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O Sul Informação dá aqui início à publicação de textos de reputados autores, nas áreas da Ciência e da Tecnologia, no âmbito do projeto «Ciência e Tecnologia na Imprensa Regional Portuguesa», do qual somos parceiros. E abrimos logo com um dos mais conhecidos cientistas portugueses, o geólogo António Galopim de Carvalho, mais conhecido pelo grande público como «o pai dos dinossauros»:

Das Rochas Sedimentares (1)

Entre as classificações das rochas sedimentares, propostas a partir do terceiro quartel Século XIX (classificação de A. Lasaulx. 1875), umas privilegiam a descrição das características individuais observáveis e, neste caso, dizem-se descritivas, outras têm por base a origem das rochas, dizendo-se, então, genéticas.

Um dos aspetos descritivos mais importantes é o que atende à natureza dos minerais constituintes das rochas, distribuídos entre: herdados ou detríticos, transformados ou não durante o processo sedimentogenético; neoformados ou singenéticos; gerados no decurso da diagénese (autigénicos, na expressão de muitos autores) quer precoce quer tardia e, neste caso, referida como metassomatose.

Todavia, certos aspetos genéticos, seguramente inferidos, valorizam a classificação. É nessa medida que algumas classificações são simultaneamente descritivas e genéticas.

A sistemática das rochas sedimentares que, depois de décadas de investigação e de ensino, permite uma visão de conjunto destas componentes essenciais da crosta terrestre e, ao mesmo tempo, elucida sobre as suas origem e natureza (dado que assenta, simultaneamente, em bases genéticas e composicionais), considera sete conjuntos ou classes, cujas designações referem o componente predominante, a saber:

rochas terrígenas, também consideradas alogénicas ou alóctones, na medida em que os seus componentes são oriundos de outros locais e, portanto, sofreram transporte até ao local de deposição; rochas carbonatadas, incluindo calcários e dolomitos, entre os quais uns de origem orgânica, outros resultantes de processo químicos; rochas siliciosas (ou silicitos), com exclusão das de origem detrítica; incluem apenas as biogénicas e as quimiogénicas; rochas ferríferas, no geral, bioquimiogénicas; rochas fosfatadas (ou fosforitos), ricas em fosfato de cálcio; rochas salinas (ou evaporitos), resultantes da precipitação de sais (sulfatos, cloretos, entre outros) por evaporação das águas que os contêm em solução; rochas carbonosas (ou caustobiólitos), incluindo carvões, petróleos, betumes e gás natural.

Um tal arrumo é consequência lógica do próprio conceito de rocha sedimentar, fundamentado em critérios genéticos e composicionais (químicos e/ou mineralógicos) que se têm revelado de utilização cómoda e eficaz.

Consegue-se, assim, uma razoável classificação das rochas sedimentares, não obstante se saiba que esta via encerra dificuldades e, às vezes, contradições. Este critério, porém, é o que melhor satisfaz os propósitos pedagógicos, a nível geral, neste capítulo das ciências da Terra, pois não perde de vista o encadeamento próprio dos processos naturais e certas afinidades entre alguns tipos de rochas, no que toca a sua utilização.

Tais dificuldades ou fragilidades podem ser ultrapassadas, explicando-as a cada passo. Por exemplo, não obstante haver argilitos de neoformação e, portanto, quimiogénicos, a sua inclusão nas rochas terrígenas resulta do facto de, na natureza, as argilas serem, na grande maioria, materiais saídos da meteorização e transportados como detritos para os locais onde se depositam, o que constitui um argumento favorável à reunião das rochas terrígenas e argilosas numa única classe.

Outros autores, porém, consideram as rochas argilosas como uma classe à parte, e fazem-no com base em argumentos aceitáveis, como sejam: a supremacia destas rochas, em termos de: abundância, relativamente às restantes rochas sedimentares; a grande diferença de comportamento físico e químico entre as partículas de argila e a maioria das classes de detritos (areias e fenoclastos) e consequentes diferenças de propriedades das respetivas rochas (porosidade, permeabilidade, plasticidade, etc.); a sua importância como matéria-prima.

Em termos percentuais, as rochas argilosas, nas quais se incluem os xistos argilosos, representam cerca de 65% da totalidade das rochas sedimentares da crosta terrestre. As rochas areníticas correspondem a 20 a 15%, e as carbonatadas, na grande maioria calcários e dolomitos, a 10 a 15%. As restantes classes (salinas, ferríferas, fosfatadas e carbonosas) representam, no conjunto, um valor inferior a 5%.

(Continua)

 

Texto de: António Galopim de Carvalho, Geólogo

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

 

 

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