Portugal foi o obreiro da primeira globalização e o Algarve foi a base dessa aventura expansionista portuguesa, iniciada no século XV e encabeçada pelo Infante D. Henrique.
É o legado deixado no Algarve pelo príncipe luso e principal impulsionador dos Descobrimentos que inspira a pré candidatura conjunta à integração na lista indicativa de Património Mundial da UNESCO, formalizada na quarta-feira pela Região de Turismo do Algarve (RTA), em parceria com oito municípios algarvios, a Direção Regional de Cultura e a Universidade do Algarve.
Esta pré candidatura, denominada «Lugares da Primeira Globalização», será avaliada até ao final do ano pela Comissão Nacional da UNESCO, que, desejavelmente, decidirá pela sua integração na Lista Indicativa de Bens Portugueses a Património Mundial da organização internacional até ao fim de 2016.
Esta candidatura pode ser vista como a versão “2.0” da proposta apresentada pelo Turismo do Algarve em 2002, relativa a Sagres, que acabou por não ser aprovada. A RTA, que na altura foi aconselhada a integrar o reconhecimento de Sagres numa candidatura mais abrangente (chegou a estar inserida na da Costa Vicentina), procurou parceiros e reformulou a proposta, dando-lhe uma abrangência bem maior.
Basta dizer que estão envolvidos metade dos municípios da região, nomeadamente Vila do Bispo, Lagos, Aljezur, Monchique, Portimão, Silves, Tavira e Castro Marim. Além disso, a candidatura conta com a parceria da Direção Regional de Cultura, que gere muito do património associado a esta «Primeira Globalização», e a Universidade do Algarve, onde se desenvolve muita investigação sobre a história do Algarve.
Além dos dez parceiros da região que assinaram uma carta conjunta de apoio da candidatura, na passada semana, a RTA está já a angariar apoios fora da região e do país. Um deles, está já garantido: a Cidade Velha de Cabo Verde.
E os promotores da candidatura não querem ficar por aqui, já que a ideia, segundo revelou ao Sul Informação o presidente da Região de Turismo do Algarve Desidério Silva, é «envolver outros parceiros, como Ceuta e Alcácer Céguer, em Marrocos, Arguim, na Mauritânia, e os arquipélagos atlânticos».
Desidério Silva salientou que esta candidatura «está muito ligada aos valores da tolerância» e que o seu grande objetivo é «divulgar este património, ligado ao Infante D. Henrique, promover a sua preservação e reforçar a colaboração entre os povos».
A colaboração, essa, começa em casa, daí o desafio lançado aos oito municípios envolvidos, todos eles «com uma forte ligação a D. Henrique». «Este é um sinal muito evidente de que é possível colocar vários parceiros a trabalhar em conjunto, o que não era muito habitual, no passado», considerou o presidente da RTA.
«Todos estes lugares tiveram uma forte ligação com os Descobrimentos e a presença do Infante está associada a todos eles. A candidatura debruça-se sobre as cerca de seis décadas do período Henriquino», que deu origem a época dourada de Portugal conhecida como Descobrimentos, salientou a diretora regional de Cultura Alexandra Gonçalves.
«A candidatura enquadra-se no critério de «Paisagem Cultural» (Associativa), integrando elementos patrimoniais, mas também a história associada aos lugares, reconhecendo o seu valor universal. O Algarve alberga vários locais, símbolos, mitos e personagens, que é fundamental salvaguardar na narrativa da História de Portugal e do Mundo. Estes “Lugares da Primeira Globalização”, que se prendem com o período de abertura da expansão marítima das rotas comerciais, estão na génese de um novo modo de conceção do mundo e de relações entre os povos, e detêm assim um valor universal a preservar», enquadrou a RTA, numa nota de imprensa.
Até ao final de 2015, as entidades promotoras irão proceder a uma apresentação oral de defesa da candidatura junto da Comissão Nacional da UNESCO, da qual se espera uma decisão final até ao término do próximo ano.
A RTA recordou que, em 2002, «a Comissão emitiu observações que inviabilizaram a candidatura» feita, centrada em Sagres, e «preconizou a integração numa candidatura mais ampla».
«Sagres manteve-se desde então integrado na candidatura da “Costa Sudoeste”, colocada na Lista indicativa de Bens Portugueses a Património Mundial da UNESCO. No entanto, a Região de Turismo do Algarve e a Direção Regional de Cultura do Algarve sempre mantiveram o interesse na elevação de Sagres e dos lugares associados aos Descobrimentos Henriquinos a Património Mundial, assumindo desta vez um carácter transnacional. Em Junho de 2014, foi reiniciado pelo Comité Nacional da UNESCO uma atualização das candidaturas, tendo sido retomado este processo, assim como o relativo à Costa Sudoeste, pelas entidades regionais da cultura e do turismo», enquadrou a RTA.