É já uma carreira longa, esta – a de uma empresa que agora começa. Aos dez anos, Patrício Faísca pedia uma câmara emprestada a um amigo para realizar uma primeira curta metragem inspirada no filme “The Blair Witch Project”. A partir daí, acompanhado de um grupo de amigos, nunca mais parou.
E, entretanto, a coisa ficou séria. É que com os filmes mais recentes vieram o reconhecimento e as distinções: “Comando”, uma curta metragem de Patrício Faísca e Sonat Duyar que contou com um investimento de apenas 27 euros, somou prémios a nível nacional – quer de produção, melhor filme ou melhor realização – para além de exibições em Londres ou Nova Iorque.
O último passo é tão somente este: com o apoio de um investidor privado, o grupo de amigos – a maior parte dos quais trabalhavam como funcionários num supermercado em Almancil – e que, entre férias e folgas, faziam filmes, profissionalizou-se: a New Light Pictures é agora também “Lda” e é uma empresa oficializada desde o início de 2012.
O contributo decisivo, deu-o Pedro Marcos, empresário experiente em várias áreas de negócio. Depois de tomar contacto com a curta “Comando”, via Facebook, quis contratar um serviço audiovisual à New Light Pictures e agendou uma reunião com a equipa. Mas o que sairia da reunião acabaria por ser muito mais do que apenas um serviço audiovisual. “Quando conheci pessoalmente o Sonat [Duyar] e o Patrício [Faísca] apercebi-me de que existia muito talento que não estava a ser aproveitado da melhor forma, por falta de recursos. Propus-me então a investir no talento”, diz Pedro Marcos, agora também diretor financeiro da empresa.
Para o diretor de produção Patrício Faísca, de 25 anos, co-realizador de “Comando” e cineasta autodidata desde os 10, “isto é um sonho tornado realidade”. “Há quinze anos que luto por ter a minha própria produtora, mas estava preso num ciclo vicioso em que a falta de dinheiro me impedia de sair do mesmo sítio. Não podia comprar o equipamento que precisava e não podia dedicar o meu tempo àquilo que mais gosto, porque precisava de trabalhar 40 horas por semana para pagar as contas”. Agora, Patrício Faísca despediu-se do seu trabalho no supermercado no início de Fevereiro, para se dedicar em exclusivo à sua recém criada empresa.
Apesar da crise e do risco de investir numa equipa jovem, Pedro Marcos diz que isso não abala a confiança no futuro da empresa. “Lido com pessoas todos os dias e tenho vários colaboradores, vi nesta equipa pessoas altamente competentes e motivadas, sempre acreditei que são as pessoas por detrás de um projeto os responsáveis por levarem ou não esse projeto a bom porto”.
O início
À partida, tudo levava a crer que o contacto de Pedro Marcos era apenas mais um. Até porque depois de o humorista e radialista Nuno Markl ter manifestado o seu apoio ao projeto no seu Facebook, eles se sucederam em catadupa. O diretor criativo, Sonat Duyar, diz que o contacto feito por aquele que viria a ser o investidor na agora empresa “em nada se destacava do tipo de mensagens” que andavam “a receber em massa”.
“[Naquela altura], a maior parte dos contactos eram felicitações e amáveis palavras de apreço, mas alguns deles foram mais além. Recebemos pedidos de orçamento para trabalhos, propostas de parceria e muitos outros pedidos. O primeiro contacto do investidor chegou por mensagem no Facebook e em nada se destacava de todas as outras. Várias pessoas na altura usaram a palavra investimento nas suas mensagens, por isso a mensagem do Pedro [Marcos] não foi especial de todo”, conta Sonat Duyar.
A diferença veio depois. “Foi já na reunião que percebemos que a abordagem dele era diferente. Como empresário que é, o seu principal foco de interesse era avaliar a viabilidade financeira de tornar o nosso projeto numa empresa. A pergunta com que nos deixou foi: “vocês claramente têm talento e competência, o que é que é preciso fazer para os rentabilizar?”.
O Futuro
A resposta veio a seguir. Após a reunião, surgiu o plano de uma empresa de serviços na área do audiovisual com o objetivo de se rentabilizar a curto prazo. Obstáculos? A necessidade de investimento direto em equipamento para garantir qualidade profissional. Foi aí que entrou Pedro Marcos.
Já a conjuntura económica negativa, diz Pedro Marcos, não assusta. “A crise é, de facto, real e existe uma grande contração em praticamente todos os sectores do mercado”, diz. O argumento para ultrapassar a conjuntura não podia ser mais simples: qualidade, aponta Sonat Duyar. “A crise é definitivamente inviável para empresas ineficientes que ofereçam serviços medíocres ou para os quais não haja mercado suficiente, uma categoria na qual gostamos de acreditar que não nos incluímos. O audiovisual é uma área com bastante procura, o problema é que o produto em vídeo é inacessível a muitos potenciais clientes devido ao seu custo, mas como somos uma empresa pequena e jovem, temos pouca estrutura, o que nos permite ser eficientes e competitivos”, explica Sonat.
“O produto é de qualidade incrível, por isso dificilmente passará desapercebido”, acrescentando que a empresa se vai focar “a curto prazo em trabalhos comerciais para marcas, agências de publicidade e produtoras, desenvolvendo a longo prazo a paixão pelo cinema”, reforça Pedro Marcos.
Essa paixão, para já, tem duas curtas metragens em curso: “Agente K17” e “Último Recurso”. Mas a prioridade para já passa criar alicerces para sustentar essa paixão. Segundo Pedro Marcos, a recém criada empresa já está “a trabalhar com alguns clientes e a estabelecer parcerias com outras empresas, procurando também envolver-se em co-produções com produtoras já estabelecidas”.
Também Sonat diz que a empresa está “aberta a qualquer tipo de desafio”. “De casamentos a festas, videoclips a conteúdos para TV, reportagens a documentários, passando por trabalhos de estúdio, composição de música e trabalhos de edição ou de efeitos visuais; como dizemos no nosso website, se pode ser classificado como audiovisual, pode contar connosco. E se o cliente for algarvio, fazemos um preço especial”, diz Sonat Duyar.