O preço da sardinha pode disparar este verão, para valores acima dos 15 euros por quilo, devido às restrições impostas pelo Governo para a captura deste peixe. Quem o diz são as organizações de produtores algarvias Barlapescas e Olhãopesca, que temem também o aumento do desemprego e a insustentabilidade do setor na região.
O Despacho nº 2179-A/2015, de 27 de Fevereiro, decretou um limite de captura de sardinha a nível nacional de 4 mil toneladas entre 1 de março e 31 de maio, dividindo esta quota pelas várias organizações de produtores nacionais. No Algarve, a Barlapescas ficou limitada à captura de 226 toneladas durante este período e a Olhãopesca a 193 toneladas, quotas consideradas muito baixas pelas organizações.
Mário Galhardo, presidente da Barlapescas, em declarações ao Sul Informação, afirma que estas limitações à pesca da sardinha «trazem consequências muito graves. Não sei se a pesca da sardinha no Algarve vai sobreviver. Os armadores estão seis meses parados e não há nenhuma empresa no país que trabalhe apenas seis meses, tendo encargos de pessoal, de mão de obra… O pessoal continua a andar à pesca porque não tem mais nada para fazer. Se houvesse construção, não havia um único homem no mar neste momento».
As limitações para a captura de sardinha baseiam-se na escassez deste recurso, mas Mário Galhardo diz que há mais sardinha no mar do que as limitações fazem crer. «Não sei como vamos sobreviver com esta quota que nos foi atribuída. Temos 226 toneladas para pescar de 1 de março a 31 de maio, mas, se não tivéssemos feito contenção, no mês de março, tínhamos logo esgotado a quota».
«Não há falta como eles dizem, este ano, com o tempo que estivemos parados e com a desova, devia haver sardinha a dar à costa!», acrescenta.
Segundo Mário Galhardo, «a falta da sardinha não é no Sul, é no Norte, por isso é que eles vêm ao Sul pescar. Deixaram de ter sardinha, apanharam desenfreadamente. Por isso, é que os preços médios do Algarve dispararam nos últimos anos, porque os armadores do Algarve estão em consonância: quando impúnhamos uma regra no porto de Portimão, falávamos com Olhão e funcionávamos da mesma forma. Sabíamos que não valia a pena apanhar peixe para jogar fora, porque não tínhamos fábricas para escoar. Se houvesse grande quantidade, o preço baixava, e optámos por maior qualidade, em vez de maior quantidade».
Toda esta situação vai refletir-se no preço final da sardinha e até os Santos Populares podem estar em risco. «Se isto continua assim, este ano vamos comprar sardinhas ao preço do robalo! Se se confirmar que não há sardinha no Norte, como não tem havido nos últimos anos, e se esta quota se mantiver no verão, aí a sardinha vai disparar! No ano passado, houve sardinhas a 10 euros em lota, se calhar vou vender sardinha a 15, 20 ou 25 euros, até tenho medo de lançar um número para o ar… Se calhar deixa de haver sardinhas para os Santos Populares», alerta Mário Galhardo.
Miguel Cardoso, presidente da Olhãopesca, concorda com Mário Galhardo, uma vez que «com uma procura superior à oferta, preço tem tendência a subir».
O responsável da organização de produtores do Sotavento, assume um problema no recurso, mas diz que o setor «chegou a um ponto em que a possibilidade de pesca atribuída a Portugal não é coerente com as necessidades do setor da pesca, da conserva e da congelação… Não conseguimos fazer mais. Daqui a bocado, temos recursos, mas não temos barcos, nem tripulações, porque as pessoas vão-se embora. Isto traz consequências muito graves para nós».
Miguel Cardoso explica que o facto de os armadores portugueses não estarem a pescar sardinha pode levar os comerciantes a optar por outros mercados. «Não estamos a capturar e os comerciantes vão buscar a outro lado, nomeadamente a Espanha».
Apesar de existir um acordo entre Portugal e Espanha, que define que apenas 33% da sardinha ibérica é destinada a armadores espanhóis, «o sistema de venda em Espanha não é tão controlado, e há muito mercado paralelo», além de que o Governo espanhol definiu, em janeiro deste ano, um limite de captura mensal de mil toneladas, até final do ano (10 mil toneladas/ano), uma situação que pode levar, segundo as organizações de produtores portuguesas, a alterar este acordo.
Para Miguel Cardoso, «o grande problema é a possibilidade de pesca precaucionária de mais, que está a pôr em causa o setor e a indústria envolvente. Não aguentamos outro ano como o anterior, muitos barcos vão entrar em falência porque não aguentam. O que pedimos à ministra é que reveja esta situação e divida as possibilidades de pesca para Portugal, de forma mais equitativa e a nível nacional. O pior é que isto é tão pouco que é indivisível…».
Ao todo, entre associados da Barlapescas e da Olhãopesca, há cerca de 50 barcos no Algarve afetados pela situação, num total de 500 tripulantes, um número que pode baixar muito durante este ano: «face aos custos de produção, os barcos vão ser obrigados a parar e a despedir tripulantes e isto vai refletir-se no desemprego», conclui Miguel Cardoso.