O tráfego na Via do Infante caiu quase para metade, no primeiro mês em que a estrada que liga a Ponte Internacional do Guadiana a Lagos passou a ser paga. Um relatório do Instituto das Infraestruturas Rodoviárias (Inir) indica que a queda homóloga de tráfego na autoestrada algarvia ultrapassou os 48 por cento.
No relatório também é possível ver que havia já uma tendência de descida no volume de tráfego nos meses de outubro e novembro de 2011 em relação aos mesmos meses de 2010, mas em percentagens sempre abaixo dos 20 por cento e sempre na ordem dos dois mil carros diários a menos. Em dezembro, passaram em média menos 6111 viaturas na A22.
Este é um cenário que não é completamente inesperado, visto que dados revelados pela Estradas de Portugal há cerca de dois meses já apontavam neste sentido, mas os novos dados vêm oficializar a situação. Também servem de bandeira aos que há muito criticam a medida de cobrar portagem nesta ex-SCUT.
O elemento da Comissão de Utentes da Via do Infante João Vasconcelos considerou, em declarações ao Sul Informação, que estes dados «já se esperavam» e que «só vêm confirmar o que sempre dissemos». «E há que ter em conta que hoje ainda há isenções, que acabarão em junho», lembrou.
«Por outro lado, tem havido muitos acidentes na EN 125. Dados revelados recentemente apontavam para o dobro dos acidentes e dos feridos graves. O número de mortos felizmente não aumentou, mas também têm existido vítimas mortais», disse.
A introdução de portagens na Via do Infante foi, desta forma «muito prejudicial e uma catástrofe para o Algarve». O setor que mais tem sofrido, defendeu João Vasconcelos, é o da hotelaria já que, considera, «os espanhóis fizeram greve ao Algarve», devido à cobrança de portagens nesta ex-SCUT.
Uma ideia reforçada pelo presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) Elidérico Viegas, que disse ao nosso jornal que «a quebra no mercado espanhol atingiu os 17 por cento em janeiro e fevereiro».
Este responsável refere-se à procura de turistas vindos do país vizinho, que nos últimos anos «estava a crescer de forma muito sustentada e interessante». Para Elidérico Viegas, em causa nem está tanto o valor cobrado, mas «a confusão que é para pagar», o que leva muitos «a desistir».
«Estes números até são, de certa forma, lisonjeiros. Nos períodos de maior tráfego é que se vai perceber a verdadeira quebra. Para mais com as isenções a acabar em junho», acredita.
«Os responsáveis têm de ter a humildade, quando tomam medidas manifestamente erradas, de fazer um acto de contrição e revogá-las. A introdução de portagens na Via do Infante é uma medida errada e contranatura», afirmou Elidérico Viegas.
Para o representante da AHETA esta medida já trouxe «prejuízos demasiado elevados à economia da região e do país» e acusa mesmo a introdução e portagens de ser «antieconómica».
O relatório do Inir revela ainda que a maior quebra na utilização das ex-SCUT, a A22, A23, A24 e A25 que passaram a ser pagas em dezembro, foi mesmo no Algarve.
João Vasconcelos lembrou ainda que entidades espanholas já levaram o caso da introdução de portagens nas ex-SCUT à Comissão Europeia e que isso ainda poderá levar o Governo a voltar atrás. E é exatamente esse o apelo que deixa ao executivo, o de «reconsiderar».
(Notícia atualizada às 13h02 com declarações de Elidérico Viegas)