uma grande mortandade de ostra do pacífico, fomos contactados por muitos produtores que estavam à procura de outra solução, de outro produto que pudessem trabalhar. Ainda não se sabe bem o que causou a morte das ostras, em Alvor, mas também aqui na Ria Formosa. No entanto, a ostra portuguesa, com os seus 500 anos de adaptação, demonstrou uma maior resistência aos fatores externos que causaram esta mortandade», segundo Maurício Namora.

Pode ouvir a entrevista completa seguindo o link

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