A possível exploração de petróleo e gás natural na costa algarvia está a preocupar a PALP – Plataforma Algarve Livre de Petróleo -, que acaba de ser criada. O grupo composto por associações ambientalistas, cidadãos e entidades da região do Algarve queixa-se de falta de informação sobre os riscos ambientais e económicos para a região e pede que seja feito e divulgado um estudo de impacto ambiental.
Neste momento, fazem parte da PALP a Quercus, a Almargem, a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, a Glocal Faro, o Movimento Algarve Livre de Petróleo (MALP), a New Loops, e a Peace and Art Society.
A Repsol, em parceria com a Partex, depois do contrato firmado com o Estado Português em 2011, vai começar este ano a perfuração e exploração de gás natural na região.
Gil Matos, da Associação Almargem, explicou ao Sul Informação que «os contratos entre o Governo e as empresas petrolíferas passaram “ao lado” da população. A prospeção já está a ser feita. Já foi feita exploração sísmica 2D e 3D e, este ano, já vai existir perfuração. Será ainda perfuração de prospeção, mas é perfuração».
Por isso, «queremos que seja feito um estudo de impacto ambiental, para que sejam conhecidos os riscos da exploração petrolífera para o Algarve: o que acontecerá em caso de acidente, quais os possíveis prejuízos para o Turismo… Não há informação do que poderá acontecer se uma situação dessas suceder».
Segundo Gil Matos, mesmo para a fase de prospeção, «normalmente é sempre feito algum estudo, ou alguma coisa» mas, neste caso, «se foi feito, não sabemos de nada e nada foi divulgado». Isto apesar da perfuração estar prevista já para este ano.
«Queremos fazer debates com a população, reunir com as autarquias e com o Governo para que haja tomadas de posição», acrescenta Gil Matos.
Para já, foram solicitadas reuniões com os executivos municipais para que a PALP possa expor as suas preocupações.
A nova plataforma vai pedir aos presidentes de todas as Câmaras Municipais da região «esclarecimentos sobre todas as decisões já tomadas no âmbito da exploração de hidrocarbonetos no Algarve, sobre as condições estipuladas no contrato de exploração entre o Estado e as empresas petrolíferas e sobre o posicionamento político dos responsáveis dos municípios algarvios sobre a exploração de petróleo e gás natural no Algarve».
Para Gil Matos, «não é só a questão ambiental e económica que nos move, é também saber o que o nosso país ganhará com isto e se estes riscos valem a pena. Normalmente, pensa-se que exploração de petróleo é lucrativa, mas nem sempre é assim. Não nos parece que seja assim tão benéfico, porque não se sabe as contrapartidas envolvidas».
A Plataforma Algarve Livre de Petróleo vê «com muita apreensão o futuro da região, tendo em conta os possíveis impactos ambientais que uma medida destas pode ter, a incompatibilidade entre uma região de turismo que se quer de excelência e a exploração de hidrocarbonetos, as perfurações de alto risco numa zona de alta perigosidade sísmica, o impacto na economia da região com esta mudança clara de paradigma de desenvolvimento, as eventuais perdas de recursos que um derrame acidental de hidrocarbonetos traria para uma atividade igualmente importante no Algarve como a pesca e finalmente, o impacto na qualidade de vida das pessoas que aqui residem».
O resultado da primeira prospeção no Algarve será conhecido este ano, provavelmente no quarto trimestre, altura em que o consórcio liderado pela petrolífera espanhola Repsol – de que faz parte a Partex, com 10% – deverá avançar para a realização do primeiro furo no offshore marítimo, a mais de 30 quilómetros da costa algarvia.
A área específica de perfuração está identificada na malha de dados recolhidos pelo levantamento da sondagem marítima – a designada “sísmica 3D” – que facultou a leitura geológica dos solos costeiros a nível tridimensional, depois de ter sido feita a primeira leitura de dados a 2D.
Em Fevereiro, em declarações ao «Expresso», António Costa Silva, presidente da Partex, tinha revelado que a prospeção de gás natural na costa algarvia poderia «constituir uma boa surpresa para Portugal», uma vez que «a zona com potencial de reservas de gás natural parece ter quantidades superiores ao volume inicialmente previsto, correspondendo a uma reserva de gás natural que poderá ser três a quatro vezes maior que as reservas do campo Poseidon, no golfo de Cádis, a cerca de 30 quilómetros de Huelva, onde foi explorado gás natural durante muitos anos até essas reservas terem sido esgotadas».
A Quercus e a Almargem, em ações individuais, já tinham exigido em julho e em agosto do ano passado, respetivamente, Estudos de Impacto Ambiental em relação à exploração de hidrocarbonetos no Algarve, mas sem sucesso.