David Andrade tem 16 anos e treina de forma «constante e intensiva» para representar Portugal – e o Algarve – em provas internacionais e conta no currículo com várias medalhas. Este podia ser o currículo de um atleta de alta competição, mas não é. É o currículo de um jovem albufeirense, com gosto pelos números, que conquistou estes prémios em Olímpiadas de Matemática e de Química. A última, de bronze, foi ganha, esta semana, em Porto Rico, na XXX edição das Olimpíadas Ibero-Americanas de Matemática.
Segundo contou ao Sul Informação, estes resultados «são fruto do esforço, da dedicação e do gosto pela matemática».
Em relação à medalha conquistada na passada sexta-feira, depois de uma participação na mesma competição, no ano passado, sem prémio, David Andrade diz que só pensou que a podia ganhar, este ano, depois de concluir as provas.
«Nunca se tem uma ideia clara se podemos ganhar uma medalha antes de resolver a prova, depois é que ficamos com uma ideia. As medalhas não são ganhas de acordo com a pontuação absoluta, mas sim relativa. É uma proporção dos participantes que recebe a medalha, tudo depende da pontuação obtida por todos», explicou.
As olimpíadas são compostas por duas provas, com a duração de 4h30, normalmente, em dois dias consecutivos. Cada uma das provas tem três problemas para resolução.
A preparação de uma competição internacional deste género é feita maioritariamente em casa, até porque os problemas apresentados não se resolvem apenas com o que se aprende nas aulas.
«A aprendizagem da matemática olímpica faz-se maioritariamente em casa, porque está fora dos programas das escolas. Só se treina resolvendo muitos problemas», disse David Andrade.
A seleção a que estes alunos são sujeitos para poder representar Portugal é em tudo semelhante à forma como se selecionam desportistas para provas internacionais. «Primeiro há uma seleção nas escolas, depois há as olimpíadas nacionais e os melhores são escolhidos para o Projeto Delfos, na Universidade de Coimbra, onde uma vez por mês, durante um fim de semana, há aulas e testes de seleção, que nos apuram para estas competições».
O paralelismo entre esta competição de conhecimento matemático e as competições desportivas não é descartado pelo aluno da Escola Secundária de Albufeira: «há uma equivalência muito grande. É preciso muito treino. Se ficamos algum tempo sem treinar, ficamos “enferrujados”. Há aqui todos os pormenores de um atleta olímpico, há coisas que se processam nos mesmos moldes. Também somos influenciados pela diferença horária, pela comida. Todo o ambiente influencia a prova. Corre-se o risco ainda de poder chegar ao dia e bloquear, até pela sala onde fazemos a prova, há muitos fatores…».
Com uma mente brilhante, reconhecida internacionalmente, para a Matemática, o futuro de David Andrade vai ter números? Talvez, mas a decisão não é assim tão linear.
«Não estou certo, não sei o que seguir. Tenho vários gostos, não é só a matemática. Também já participei em olimpíadas de química. É uma dúvida muito grande. Em Portugal, nos cursos, é difícil reunir vários gostos. Eu também gosto de línguas… pode ser que, no momento, me decida por algo nessa área mas, em princípio, vou para a área de ciências», revelou.
Para além do bronze de David Andrade, Portugal conquistou mais três medalhas nestas Olimpíadas da Matemática Ibero-Americanas.
Francisco Andrade (Matosinhos), com pontuação máxima, conquistou o ouro, Nuno Santos (Porto) ficou-se pela prata e Alberto Pacheco (Gondomar), tal como David Andrade, trouxe de Porto Rico uma medalha de bronze.