Monchique pode vir a ter uma unidade móvel de abate até ao final do ano. Este era um desejo antigo dos produtores de enchidos do concelho que, atualmente, estão obrigados a fazer pelo menos 400 quilómetros por semana, para produzirem as tradicionais chouriças, morcelas ou presuntos.
O presidente da Câmara de Monchique Rui André adiantou ao Sul Informação que o matadouro móvel foi incluído no Plano de Ação de Desenvolvimento de Recursos Endógenos (PADRE) da AMAL. «A submissão da candidatura está por dias, estamos só à espera que abra o prazo. Foi feita uma referenciação dos investimentos e nós incluímos esse», revelou.
Até que a unidade entre em funcionamento, ainda falta que a candidatura seja aprovada e que o veículo e o atrelado sejam adquiridos e montados, mas, «se tudo correr bem, ainda este ano podemos ter a unidade de abate a funcionar», disse Rui André.
Esta unidade móvel de abate de animais terá um custo de cerca de 400 mil euros, mas o retorno para a economia local vai superar os custos. Os produtores de enchidos, que também têm as suas próprias explorações pecuárias, «atualmente têm muitas despesas de deslocação para os matadouros. Levam os animais vivos, num camião, e trazem de volta em camiões frigoríficos. Com esta solução da unidade móvel, os próprios animais têm um stress menor e há ganhos na recolha do sangue para a produção dos enchidos. Até ao nível da finalização, em vez do esfolamento praticado nos matadouros normais, podem ser feito o chamuscado do porco, que dá um sabor diferente», explicou o autarca, em declarações ao nosso jornal.
No entanto, a unidade móvel não é só um benefício para os produtores de enchidos. «Há também zonas de caça no concelho, e esta unidade pode funcionar para certificar o abate dos animais nas zonas de caça. Isto leva a que os produtos da caça de Monchique possam passar a ser vendidos nos restaurantes do concelho».
Também os pequenos produtores agropecuários vão ter benefícios, segundo o autarca: «um dia por semana, a unidade estará disponível para que qualquer pessoa possa levar lá os seus animais, para que estes sejam abatidos de acordo com as regras, e isso permite que sejam comercializados, por exemplo, em restaurantes. Num âmbito maior, o que se pretende é que haja mais ocupação do território e isto ganha-se se as pessoas tiverem possibilidade de escoar os animais que produzem».
Rui André quer fazer deste um exemplo a ser aplicado ao resto da região. «Queremos fomentar um circuito curto entre produtores e a venda ao público. Esta é a chave para a economia do concelho. Mas queremos também fazer aqui um projeto piloto para ampliar a toda a região. Se os produtos produzidos a Norte da Via do Infante passarem para Sul, para a hotelaria e restaurantes, teremos no Algarve uma das zonas mais sustentáveis da Europa. Se fizermos isto, torna-se mais apetecível vir para o interior para viver e produzir».
A unidade móvel terá a capacidade de abate semanal de 40 bovinos, 160 suínos e 320 pequenos ruminantes, sendo que «atualmente, cada uma das quatro fábricas de enchidos de Monchique abate 20 animais por semana. Isto quer dizer que é possível levar o camião um dia por semana a cada uma das unidades de produção e deixar um dia aberto a toda a população».
A possibilidade de abater os animais em Monchique é vista com muito bons olhos pelos produtores. Evangelista Oliveira, proprietário de uma das fábricas de enchidos tradicionais do concelho, diz que «atualmente, temos de ir a um matadouro em Odemira e esta inovação seria um grande benefício. O alívio dos custos era o maior de todos. Vamos duas vezes por semana ao matadouro, vai um camião com animais vivos e, um dia ou dois depois, vamos buscar a carne num outro camião frigorífico. É um custo muito grande».
Por semana, são cerca de 400 quilómetros em viagens que, além dos custos monetários, “custam” tempo. «Podíamos investir o dinheiro e o tempo noutras coisas, como na expansão da fábrica, ou investir mais na distribuição».
Por isso, Evangelista Oliveira deixa o desabafo: «Deus queira! O presidente sempre teve isso na ideia e espero que possa passar à prática, mas se ele diz que faz, vai fazer!».