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Uma neurotoxina associada a doenças neurodegenerativas foi detetada, pela primeira vez, em bivalves da Ria Formosa e da Ria de Aveiro, por cientistas da Universidade de Estocolmo e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), anunciou esta última entidade.

Uma descoberta que não é, ainda assim, razão para alarme, não havendo «risco imediato a saúde pública». «Se assim fosse, a apanha seria imediatamente interdita», referiu ao Sul Informação a responsável pelo Grupo de Bivalves do IPMA Helena Silva.

Até agora, não foram reportados «quaisquer casos de complicações associados a esta neurotoxina», agora detetada. Ainda assim, salienta, o Ministério da Saúde «não é obrigado a reportar eventuais intoxicações» resultantes do consumo de bivalves, embora o faça em muitas ocasiões.

Devido ao facto de a neurotoxina BMAA (β-N- metilamino-L-alanina) não estar «regulamentada nas diretivas nacionais ou europeias», o grupo responsável pelo estudo aconselhou a continuidade dos trabalhos de investigação «de modo a avaliar o risco de consumo de bivalves contaminados com BMAA, a variabilidade sazonal de BMAA, as espécies produtoras desta neurotoxina e perceber a dinâmica de acumulação/eliminação de BMAA nos moluscos bivalves».

A neurotoxina BMAA não é razão para interditar a apanha de bivalves, mas esta está proibida em toda a costa oceânica de Portugal Continental e em muitas zonas interiores.

No Algarve, mais precisamente na Ria Formosa, em Faro-Olhão e o no Rio Arade, isto deve-se «à presença de uma toxina diarreica». «No Norte do país, deverão ser interditadas algumas áreas brevemente devido à toxina amnésica», disse a investigadora do IPMA.

As boas notícias para (alguns) mariscadores e viveiristas algarvios e para os apreciadores destas iguarias é que a apanha de bivalves continua a ser permitida na Ria Formosa, entre Tavira e Vila Real de Santo António, e na Ria de Alvor.

A causa do aumento recente das toxinas em bivalves, que levam a que a apanha na costa oceânica esteja há algum tempo, terá a ver com «a subida súbita da temperatura», que faz proliferar as micro-algas que transmitem estas toxinas aos bivalves, que as consomem. «Os bivalves levam algum tempo a eliminá-las, mas eventualmente ficam limpos», disse Helena Silva.

A neurotoxina em causa, associada a doenças como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ALS), é tradicionalmente detetada em ambientes de água doce onde proliferam cianobactérias produtoras de BMAA.

No estudo efetuado e publicado na revista científica «Aquatic Toxicology», é apontada «a presença, em níveis significativos, de BMAA em bivalves da Ria de Aveiro e Ria Formosa».

«Tanto a Ria de Aveiro como a Ria Formosa são importantes zonas de produção de bivalves marinhos (mexilhão, berbigão, amêijoas e ostras), quer para o mercado interno, quer para o mercado externo, sendo o IPMA a entidade nacional responsável pela monitorização de biotoxinas marinhas, nomeadamente toxinas lipofílicas, amnésicas e paralisantes», acrescenta o IPMA, na informação que partilhou no seu site sobre o estudo.

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