Os desembarques de sardinha nos portos portugueses têm diminuído nos últimos dois anos, devido às restrições à sua pesca e à baixa abundância da espécie, indicam dados revelados hoje pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Este organismo salienta que a sardinha, que se distribui nas águas Atlânticas da Península Ibérica, é a espécie alvo das pescarias de cerco de Portugal e Espanha. Nas últimas três décadas, o stock ibérico de sardinha sofreu «importantes variações de abundância relacionadas com a quantidade de juvenis, acrescentados à população em cada ano (recrutamento)» (ver figura 1).
As variações do recrutamento dependem, por sua vez, de efeitos ambientais no potencial reprodutivo do stock e na sobrevivência dos primeiros estádios de vida.
Ora, sublinha o IPMA, desde 2007, o stock de sardinha tem decrescido continuamente, o que levou à implementação de fortes restrições à pesca em Portugal, períodos longos de paragem da atividade e limites de captura. Estas restrições e a baixa abundância refletiram-se numa quebra acentuada dos desembarques portugueses nos últimos dois anos (ver figura 2).
A persistência de recrutamentos fracos desde 2005 tem afetado a população (e a pescaria) não só nas zonas tradicionais de distribuição dos indivíduos jovens (nomeadamente a costa noroeste da Península), como também nas zonas para onde estes migram (norte da Galiza e Oeste do Cantábrico).
A quantidade de fêmeas maiores e mais fecundas, e por isso o potencial reprodutivo do stock, tem sido gradualmente reduzido.
A pescaria passou a capturar principalmente indivíduos jovens, ficando totalmente dependente da quantidade que é acrescentada ao stock em cada ano.
Algumas das causas plausíveis para esta situação estão a ser investigadas pelo IPMA: os efeitos da temperatura da água e da produtividade na fecundidade das fêmeas e na sobrevivência e crescimento dos estados iniciais do desenvolvimento (ovos, larvas , etc) e o impacto da predação por outras espécies, como o carapau e a cavala, cuja abundância tem aumentado nas águas portuguesas.
No final de Junho, decorreu a reunião anual do Grupo de Trabalho do ICES que realiza a avaliação do stock ibérico de sardinha (Working Group on horse mackerel, anchovy and sardine, WGHANSA).
Os dados mais recentes sobre a pescaria da sardinha mostram que a captura conjunta de Portugal e Espanha diminuiu 17% de 2012 para 2013.
No entanto, as capturas aumentaram consideravelmente na região sul do stock (Algarve e Cádis), refletindo um ligeiro aumento da abundância do recurso nesta região.
O decréscimo global dos desembarques reflete a redução drástica da abundância de sardinha na região norte do stock (Cantábrico, Galiza e norte de Portugal), evidenciada pelos dados das últimas campanhas de investigação.
O IPMA revela que «a biomassa do stock está a um nível histórico baixo e a taxa de exploração atingiu máximos em 2010-2011. O recrutamento de 2013, embora baixo, foi apesar de tudo suficiente para não deixar decrescer mais o stock; a biomassa aumentou ligeiramente e a taxa de exploração diminuiu de 2012 para 2013».
A abundância do stock de sardinha é «muito inferior à média histórica, como resultado de sucessivos recrutamentos baixos». Além disso, salienta o IPMA, «há indícios que as capturas foram excessivas em alguns anos recentes para o nível de abundância do stock».
No entanto, «o decréscimo das capturas portuguesas nos últimos dois anos tem contribuído para suster a diminuição do stock e equilibrar o seu potencial reprodutivo».