Marrocos oferece as condições para a criação de novos projetos de aquacultura e há investidores daquele país dispostos a apoiar iniciativas com boas perspetivas de futuro com o seu dinheiro. Em troca, a Agência Nacional para o Desenvolvimento da Aquacultura (ANDA) do Reino de Marrocos espera que Portugal, nomeadamente a Universidade do Algarve, os seus centros de investigação especializados e empresários portugueses, contribua com o seu know how para o sucesso dos projetos, para benefício de ambas as partes.
Uma delegação da ANDA está a visitar o Algarve, para conhecer melhor a investigação que por cá se faz e as empresas da região que dão cartas no setor da aquacultura. É a primeira vez que este organismo oficial marroquino visita Portugal, naquilo que se espera que seja «um primeiro passo de uma grande marcha» em conjunto.
O desejo de aproximação partiu do lado marroquino, com um forte impulso do proativo Cônsul de Marrocos no Algarve José Alberto Alegria e apoio da Embaixada daquele país em Portugal. E a Universidade do Algarve não enjeitou esta possibilidade de colaboração, até porque esta pode ser uma excelente oportunidade para a instituição e para as empresas portuguesas, nomeadamente as algarvias.
«Marrocos está a desenvolver planos importantes, do ponto de vista económico, para desenvolver a aquacultura e está à procura de know how e de países onde haja pessoas mais evoluída em termos de investigação e empresarial. Há boas condições em Marrocos para a aquacultura e eles vieram à procura de parceiros que lhes permitam potenciar essas condições», resumiu o diretor executivo do Centro de Ciências do Mar do Algarve Tiago Magalhães, à margem da sessão.
Este centro de investigação associado à Universidade do Algarve e o CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg foram convidados a estar na primeira linha, nesta aproximação da ANDA ao que se faz em Portugal, no campo da aquacultura. Ambas as estruturas tiveram a oportunidade de se apresentar à delegação marroquina, tendo em vista colaborações futuras.
Para Tiago Magalhães, não há dúvidas: o Algarve poderá ganhar muito com parcerias com o Reino de Marrocos, neste setor.
«Marrocos é um país rico, com muita gente disposta a investir e que tem as condições necessárias para o desenvolvimento de projetos de aquacultura. É uma excelente oportunidade. Diria mesmo que é daquelas oportunidades em que Portugal pode ter grandes mais valias, em relação a outros países que não têm a mesma proximidade com Marrocos», acredita o diretor do CCMar.
É que, como salientou o representante da Embaixada do Reino de Marrocos em Portugal, «a capital que fica a menor distância de Lisboa é Rabat». É certo que há mar pelo meio, mas, tratando-se de aquacultura, até interessa que assim seja.
Da parte do país do Norte de África, há abertura total para a cooperação com as entidades portuguesas, «seja numa perspetiva Público-Público, Público-Privado ou Privado-Privado», assegurou a diretora da ANDA Maarouf Majida.
E a delegação desta agência veio com a lição bem estudada, demonstrando saber, de antemão, o que por cá se faz e as mais valias que isso poderá trazer para o setor, no seu país.
«Já temos tido contactos com outros países, mas o que tem sido feito em Portugal interessa-nos, tendo em conta que, apesar de não haver uma produção em massa, há experiência com espécies muito interessantes e produtos de qualidade, com valor acrescido», disse.
Entre elas estarão o pregado, o linguado, os moluscos (ostra, amêijoa e mexilhão), mas também o robalo e a dourada.
Segundo Maarouf Majida, a aposta de Marrocos na aquacultura tem-se intensificado e tornou-se «prioritária», nos últimos anos, para dar resposta ao problema da escassez dos recursos marinhos em ambiente natural. Hoje em dia, são produzidas naquele país cerca de 700 toneladas/ano de pescado em aquacultura, mas a ideia é chegar «às 200 mil toneladas/ano». Portugal tem um produção anual de cerca de 10 mil toneladas.
Esta meta ambiciosa não será atingida facilmente, até pelo baixo desenvolvimento do setor naquele país, daí que Marrocos procure parceiros internacionais. «Neste primeiro contacto com Portugal, pretendemos perceber os avanços que estão a ser feitos aqui no setor da aquacultura, com a perspetiva de virmos a trabalhar juntos no futuro», disse a diretora da ANDA.
«Haverá oportunidade para as empresas portuguesas de trabalharem em Marrocos. Estamos a preparar o terreno para que haja condições para trabalhar e há investidores interessados em apostar nesta área», assegurou Maarouf Majida, que lembrou que os marroquinos são, à semelhança dos portugueses, grandes consumidores de peixe, o que significa que há um grande potencial de negócio para as empresas lusas, naquele mercado.